Joel S. Alves* – Que a lubrificação do maquinário agrícola é importante todos sabem. A questão é se é realizada adequadamente. A experiência prática me mostra que, na maioria dos casos, os serviços não são executados como deveriam. Talvez algum dia seja dada a devida atenção aos serviços de manutenção, nem que seja em nome dos custos financeiros.
O fato é que máquinas e implementos agrícolas são constituídos por diversos conjuntos mecânicos que requerem permanente lubrificação para funcionar corretamente e ter o desempenho esperado e, acima de tudo, garantir uma vida útil prolongada.
Qual a contribuição da lubrificação para esse desempenho? A função básica da lubrificação é a redução de atrito entre duas superfícies dotadas de movimento. Para tal, introduz-se entre ambas uma camada de uma substância lubrificante, formando uma fina película de óleo ou graxa.
As principais funções da lubrificação:
* Redução do atrito e do desgaste
* Dissipação do calor
* Prolongamento da vida útil do equipamento
* Prevenção contra oxidação
* Proteção contra elementos nocivos
Existem dois tipos básicos de lubrificantes: por óleo e por graxa. Em algumas aplicações especiais emprega-se lubrificante sólido, como o disulfeto de molibdênio, ou ainda grafite.
Lubrificação com graxa
Os lubrificantes graxos são relativamente fáceis de manusear e requerem somente os mais simples dos dispositivos de vedação. Por essas razões, a graxa é o lubrificante mais amplamente utilizado nos rolamentos.
As graxas lubrificantes são compostas de uma base de óleo mineral ou de uma base de óleo sintético. A essas bases são acrescentados espessantes e outros aditivos. As propriedades de todas as graxas lubrificantes são determinadas, principalmente, pelo tipo de óleo-base utilizado, e pela combinação dos espessantes e dos vários aditivos.
Espessantes: são combinados com óleos-base para manter o estado semi-sólido das graxas. Os espessantes são formados por dois tipos de bases: sabão metálico e livre de sabão. Os espessantes à base de sabão metálico incluem: lítio, sódio, cálcio etc. Os espessantes com base livre de sabão são divididos em dois grupos: inorgânicos (sílica gel, bentonite etc.) e orgânicos (poliuréia, fluorcarbono etc.).
As características especiais de uma graxa, tais como campo limite de temperatura, estabilidade mecânica, resistência à água etc., dependem em grande parte do tipo de espessante utilizado. Por exemplo, uma graxa com base de sódio é geralmente de baixa resistência a água, enquanto graxas que utilizam bentonite (silicato de alumínio), poliuréia e outros sabões não metálicos como espessantes têm geralmente propriedades superiores em condições de alta temperatura.
Aditivos: com o objetivo de melhorar as propriedades e a eficiência das graxas, são acrescentados vários tipos de aditivos. Por exemplo: existem antioxidantes, aditivos de alta pressão (aditivos EP), inibidores da ferrugem e anticorrosivos. Em rolamentos submetidos a cargas pesadas e/ou cargas de choque deve-se utilizar graxas que contenham aditivos para alta pressão. Para altas temperaturas de funcionamento, ou em aplicações onde a graxa não pode ser trocada durante longos períodos de tempo, é melhor utilizar uma graxa com um estabilizante antioxidante.
Consistência: a consistência de uma graxa indica sua rigidez e liquidez, sendo expressa por um índice numérico. Os valores NLGI para o índice indicam a suavidade relativa da graxa: quanto maior o número mais espessa a graxa. A consistência de uma graxa é determinada pela quantidade de espessantes utilizados e pela viscosidade do óleo-base. Para a lubrificação dos rolamentos são utilizadas graxas com números de consistência NLGI 1, 2 e 3.
Mistura das graxas
Como regra, não se deve misturar graxas com diferentes óleos-base, nem graxas com espessantes diferentes. Adicionalmente, as graxas de diferentes marcas não devem ser misturadas por causa dos diferentes aditivos que elas contêm.
Entretanto, se for o caso de misturar graxas de diferentes fontes que, ao menos, sejam escolhidas aquelas que contenham o mesmo óleo-base e os mesmos espessantes.
De qualquer forma, considere que mesmo quando se misturam graxas com o mesmo óleo-base e espessantes, a qualidade do produto pode ser prejudicada devido à diferença dos aditivos. Mudanças de consistência e outras qualidades devem ser verificadas antes da aplicação.
