A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) promoveu, na quarta (4), uma conversa ao vivo pelas redes sociais para discutir o reuso de água no setor agropecuário como alternativa à escassez hídrica.
O debate foi conduzido pelo presidente da Comissão Nacional de Irrigação da CNA, Eduardo Veras, e contou com a participação do coordenador do Grupo de Trabalho sobre Reuso do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), Jefferson Oliveira, e do pesquisador de Irrigação da Embrapa Hortaliças, Marcos Brandão Braga.
O reuso de água é o aproveitamento do recurso previamente utilizado, uma ou mais vezes, para suprir a necessidade de outros usos. Ao reduzir o lançamento de esgotos nos corpos hídricos, o reuso de água não traz apenas benefícios quantitativos, mas também qualitativos, principalmente para as águas das bacias hidrográficas.
Na abertura do encontro virtual, Eduardo Veras destacou que o maior desafio da humanidade é garantir a segurança alimentar e hídrica do mundo com sustentabilidade ambiental. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2050, a população mundial deve chegar a 10,6 bilhões de pessoas e a demanda por alimentos deve aumentar em 70%.
“Uma das formas de atender a essa expectativa é através da tecnologia de irrigação, que apresenta um crescimento vertical, ou seja, não há necessidade de abrir novas áreas para produzir alimentos irrigados”, disse Veras.
Para o presidente da Comissão Nacional de Irrigação da CNA, o uso e a conservação de recursos hídricos são temas chaves para o desenvolvimento do país. “Temos de encontrar mecanismos para incorporar a utilização da água de reuso na irrigação”.
O coordenador do Grupo de Trabalho sobre Reuso do CNRH, Jefferson Oliveira, afirmou que existem poucos projetos de reuso da água no país. “A capacidade instalada para tratar é de 2 metros cúbicos por segundo, sendo que o potencial de projetos em até 10 anos é de 10 metros cúbicos por segundo. Logo, temos alto potencial, mas poucos projetos implementados”.
Segundo Oliveira, a disponibilidade de água em quantidade e qualidade não atende a necessidade ou indica comprometimento. “Para atender as demandas precisamos de conservação de água e solo, uso racional e eficiente da água e apoio a adoção de fontes alternativas”, disse.
O especialista informou ainda que existem bacias hidrográficas brasileiras com alto potencial de reutilização para irrigação. “Algumas bacias apresentam alta demanda para irrigação, mas com baixa cobertura de tratamento de esgoto”.
Em sua fala, o pesquisador da Embrapa Hortaliças, Marcos Brandão Braga, destacou as principais vantagens do reuso da água, como a redução da poluição hídrica nos mananciais, o estímulo ao uso racional de águas de boa qualidade, o aumento da produtividade agrícola e o controle dos processos de desertificação por meio da irrigação e fertilização de cinturões verdes.
De acordo com Braga, o Brasil é um dos países mais ricos em recursos hídricos superficiais, porém existem alguns gargalos, como escassez hídrica em algumas regiões, deficiências de infraestrutura hídrica para atendimento ao uso múltiplo e a necessidade de investimentos para ampliação da oferta de água nos principais aglomerados urbanos.
“A regulamentação do reuso de água no Brasil ainda é incipiente. É necessário adequar a legislação brasileira à realidade para que contemple o uso de água residual no meio rural, principalmente para irrigação, além de disseminar informação sobre esse reuso e desenvolver tecnologias compatíveis com as nossas condições técnicas, culturais e socioeconômicas”, afirmou o pesquisador.
Segundo dados de 2017, da Agência Nacional de Águas (ANA), sobre o saneamento no Brasil, 55% da população é atendida por sistema (43% rede coletora e estação de tratamento de esgotos) e 12% é atendida por solução individual (fossa séptica). Os números revelam ainda que 18% dos esgotos são coletados e não são tratados.