por André Ito* – O agronegócio brasileiro é um setor espetacular, não só pelo que já produz, mas por todo o seu potencial de crescimento, talvez único no mundo. Em termos gerais está entre os quatro maiores produtores do planeta e é o terceiro maior exportador. Em alguns, segmentos, porém, nós lideramos como no caso da carne bovina, em que o Brasil é o maior exportador, com 23% de participação no mercado mundial. O país também é líder na produção de café, açúcar, laranja e suco de laranja. É também o quarto maior produtor de grãos (soja, milho, ervilha, feijão, grão de bico etc).
Não é por acaso que o agronegócio sozinho representa em torno de 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. E o governo, junto com produtores, trabalha para que alcancemos a liderança absoluta em praticamente todos esses segmentos. A meta do Ministério da Agricultura é que até 2030, um terço dos produtos agrícolas consumidos no mundo tenham origem brasileira.
Meta possível de ser alcançada já que, sem necessidade de novos desmatamentos, possuímos cerca de 152,5 milhões de hectares disponíveis para a agricultura, equivalente a 17,9% do território nacional. Deste total, utilizamos apenas 65,9 milhões de hectares, de acordo com a Embrapa – números de 2016. Observe que, mesmo usando menos da metade das terras disponíveis, estamos entre os cinco maiores. Com estratégia e boa vontade, chegaremos ao topo em pouco tempo.
Mas para o agro crescer da forma projetada serão necessários bilhões em investimentos, principalmente em logística, talvez o maior gargalo da economia nacional. E é aí que entra o Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais). Criado em 2021 ele possibilita a captação de recursos para investimentos em diversas áreas do agronegócio.
Importância da logística
A logística é uma área essencial porque o setor rural trabalha com produtos perecíveis. Então, há o tempo certo para colher o que é vegetal e abater o que é animal. Um tempo máximo entre o armazenamento e a entrega para o cliente. Sem contar que alguns produtos exigem veículos de transporte refrigerados para a carga não se deteriorar.
Podemos falar da qualidade das estradas de rodagem e de outros modais como ferrovia e hidrovia. Mas esses são projetos que dependem muito da regulação governamental. Na outra ponta há a necessidade de construção de mais galpões de armazenamento, de investimento em máquinas e em tecnologia para aumentar a produtividade e em pesquisa e desenvolvimento.
Para os especialistas, a capacidade de armazenamento ideal gira em torno de 20% acima da produção agrícola. Mas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento, no Brasil essa capacidade é cerca de 27% menor. Junta-se a esse problema outros como a importação de fertilizantes, que deixa os produtores reféns do câmbio e das políticas de outros países, as sementes são caras, assim como os defensivos. E com pouco espaço para armazenamento, muitos agricultores são obrigados a vender assim que fazem a colheita, justamente quando a oferta é maior e os preços menores.
Agro atinge recorde histórico de empregos com carteira assinada
Como se vê, quando falamos de agronegócio até naquilo que parece ruim há oportunidades de bonança. O Fiagro pode ser uma ferramenta de extrema importância para financiar a construção dessa infraestrutura logística paralela ao sistema de transporte. Parte dessas deficiências como a falta de silos e galpões e de maquinário mais moderno também decorre da incapacidade de obtenção de crédito através dos meios tradicionais como bancos e programas do governo.
Há muito a se fazer, porém os recursos são escassos. Os Fiagros são capazes de cobrir esse gap existente entre a necessidade dos produtores rurais e a capacidade de emprestar do sistema financeiro tradicional. O país vive um momento de crise, com altíssimo número de inadimplentes e juros altos, o que faz com que os bancos exijam mais dos tomadores de empréstimos. É compreensível, mas o agronegócio não pode parar. Nem é justo que os produtores dependam sempre dos mesmos canais para obterem recursos.
O Fiagro registrou crescimento de 544% em pouco mais de um ano em seu patrimônio líquido, saltando de R$ 1,6 bilhão no final de 2021 para R$ 10,3 bilhões no final de 2022. Em 2021 o agro tinha necessidade de crédito da ordem de R$ 1 trilhão, mas o Plano Safra só dispunha de R$ 300 bilhões. Novato no mercado, hoje o Fiagro representa uma parcela muito pequena da demanda por crédito. Mas se continuar a crescer exponencialmente não vai demorar muito para os fundos disporem de patrimônio grande o bastante para quase zerar essa diferença.