A Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha e Irrigação comunicou a morte, na madrugada de hoje, de Herbert Arnold Bartz, pioneiro do Sistema Plantio Direto na América Latina e um dos fundadores da entidade. Bartz estava internado na Santa Casa de Arapongas, cidade vizinha de Rolândia, onde ele morava, no Norte do Paraná. Faleceu em consequência de complicações de uma pneumonia, às vésperas de completar 84 anos.
Nascido em Rio do Sul (SC), em 14 de fevereiro de 1937, filho de imigrantes germânicos, ele passou boa parte da infância e da juventude na Alemanha, em meio à Segunda Guerra Mundial. Enfrentou a fome e sobreviveu ao terrível bombardeio da cidade de Dresden, onde estava em fevereiro de 1945.
Quando voltou para o Brasil, em 1960, estabeleceu-se em Rolândia, na Fazenda Rhenânia, ao lado do pai, Arnold, e dos irmãos, onde tornou-se agricultor. Na época, Bartz se aborrecia com as dificuldades que a vida de homem do campo impunha, como as doenças dos animais, os fracassos das lavouras, o clima indomável, as chuvas torrenciais, a erosão, a terra e a fertilidade indo para os rios.
Em 1972, com uma plantadora Allis-Chalmers que ele mesmo importou, fez o primeiro plantio em larga escala sem revolver o solo da América Latina. Os vizinhos começaram a dizer que ele havia enlouquecido.
O fato era tão inédito que a Polícia Federal apreendeu toda a produção de soja resultante daquela iniciativa.
Mas Herbert Bartz não era de esmorecer. Pelo contrário. Passou a difundir o Sistema Plantio Direto para quem quisesse aprender, de graça, sem cobrar nada de ninguém.
Nos agricultores Franke Dijkstra e Manoel Henrique Pereira, o Nonô, encontrou os companheiros perfeitos para uma grande jornada educacional pelo interior do Paraná e de outros estados do Brasil. Pelo exemplo, convenceram muitos outros, ainda na década de 1970, quando surgiram os “Clubes da Minhoca.”
Bartz proferiu inúmeras palestras no Brasil e em países vizinhos, sempre acompanhado de seu projetor de slides, mostrando com imagens os benefícios de conservar o solo.
Em certa ocasião, diante da incredulidade de debatedores, que insistiam o Sistema Plantio Direto não permitia a descompactação do solo e enfatizavam que era preciso sim usar arados e grades, saiu-se com esta: “Eu sei resolver o problema da compactação quando ela atinge o solo, mas não sei o que fazer quando atinge o cérebro humano.”
Assim seguiu, encontrando na ciência e na academia grandes aliados quando estudos consistentes começaram a ser feitos e publicados. Mesmo sem ter formação em curso superior, deu inúmeras aulas em cursos de Agronomia, sobretudo na Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde o filho dele, Johann estudou e se formou, tornando-se engenheiro agrônomo e agricultor.
A filha Marie também estudou na mesma instituição, formando-se em Biologia e tornando-se uma das mais destacadas pesquisadoras do mundo em minhocas. Herdou do pai o amor pelo solo.
Casado com dona Luiza, em 1989, Bartz havia perdido o mais velho dos filhos, Wieland, que morreu aos 12 anos. O intenso trabalho nas lavouras foi o remédio para vencer aquela dor.
Em 1992, depois de espalharem pelo País inúmeros “Clubes Amigos da Terra”, os sucessores dos “Clubes da Minhoca”, Bartz, Dijkstra e Pereira fundaram a Federação.
Em 2018, com idealização de Johann e Marie, foi escrito, pelo jornalista Wilhan Santin, o livro “O Brasil Possível: a biografia de Herbert Bartz”, que conta toda a saga desse agricultor. Na obra, ele eternizou a frase “a natureza não aceita propinas.”