O papel da matéria orgânica no combate às mudanças climáticas

Tema será abordado em simpósio da Embrapa; evento abordará o ciclo, nutrientes, interações e funções da matéria orgânica do solo em regiões tropicais e subtropicais

Simpósio: o papel da matéria orgânica do solo no combate às mudanças climáticas

O simpósio “Entendendo a matéria orgânica do solo em ambientes tropical e subtropical” será realizado na Embrapa Meio Ambiente em 17 de julho de 2024. Organizado em parceria com a Esalq/USP, UFLA, Embrapa Instrumentação e Rovensa Next, o evento visa explorar a complexa rede que sustenta a vida na Terra, abordando o ciclo, nutrientes, compartimentos, interações e funções da matéria orgânica do solo em regiões tropicais e subtropicais.

De acordo com Wagner Bettiol, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e um dos organizadores do evento, o solo é um ecossistema vivo, dinâmico, composto de minerais e matéria orgânica, ar, água e organismos, contendo mais carbono orgânico do que na atmosfera e na vegetação combinados.

“E neste ambiente vivo que as reações químicas, físicas e biológicas regulam o estoque, formas e fluxos de nutrientes, energia e carbono. O processo contínuo de decomposição da matéria orgânica é fundamental para a estruturação do solo, manutenção da fertilidade, retenção de água e nutrientes, além de os compostos orgânicos serem fonte de alimento para os organismos do solo, fatores indispensáveis para a produção sustentável de alimentos, fibras e bioenergia”, explica Bettiol.

Para Cristiano Andrade, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e também coordenador do simpósio, sistemas de produção e práticas agropecuárias que incrementam o carbono no solo devem promover também melhoria da saúde do solo.

“A matéria orgânica do solo é ponto chave para o combate às mudanças climáticas, funcionando como compartimento de estabilização do carbono removido da atmosfera pelas plantas, além de gerar co-benefícios importantes na adaptação e sustentabilidade da produção agrícola”, destaca Andrade. Ele irá falar sobre o uso de resíduos orgânicos e biocarvão no sequestro de carbono no solo e obtenção de co-benefícios para a agricultura.

A abertura será feita pela chefe geral da Embrapa Meio Ambiente Paula Packer e por Roberto Batista, diretor da Rovensa Next. Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, professor da Esalq/USP, falará, em seguida, sobre a matéria orgânica do solo e o equilíbrio global de carbono.

De acordo com ele, tem sido crescente a preocupação mundial em relação às mudanças do clima no planeta, decorrentes, principalmente, das emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa, como o metano e o óxido nitroso.

“Estes gases são responsáveis pela manutenção da temperatura média de 16-18 oC na Terra, promovendo o chamado efeito estufa, essencial para a existência da vida no planeta. Entretanto, estudos revelam que, nos últimos 200 anos, a concentração desses gases na atmosfera, principalmente de dióxido de carbono, tem aumentado, sendo este aumento mais significativo nas últimas décadas”, enfatiza Cerri.

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Uma das principais consequências é o que podemos chamar “aumento do efeito estufa” ou “efeito estufa antrópico”, disse Cerri. Esse aumento contínuo de gases na atmosfera trouxe como consequência a maior interação com a radiação infravermelha emitida pela Terra, e consequentemente aumento da temperatura média global. Neste contexto, o solo é um compartimento chave no processo de emissão e fixação de carbono, com importantes papéis na adaptação e mitigação das emissões de gases de efeito estufa.

Logo depois, Carlos Alberto Silva, professor da UFLA, resgata em sua palestra um tema pouco discutido atualmente – como o Carbono, em concentrações tão baixas no ar prevaleceu sobre elementos mais concentrados na atmosfera, como o óxido nitroso, formando compostos variados, desde os mais simples como o metano até os mais complexos como as proteínas e o DNA.

“Com isso, como o dióxido de carbono pode ser aproveitado e fixado pelas plantas, por meio da fotossíntese, foi criada uma gama enorme de compostos e que permitiu a vida na Terra, pois o planeta foi colonizado por plantas e animais. Interagindo com a água, solo e ar, o Carbono formou moléculas que beiram, hoje, 365 milhões de compostos orgânicos, e ainda existem várias substâncias ainda não identificadas”, explica Silva.

Com plasticidades e química complexa, foram criadas rotas bioquímicas que asseguraram a incorporação do carbono em compostos complexos, como as substâncias húmicas, que possuem várias funções importantes, inclusive para a produção agrícola, e que persistem por longo tempo no ambiente.

Também outras substâncias mais simples com larga aplicação na agricultura e em processos industriais, como o etanol, celulose, ácidos orgânicos, aminoácidos, proteínas e classe de moléculas que persistem por mais tempo no solo e são insumos para a agricultura, como o biocarvão, exercem importantes funções no ambiente e são fundamentais para a agricultura sustentável. É uma história pouco contada, mas que permitiu a vida no Planeta, enfatiza Silva.

Ladislau Martins-Neto, pesquisador da Embrapa Instrumentação, falará sobre a dinâmica da matéria orgânica do solo nos trópicos – avaliações com métodos inovadores.

O pesquisador destaca que irá trazer contribuições relevantes no contexto mais recente sobre a caracterização da matéria orgânica do solo em situações de diferentes manejos conservacionistas, especialmente em áreas tropicais, apoiando a agricultura de baixo carbono. As peculiaridades dos trópicos geraram resultados inéditos sobre a matéria orgânica do solo, incluindo a determinação de sequestro de carbono no solo, e foram obtidos utilizando métodos inovadores de análises, baseados em métodos espectroscópicos e cromatográficos de alta resolução, explica Martins-Neto.

No encerramento, Wagner Bettiol fará o lançamento do livro “Entendendo a matéria orgânica do solo em ambientes tropical e subtropical” em conjunto com todos os editores e com os autores presentes.  Inscrições aqui.

 

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