Graxa sólida
A “graxa sólida” é um lubrificante composto basicamente por graxa lubrificante e um superpolímero de polietileno. A graxa sólida tem a mesma viscosidade de uma graxa em temperatura normal, mas, com a aplicação de um processo especial de tratamento térmico, ela se solidifica, retendo uma grande parcela do lubrificante dentro do rolamento. O resultado é que a graxa não vaza facilmente do rolamento, mesmo quando o dispositivo está sendo submetido a fortes vibrações ou forças centrífugas.
Lubrificação com óleo
A lubrificação com óleo é conveniente em aplicações nas quais se requer que o calor gerado, ou o calor proveniente de outras fontes, seja extraído e dissipado para fora. Os principais métodos de lubrificação com óleo são:
Banho de óleo: é o mais comumente utilizado e empregado em aplicações com baixas e moderadas rotações. Em aplicações com eixos horizontais, o nível de óleo deverá ser mantido aproximadamente no centro do corpo rolante mais baixo, quando em repouso. Em eixos verticais com baixas rotações o nível deverá ficar entre 50% e 80% dos corpos a serem lubrificados.
Pulverização: neste caso, um impulsionador ou dispositivo semelhante montado sobre o eixo recolhe o óleo e faz a pulverização. O método pode ser utilizado em rotações consideravelmente altas.
Gotejamento: o óleo é coletado acima e permitido o gotejamento para dentro de um alojamento onde é vaporizado
ao entrar em contato com os corpos rolantes.
Circulação: utilizado em aplicações para resfriamento dos componentes ou para sistemas automáticos de lubrificação onde o suprimento de óleo é localizado centralmente. Uma das vantagens deste método é que dispositivos de resfriamento e filtros adotados para manter a pureza do óleo podem ser instalados dentro do sistema.
Neblina de óleo: utilizando ar comprimido, o óleo de lubrificação é atomizado antes de entrar nos espaços a serem lubrificados. Em função da baixa resistência do lubrificante, este método é apropriado para aplicações com altas rotações.
Jato de óleo: este método lubrifica, por meio da injeção sob pressão do óleo lubrificante, diretamente o local desejado.
É um sistema confiável para altas rotações, altas temperaturas ou outras condições severas. Utilizado principalmente para a lubrificação de rolamentos de motores a jato e turbinas a
gás e outros equipamentos de altas rotações.
Execução adequada
A execução do procedimento de lubrificação é onde reside o diferencial para que o maquinário esteja sempre pronto e disponível para o trabalho. Sabemos que muitas vezes no dia a dia do campo nem sempre isso é possível, mas é importante destacar que, não raras vezes, as consequências pela não execução acabam sendo as piores possíveis.
Hoje, o mundo agrário dispõe dos recursos que a tecnologia oferece de melhor em sistema de lubrificação de máquinas. Claro, falamos de máquinas atuais, onde há sistemas de lubrificação automáticos. Também já é possível encontrar implementos agrícolas com mancais e eixo com lubrificação permanente, através de lubrificantes sólidos ou buchas especiais de material sinterizado. São realidades que já estão presentes em muitas máquinas e melhorias que contribuem para o desempenho e eficácia nos serviços.
Observamos uma evolução desde a época (ainda presente em algumas propriedades) do caminhão comboio (da lubrificação e abastecimento), aqui no sul conhecido como caminhão da “melosa” e o pessoal dos serviços de “meloso”, pois normalmente apresentavam-se bastante sujos de óleo e graxa. Um passado não muito distante e que se faz presente em alguns casos, principalmente em lavouras de arroz irrigado.
O custo da lubrificação automática ou centralizada ainda pesa bastante, e muitos produtores não conseguem absorver tais custos, mas é uma tendência cada vez mais nos equipamentos de larga produção, pois aumenta o tempo de disponibilidade sem a necessidade de paradas para lubrificar.
Outra vantagem é a lubrificação de todos os pontos, mesmo os de difícil acesso, e na quantidade correta, evitando desperdícios. Claro que tal sistema também necessita de manutenção e equipes de operação e manutenção preparadas para essa realidade. Mais uma vez, destacamos a importância da inspeção diária bem acurada feita pelo operador, pois se as conexões do sistema automático não estiverem corretas e sem vazamentos a lubrificação poderá falhar naquele ponto e as consequências serão graves.
Inovações são bem-vindas e o maquinário agrícola está sendo contemplado, ainda que isso represente um custo adicional de aquisição, o qual, certamente, será diluído ao longo da vida útil do equipamento. Tais inovações serão tão perenes quanto a simplicidade que possam oferecer nos procedimentos para aplicação. Para finalizar, uma frase do filósofo Martin Heidegger: “O simples guarda o enigma do que permanece e do que é grande”.
Joel S. Alves é instrutor de operação e manutenção de máquinas e implementos agrícolas e rodoviários.