Máquinas e Inovações Agrícolas

Ação preditiva: um novo rumo para o agronegócio?

Industrial 4.0 , Augmented reality technology , smart agriculture and farm concept. Hand holding tablet with AR maintenance application and predictive alert for check destroy part of smart machine.

Por Joel Sebastião Alves

A prática do dia a dia na manutenção de máquinas e as novas tecnologias, bem como as definições e planejamentos dos serviços, sempre envolvem diversas opções que devem ser muito bem analisadas pelos administradores.

Agora, a assistência diária deve estar presente, pois, caso contrário, os custos disparam, e não há administração que consiga sobreviver. Mas que manutenção? Lembro-me do engenheiro aeronáutico norte-americano Joe Sutter que sintetiza muito bem as escolhas para manutenção:

“Manutenção quando vai bem, ninguém lembra que existe. Quando algo vai mal, dizem que não existe. Quando é para gastar, acham que não é preciso que exista. Porém, quando realmente não existe, todos concordam que deveria existir.”

Três são os tipos possíveis de planejar a manutenção: corretiva, preventiva e preditiva; nos processos industriais, com controle de qualidade balizado por normas mais rigorosas, há ainda a Manutenção Produtiva Total.

Saiba quais são os cuidados essenciais para a manutenção do trator

Na realidade rural atual, a manutenção preventiva começa a se fazer presente em substituição à tradicional corretiva, que ainda marca presença com muita ênfase. Apenas para lembrar: a corretiva é manutenção feita somente quando o equipamento apresenta problema.

A preventiva é planejada através de controle periódico de uso – no caso do maquinário agrícola é por tempo (horas) de funcionamento –, evitando serviços sem planejamento e substituição de peças, portanto, mais econômica.

Saiba quais são os 10 implementos agrícolas mais utilizados

Na corretiva evidentemente os custos são bem maiores, além dos custos do equipamento parado no momento em que dele mais se necessita. 

E a preditiva? Essa é a manutenção ideal, pois é planejado conforme cada realidade do serviço que o equipamento executa. Ela, no entanto, requer equipe qualificada, ferramental e equipamentos de diagnósticos diversificados.

Diante disso, poderia afirmar que para o Técnico de Manutenção é o seu objetivo profissional: planejar e executar a manutenção preditiva. É a manutenção que ele, como profissional, elabora de acordo com suas experiências e conhecimentos e considerando a realidade do maquinário que deve ser mantido.

Nós, como agentes de manutenção, estudamos para isso – é o nosso “sonho de consumo”. O profissional de manutenção visa manter o pleno funcionamento, com mínimas intervenções possíveis, mas dentro do necessário, e estendendo a vida útil do maquinário. 

Prolongar o uso adequado do equipamento? Numa sociedade em busca permanente de consumo, será ainda um objetivo? Entendo que sim, mas sou obrigado a reconhecer que tal situação entra em confronto com outros segmentos da nossa sociedade atual. Não posso furtar-me de fazer essa ressalva, pois já convivi com tal situação! 

Eis alguns princípios básicos para implementar a manutenção preditiva: 

  • determinar, antecipadamente, as necessidades de manutenção; 
  • eliminar desmontagens desnecessárias;
  • aumentar o tempo de disponibilidade dos equipamentos; 
  • reduzir o trabalho de emergência não planejado; 
  • impedir o aumento de danos; 
  • aproveitar a vida útil total dos componentes e do equipamento; 
  • aumentar o grau de confiança no desempenho do maquinário; 
  • determinar previamente as interrupções de operação para executar a manutenção. 
  • A manutenção preditiva, geralmente, adota vários métodos de investigação para intervir nas máquinas e equipamentos. Entre eles destacam-se: estudo das vibrações; análise dos óleos; análise do estado das superfícies e análises estruturais de peças. 

Por meio da medição e análise das vibrações detectam-se, precocemente, a presença de falhas que devem ser corrigidas, tais como: 

  • rolamentos deteriorados; 
  • engrenagens defeituosas; 
  • acoplamentos desalinhados; 
  • rotores desbalanceados; 
  • vínculos desajustados; 
  • eixos deformados; 
  • lubrificação deficiente; 
  • folga excessiva em buchas; 
  • falta de rigidez; 
  • problemas aerodinâmicos; 
  • problemas hidráulicos; 
  • cavitação. 

Identificação dos primeiros sintomas

Os objetivos da análise dos óleos são dois: economizar lubrificantes e sanar os defeitos. Os modernos equipamentos permitem análises exatas e rápidas dos óleos utilizados em máquinas. É por meio das análises que o serviço de manutenção pode determinar o momento adequado para sua troca ou renovação, tanto em componentes mecânicos quanto hidráulicos. 

