A Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS) realizou no último dia 8 de junho webinar para dirigentes e executivos das cooperativas associadas. O tema foi a projeção para os mercados da soja e do milho com o analista de Safras & Mercado, Paulo Molinari.
Na abertura, o presidente da FecoAgro/RS, Paulo Pires, salientou que os produtores estão realizando o plantio do trigo, mas já de olho no mercado de milho. “Para o momento, o Rio Grande do Sul está plantando uma safra de trigo com duplo propósito também para a nutrição animal, mas de olho na próxima safra de milho. Estamos olhando muito firme para esta safra de milho que começa em agosto em regiões mais quentes e pensando forte na questão da comercialização”, destacou.
O especialista apresentou no início do webinar os motivos que causam o atual cenário das commodities agrícolas. A pandemia que ainda persiste e o câmbio no Brasil, além das influências da safra norte-americana que vem mexendo com a Bolsa de Chicago, são alguns dos fatores que estão pesando no mercado neste momento. “É um ano bom de preços para o produtor, mas ao mesmo tempo difícil e complicado. Eu diria que as mudanças que estamos tendo até radicais em relação às expectativas tem muito a ver com este ano. E o fato é que todos os indicadores econômicos estão sendo influenciados e o agro também está sendo influenciado”, resumiu.
Sobre o milho, Molinari salientou que no Brasil há uma quebra em todo o país e que a produção da segunda safra já está determinada, sendo que apenas no Centro Norte e no Oeste de Mato Grosso, regiões com pivô em Goiás, Oeste do Paraná e no Paraguai a produção está dentro da expectativa e sem redução, sendo que em alguns pontos a quebra pode chegar de 30% a 40%. “Inclusive o Paraguai deverá ser fornecedor de milho neste segundo semestre e certamente será”, projetou.
O analista de Safras & Mercado também lembrou da influência da produção norte-americana, que está enfrentando problemas com o clima, com regiões com umidade do solo abaixo do normal. “Isso significa que a safra americana vai quebrar? Não, mas precisa chover de forma continuada. Se não ocorrer isso nesta parte dos Estados Unidos, deveremos ter problemas e veremos estresse na Bolsa de Chicago, com muita alta e baixa no mesmo dia. O mercado está bastante volátil”, observou.
A China também está aumentando as compras de milho no mercado internacional, de acordo com o especialista, com a exportação dos Estados Unidos batendo recordes. “A China nunca importou milho a não ser de forma marginal e de repente vira a maior compradora de milho, com cerca de 30 milhões de toneladas dos Estados Unidos. Se ela continuar comprando desse jeito, os Estados Unidos vão continuar exportando desse jeito e o estoque continuará baixando. O resumo do mercado de milho é este, tem a ver com a China”, ponderou.
Na soja, Molinari também destacou as primeiras projeções de produção americana, que deve girar em cerca de 120 milhões de toneladas dependendo do clima, mas que o cenário até setembro deverá continuar igual. “Já no Brasil, no ano que vem, plantaremos soja em todos os lugares. Se com R$ 80,00 a saca já fizemos isto, com R$ 160,00 será muito mais. Quem começa a pensar na soja deve entender que o estoque americano é baixo e precisa de uma safra recorde. Até agosto esse movimento em Chicago deve continuar volátil. Vem uma safra cheia americana que não traz a certeza que o preço caia muito, mas teremos uma acomodação com a colheita de lá e depois o mundo ficará de olho no Brasil onde estaremos plantando uma safra muito alta”, explicou.
Para Molinari, este fator deve afetar os prêmios da soja que no primeiro semestre do ano que vem ainda continuarão positivos, mas se vier uma safra cheia junto com uma boa expectativa nos Estados Unidos, estes prêmios ficarão negativos na sequência. “Quem puder comece a travar prêmio de soja pois em 2021, sem soja nos Estados Unidos, os prêmios serão negativos. Então porque em 2022, com uma super safra sul americana, eles não seriam negativos?”, questiona.
Finalizando, o especialista afirmou que a China continuará com demanda elevada, importando altos volumes de soja. “Nós vivemos de China, quanto mais ela comprar, mais continuaremos vendendo. Vai ser muito importante para o início de 2022 o nosso ritmo inicial de plantio. Se conseguirmos em setembro e outubro plantar soja cedo e ela começar a aparecer em janeiro, teremos farelo e óleo e o mercado se acomodará mais cedo”, concluiu.