Especialistas que estarão presentes no XV Encontro Técnico Algodão, da Fundação MT, de 28 a 30 de agosto, em Cuiabá, afirmam que boa parte das lavouras do Estado vão alcançar mais de 300 arrobas por hectare
A safra de algodão 2022/2023 no Brasil tem apresentado resultados promissores nos principais estados produtores. Diferente do ciclo passado, quando problemas climáticos prejudicaram o desenvolvimento vegetativo e a formação de capulhos e resultaram em produtividades abaixo da média.
Segundo estimativas da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o país deve colher três milhões de toneladas de pluma, acréscimo de 18% em relação a 2021/22 e considerado um patamar histórico.
O safra do algodão atual ocupa 1,67 milhão de hectares, o que coloca o Brasil entre os quatro maiores produtores mundiais, atrás de China, Índia e Estados Unidos. Mato Grosso, com 1,2 milhão, é o maior produtor nacional e a retrospectiva da safra 22/23 no Estado, com seus desafios e aprendizados, será um dos temas do XV Encontro Técnico Algodão, de 28 a 30 de agosto, em Cuiabá. Realizado pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), o painel vai debater o que aconteceu em cada região produtora de MT na manhã do dia 29 de agosto.
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Márcio Souza, coordenador de Projetos e Difusão de Tecnologias do Imamt – Instituto Mato-grossense do Algodão, moderador da retrospectiva, destaca que no Estado o plantio de algodão sofreu em média dez dias de atraso. A semeadura aconteceu entre o final de janeiro e 10 de fevereiro e preocupou os produtores que temiam que faltasse chuva no mês de maio, trazendo efeitos negativos para a produção como na safra passada. No entanto, houve bom volume de chuvas, que chegaram até junho na maioria das regiões.
O cenário de precipitações estende o ciclo da cultura no campo, mas, por outro lado, ajuda a garantir bom potencial produtivo e qualidade de fibra. Esta é a expectativa de entidades e cotonicultores até o momento, com cerca de 26% da área colhida.
“Acreditamos em recorde de produção nas lavouras da BR-163. Sapezal e Campo Novo do Parecis vão produzir muito bem, assim como o Sul do Estado, e Vale do Araguaia ficará dentro da média. No ano passado se falava em 235 arrobas por hectare em caroço, mas esse ano esperamos produtividade média de 300@/ha, com regiões passando disso. Será um dos melhores anos historicamente em MT”, indica o coordenador do Imamt.
Desafios
Apesar do otimismo trazido pela boa condição climática, doenças e pragas exigiram atenção dos produtores de algodão também nesta safra. O alto volume de chuvas até o mês de março e a frequência de precipitações até abril formou um ambiente de favorabilidade para a Mancha alvo (Corynespora cassiicola), principalmente, além de Mancha da ramulária (Ramulariopsis spp.) e Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum).
“Dos primeiros 50 dias até 110 dias, a pressão maior foi de Mancha alvo, causando severa desfolha das plantas e, em casos mais graves, levou ao abortamento das maçãs. Em seguida, a partir de 120 dias, com ambiente mais seco, a incidência dessa doença reduziu consideravelmente e a Ramulária ganhou importância”, destaca João Paulo Ascari, fitopatologista e pesquisador da Fundação MT.
O especialista explica ainda que os problemas com Mofo-branco também ocorreram durante a fase reprodutiva da cultura, muito em função da maior umidade presente. No entanto, a maior incidência de estruturas com podridão foi em regiões mais altas, acima de 500 metros de altitude.
Com relação às pragas, a incidência do Bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) foi maior em lavouras do Sul de Mato Grosso, de acordo com o coordenador do Imamt. “Para um ou outro produtor causou problema de produção, mas quem realizou o manejo de controle de forma mais adequada, respeitando as recomendações preconizadas pela pesquisa, obteve sucesso”. Ele enfatiza que para a próxima safra a espécie precisa ser considerada como preocupação, mas “não que esteja fora de controle, é uma questão de manejo correto de produtos em algumas áreas”.
Por outro lado, Ácaro-rajado (Tetranychus urticae), segundo Souza, está presente em todas as regiões e demanda atenção máxima para a prevenção da sua ocorrência e rotação de produtos disponíveis para controle. “Outra problemática que tem crescido no algodoeiro são as plantas daninhas, sendo o Capim-pé-de-galinha em todas as regiões, a Vassourinha-de-botão na BR-163 e o Caruru, além do Capim-pé-de-galinha, em Sapezal e Campo Novo do Parecis”, acrescenta.
Bahia
Para contribuir com o relato da safra de algodão na Bahia, onde foi semeado 312,6 mil hectares, e também um resumo da safra Brasil, estará presente no Encontro Técnico o engenheiro agrônomo e consultor Ezelino Carvalho, membro do Grupo Brasileiro de Consultores de Algodão – GBCA. Para ele, a atenção da próxima safra deverá ser com o El Niño e o que pode ser feito para minimizar os seus efeitos. “Pode alterar o regime de chuvas e sabemos que para as regiões Norte e Nordeste pode ser mais seco”, define.
Se confirmada a presença do fenômeno, o consultor acredita que serão necessárias mais ações preventivas para o controle de lagartas comuns ao algodoeiro, ácaros e também de trípes (Thysanoptera: Thripidae). “É um problema difícil de controlar em anos mais secos, sendo necessárias mais aplicações”, completa.
O consultor alerta, ainda, para a perda de eficiência de biotecnologias desenvolvidas para o controle de lagartas (Lepidópteras). “Foi motivo de atenção nessa safra e seguirá assim na próxima. De acordo com os dados de campo, esse é um problema que impacta diretamente na rentabilidade da lavoura – custo das tecnologias somada ao custo de inseticidas – e com o clima seco a intensidade de lagartas é maior e, consequentemente, o número de aplicações”, observa Carvalho.
O evento
A retrospectiva da safra também vai contar com os relatos dos grupos Biacon (Norte e Médio Norte), Locks (Oeste), WDF Agro (Sul) e Horita (Bahia). E também com a palestra “O clima e seus efeitos sobre o desenvolvimento da planta – safra 22/23”, com o pós-doutor em fisiologia do algodoeiro e coordenador do programa de pós-graduação em agronomia da Unoeste, Fábio Rafael Echer.
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