A economia é obtida regulando-se o grau de degradação ou de contaminação dos óleos. Essa regulagem otimiza os intervalos das trocas. A análise dos óleos permite também identificar os primeiros sintomas de desgaste de um componente. A identificação é feita pelo estudo das partículas sólidas misturadas aos óleos. Tais partículas sólidas são geradas pelo atrito dinâmico entre peças. 

A análise dos óleos é feita por técnicas laboratoriais que envolvem vidrarias, reagentes, instrumentos e equipamentos. Entre os instrumentos e equipamentos utilizados temos viscosímetros, centrífugas, fotômetros de chama, peagâmetros, espectrômetros, microscópios etc. 

O laboratorista, usando técnicas adequadas, determina as propriedades dos óleos e o grau de contaminantes neles presentes. 

As principais propriedades dos óleos que interessam em uma análise são: 

  • índice de viscosidade; 
  • índice de acidez; 
  • índice de alcalinidade; 
  • ponto de fulgor; 
  • ponto de congelamento. 

Em termos de contaminação dos óleos, interessa saber quanto existe de: 

  • resíduos de carbono; 
  • partículas metálicas; 
  • água ou outros fluídos. 

Assim como no estudo das vibrações, a análise dos óleos é muito importante na manutenção preditiva. É a análise que vai dizer se o óleo de uma máquina ou equipamento precisa ou não ser substituído e quando isso deverá ser feito. 

Avaliação peça a peça

A análise estrutural de peças que compõem as máquinas e equipamentos também é importante para a manutenção preditiva. Por meio dela se detectam, por exemplo, fissuras, trincas e bolhas nas peças. Em uniões soldadas, a análise estrutural é de extrema importância. As técnicas utilizadas são: 

  • interferometria holográfica;
  • ultra-sonografia; 
  • termografia; 
  • radiografia (raio X); 
  • gamagrafia (raios gama); 
  • magnetoscopia; 
  • correntes de Foucault; 
  • infiltração com 
  • líquidos penetrantes. 

Aperfeiçoamento da ação preditiva

A coleta de dados é efetuada periodicamente por um técnico que utiliza sistemas portáteis de monitoramento. As informações são registradas numa ficha, possibilitando ao responsável pela manutenção tê-las em mãos para as providências cabíveis. A periodicidade dos controles é determinada de acordo com os seguintes fatores: 

  • número de máquinas; 
  • pontos de medição; 
  • tempo de utilização; 
  • caráter “estratégico”; 
  • meios materiais para a execução dos serviços. 

O aperfeiçoamento da manutenção preditiva consiste em um conjunto de procedimentos para determinar o melhor momento da manutenção em vez de intervenções periódicas. É feita através da análise estatística e sintomática. Vantagens da manutenção preditiva: 

  • ganho de vida útil; 
  • controle dos materiais (peças, componentes, partes etc.) e melhor gerenciamento; 
  • diminuição dos custos; 
  • maior produtividade; 
  • diminuição dos
  •  estoques de produção; 
  • menos peças de reposição; 
  • melhoria da segurança; 
  • credibilidade do 
  • serviço oferecido; 
  • motivação do pessoal e boa imagem da oficina.

A eficácia da manutenção preditiva depende da confiabilidade dos parâmetros de medida que a caracterizam. Há custos relativamente altos para a implantação, que tendem a se diluir, a longo prazo, o que exige estudo realista da sua viabilidade. 

Realizar manutenção preditiva parcial dificilmente terá os resultados esperados, e até o contrário, pois os custos de equipamentos de diagnósticos se transformam em verdadeiros franksteins dentro das oficinas. Cito exemplo que presenciei: o administrador adquiriu equipamentos para análise de vibração e temperatura, terceirizou a análise dos óleos e ficou nisso. E o restante? Faltou muito. Então, não funcionou. 

Na manutenção preditiva a “meia-boca” não serve, ou se implanta de forma correta ou mantém-se a preventiva. Como dever ético profissional de Técnico de Manutenção, e com algumas décadas de vivência, sinto-me confortável para dizer: o agro brasileiro ainda está se equilibrando na manutenção preventiva e deveria tirar mais proveito desse modelo. A ressalva é para fazendas com equipes de manutenção qualificadas, cujo passo seguinte é mesmo adotar a preditiva. 

Tudo tem o seu tempo, e mais do que qualquer outro, o homem do campo sabe muito bem disso; há tempo de plantar e o tempo de colher, mas também o tempo de espera. Não adianta se precipitar ou pular etapas, pois os estragos serão homéricos. A carreta na frente dos bois não anda.

*Joel Sebastião Alves é instrutor de operação e manutenção de máquinas e implementos agrícolas e rodoviários

O que gostaria de fazer?

Compartilhar