Setor enfrenta prejuízos significativos na produção agrícola e na cadeia logística em decorrência das chuvas
Clarisse Sousa – O Rio Grande do Sul enfrenta a pior tragédia climática de sua história, uma das maiores do país. As enchentes resultantes das fortes chuvas já causaram a morte de 100 pessoas e o desaparecimento de 128. O desastre atingiu 417 municípios, deixando um total de 163.720 cidadãos desalojados, de acordo com boletim mais recente da Defesa Civil estadual.
Segundo um levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), os prejuízos totalizam R$ 423,8 milhões na agricultura, tornando este setor o mais afetado, seguido pela pecuária, com perdas de R$ 83 milhões, e pela indústria, que registrou prejuízos de R$ 57,3 milhões. Vale destacar que esses números representam apenas 25 municípios que conseguiram fornecer informações ao sistema do Ministério da Integração.
A CNM alerta que esses valores podem aumentar à medida que as águas recuam e os administradores locais conseguem avaliar os danos com maior precisão. Enquanto os esforços continuam concentrados em preservar vidas e mitigar os impactos imediatos das enchentes, a expectativa é de que os prejuízos totais superem as atuais projeções.
Prejuízos no campo
Além das irreparáveis perdas humanas e materiais nas cidades, no campo, o setor agropecuário está sendo impactado negativamente nas lavouras, na armazenagem e na logística, conforme explica o consultor Raphael Galo, da Mesa Agro da Terra Investimentos.
“Nas lavouras, o impacto das enchentes traz consigo a perda parcial da safra ainda não colhida, possíveis propagações de doenças e incertezas sobre a próxima safra. Na armazenagem, a qualidade do grão pode ser comprometida pelo aumento da umidade. Já na logística, enfrentamos dificuldades no escoamento da produção, transporte de insumos, abastecimento do mercado local e exportação”.
De imediato, devido à redução na oferta de commodities, é esperado um aumento nos preços. “Para compreender os efeitos no longo prazo, será necessário realizar um estudo mais detalhado dos impactos, a fim de avaliar os investimentos mínimos necessários para retomar o patamar produtivo”, avalia Galo.
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O Rio Grande do Sul é um estado de grande importância na produção nacional e mundial de commodities, sendo o principal estado na produção de arroz, o segundo maior em produção de soja, além de ter grande relevância na produção de milho, trigo, entre outros.
“As cotações das commodities tiveram uma forte alta nas bolsas de Chicago (CBOT) e do Brasil (B³) após o episódio, antecipando o impacto negativo na oferta do estado. Desde o início de maio, os preços na bolsa subiram aproximadamente [até 07/05]: soja (+7,6%), milho (+3,4%) e trigo (+7,45%). Essa elevação nos preços deve impactar a inflação no curto prazo.”
Em relação aos investimentos, os setores que provavelmente serão mais afetados pelos impactos adversos da tragédia são aqueles cujas empresas desempenham operações significativas no estado, tais como bancos, seguradoras, cooperativas, revendedoras, indústrias e logística, entre outros.
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O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima, afirmou que a situação já está causando impactos negativos em toda a cadeia logística. “Temos problemas de toda ordem. Há questões nas estradas e, como consequência, dificuldades na distribuição de peças, por exemplo, além de operações paralisadas. Alguns fabricantes estão com suas operações suspensas, o que acaba gerando um problema na cadeia. Nossa logística é integrada e atualmente estamos enfrentando problemas nas estradas, nos aeroportos e no acesso às fábricas. Portanto, já estamos sentindo um grande impacto”, disse em coletiva à imprensa nesta quarta-feira, 8.
A expectativa, segundo ele, é que a situação possa retornar ao que ele descreve como “quase normalidade” nas operações apenas em um prazo de sete a dez dias.
Impactos na pecuária
As fortes chuvas causaram estragos no setor pecuário da região, afetando milhares de bovinos, suínos e aves. Mesmo em regiões menos afetadas pelas chuvas, milhares de animais enfrentam agora o risco iminente de falta de alimentos e outros problemas decorrentes dos bloqueios nas rodovias, danos à infraestrutura, interrupções no abastecimento de água, falta de funcionários e paralisação das atividades de abate.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) estimou, em nota, que pelo menos dez unidades produtoras de carne de aves e de suínos estão paralisadas ou com dificuldades extremas de operar pela impossibilidade de processar insumos ou de transportar colaboradores.
O estado produz 11% da produção de carne de frango e 19,8% da produção de suínos nacional, que são direcionados para consumo nas gôndolas do próprio estado e para a exportação.
“Agropecuária vai ter todo o apoio”
Nesta terça-feira (7), o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou de uma reunião com a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e sindicatos rurais do estado para discutir a adoção de medidas de reconstrução da agropecuária gaúcha.
“A agropecuária vai ter todo o apoio. O Brasil reconhece a importância do Rio Grande do Sul. A preservação do produtor vai ser feita”, ressaltou o ministro.
O economista da Farsul, Antonio da Luz, apresentou um panorama dos impactos no estado, que afetaram todos os setores. Algumas fazendas foram completamente destruídas e, conforme ele observou, apesar da maior parte da safra de arroz já ter sido colhida, os silos que armazenam a produção também foram atingidos pelas enchentes.
“Se não preservarmos o que gera empregos, não conseguiremos salvar nenhum emprego. Para proteger as famílias, precisamos proteger a produção”, afirmou o economista.
De acordo com o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, o estado possui quantidade suficiente do produto. Ele detalhou ainda que a diretoria da federação está se reunindo diariamente para avaliar os impactos no setor.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio Grande do Sul responde por 68% da produção de arroz do país.
Medidas emergenciais
Em reunião ministerial, Fávaro afirmou que o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) enviou uma proposta para o Conselho Monetário Nacional (CMN) para a suspensão dos pagamentos das dívidas dos produtores rurais do Rio Grande do Sul por 90 dias, com a possibilidade de prorrogação.
“Foi pedido ao Conselho Monetário Nacional a prorrogação imediata, por 90 dias, de todos os débitos do setor, quer seja custeios ou investimentos, visto que o setor já vinha com problemas de secas nos últimos três anos. Já tinham medidas sendo tomadas, mas agora se agravou com as chuvas”, explicou o ministro. “Depois começa, então, as medidas de reconstrução, investimentos e custeios do setor dos municípios afetados”, completou.
O ministro Fávaro informou ainda que o Governo Federal está preparando uma Medida Provisória (MP) que visa liberar a importação de arroz pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O objetivo é evitar especulação financeira e estabilizar o preço do produto nos mercados de todo o país.
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