Máquinas e Inovações Agrícolas

Alternativa: consórcio é uma opção para renovar frota?

Modalidade de crédito oferece vantagens ao produtor, como juros mais baixos e prazos de pagamento mais longos

por Gustavo Paes

O consórcio tem se mostrado uma modalidade bastante atraente na hora de o produtor renovar sua frota. Os números confirmam a adoção desse autofinanciamento. O total de participantes ativos avançou 82,3% entre março de 2015 e dezembro de 2020, conforme a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac). Em dezembro de 2019 havia 115,30 mil consorciados. No final do ano passado, o volume alcançou 126,71 mil, um crescimento de 9,9%.   

Os consórcios de máquinas agrícolas representam um terço dos veículos pesados, segundo levantamento da Abac. Os negócios realizados em 2020 somaram R$ 7 bilhões, enquanto em 2019 alcançaram R$ 5,09 bi, com alta de 37,5%. No primeiro trimestre deste ano, houve R$ 1,83 bilhão, enquanto no mesmo período de 2020 somaram R$ 1,44 bilhão, com alta de 27,1%.

As turbulências enfrentadas devido à pandemia de Covid-19 deram vez à retomada das adesões aos grupos de consórcio, comprovando que é o caminho mais simples e econômico para adquirir equipamentos, conforme o presidente executivo da Abac, Paulo Roberto Rossi.  “As perspectivas para o consórcio, como um facilitador do agronegócio, devem ser de continuidade de crescimento”, sublinha.

Os produtores que mais contrataram e foram contemplados estão na Região Sul (49,4%), Sudeste (18,2%), Centro-Oeste (17,6%), Norte (8,2%) e Nordeste (6,7%). Implementos agrícolas e retroescavadeiras responderam por 18,8% cada um. Já tratores de rodas, tratores com esteira, colheitadeiras e cultivadores motorizados foram responsáveis por 12,5% cada um.

Consórcio X Leasing

O leasing ou arrendamento mercantil funciona como um aluguel, portanto, a máquina ou equipamento pertence à instituição que realizou a operação. O consumidor ainda está sujeito a parcelas no final do contrato para possuir o bem. “No consórcio, o bem contemplado pertence ao consorciado sem a necessidade de parcelas intermediárias e, no final do plano, ele recebe a devolução do fundo de reserva”, explica o vice-presidente de negócios da Embracon, Luís Toscano.

Para o gerente de Marketing da Case IH, Rafael Paraguassu, a vantagem é que no consórcio não há incidência de juros. Enquanto no leasing, o prazo máximo para pagamento é de 60 meses. “No consórcio, os prazos para pagamento podem ser de 120 meses ou mais”, salienta.

O gerente comercial e de Marketing da Randon Consórcios, Claudio Bassani, avalia que as duas modalidades oferecem condições muito vantajosas para o produtor. Basta entender as diferenças de cada uma delas e avaliar qual é a opção mais atrativa, conforme a necessidade ou perfil do cliente.

Modalidade sem juros

A maior vantagem do consórcio está no fato de ser uma modalidade de crédito que não cobra juros, segundo Lorelay Lopes, head de Negócios do UP Consórcios, uma fintech da Embracon. Além disso, com a carta contemplada em mãos, o poder de compra é à vista, oferecendo melhores condições de negociação.

“E, para quem não tem pressa em ofertar um lance, o consórcio oferece a correção anual dos créditos, mantendo a possibilidade de investir em maquinário moderno”, afirma Lopes, lembrando que a desvantagem está ligada à expectativa. “Quem tem pressa e não quer esperar pelo sorteio, precisa estar ciente de que precisará ofertar um lance para adiantar essa contemplação”, alerta.

Planejamento financeiro

O gerente de Marketing da Case IH, Rafael Paraguassu, frisa que o consórcio possibilita um planejamento no sentido de permitir a programação da aquisição da máquina dentro do prazo escolhido, sem que para isto tenha que pagar juros elevados e comprometer a renda. “É uma forma de aquisição sem se descapitalizar e sem a incidência de juros”, destaca. No Consórcio Nacional Case IH, administrado pela Primo Rossi, incide uma taxa administrativa média de 0,13% a.m.

“Temos observado que é crescente o interesse e a contratação de cotas de consórcio de máquinas de maior valor, de R$ 500 mil a R$ 1 milhão, uma vez que o planejamento financeiro e a economia proporcionada pela modalidade despertou interesse de um público mais amplo”, destaca.

Parcelas atrativas

O vice-presidente de negócios da Embracon, Luís Toscano, diz que o consórcio é uma ótima maneira de investir no aumento da frota de máquinas. A modalidade oferece benefícios como a ausência de juros e IOF, além da atratividade do valor das parcelas. “No consórcio é possível ofertar o lance descontando o valor da sua carta de crédito sem a necessidade de usar sua reserva financeira”, destaca.

Na Embracon, as máquinas mais procuradas em 2020 foram tratores, pulverizadores, semeadeiras e colheitadeiras. E, com o crescimento do agro, os caminhões também tiveram uma grande procura. “O crescimento no segmento de pesados foi de 14,7% em 2020, onde 57% eram motoristas autônomos, impulsionado pelo crescimento do e-commerce, 42% pessoas jurídicas e 1% cooperativas”, revela Toscano. A expectativa da Embracon é de crescer 15% em 2021.

Compra planejada

O consórcio destina-se ao produtor que deseja comprar o primeiro equipamento, trocar o usado pelo novo ou ampliar a frota, segundo Claudio Bassani, gerente Comercial e de Marketing da Randon Consórcios, que administra o Consórcio John Deere.

A modalidade de crédito também é indicada para quem possui recursos suficientes para comprar à vista. “O consórcio é uma forma de o produtor planejar o aumento de seu patrimônio”, diz o executivo.

Os consorciados John Deere são 92% pessoa física e 8% pessoa jurídica. Os homens são maioria, com 91%, enquanto as mulheres respondem por 9%. “Na sua maioria, são pequenos e médios produtores autônomos”, salienta Bassani. Os produtos preferidos dos consorciados são os tratores, colheitadeiras e pulverizadores.

O setor de consórcio encerrou 2020 com recordes históricos. No segmento de veículos pesados, houve crescimento de 13,14% em relação a 2019. “Cerca de um terço do segmento é voltado ao agro”, sublinha. O último grupo lançado pela John Deere tem prazo para pagamento de 100 meses e uma taxa administrativa de 14%, com fundo de reserva de 1%.

Clientes fidelizados

O Consórcio New Holland abrange pequenos, médios e grandes agricultores, atraídos por vantagens como parcelas reduzidas, além de prazos de até 10 anos, facilidade na análise de crédito e prioridade na entrega do produto pós-contemplação. “E 80% dos clientes compram novamente”, garante o gerente comercial Mariton Moraes.

O executivo observa que o perfil imediatista do agricultor está mudando. Antes, quando ele precisava de um trator, por exemplo, tinha o financiamento como primeira opção. Hoje, o consórcio já ganhou a preferência. “Trabalhando as vantagens do consórcio, percebemos uma mudança comportamental desse público em relação ao seu planejamento financeiro”, diz.

Em 2020, o Consórcio New Holland comercializou cerca de R$ 505 mil em créditos. O ticket médio foi de R$ 140 mil. Neste ano, a meta é aumentá-lo para R$ 160 mil. No primeiro trimestre de 2021, foram vendidos R$ 158,5 milhões em créditos, frente a R$ 97,7 milhões no mesmo período do ano passado, um crescimento de 62% no volume de créditos comercializados para a compra de tratores, colheitadeiras e demais produtos da marca. Em março, o consórcio da marca bateu um recorde mensal em vendas, atingindo R$ 72,5 milhões.

A expectativa para 2021 é comercializar R$ 570 milhões em volume de créditos. O otimismo se justifica pelo mercado de pesados, que está em alta. “De acordo com a Abac, o segmento de consórcio de pesados fechou os meses de janeiro e fevereiro com aumento de 17,3% no total de participantes ativos sobre o mesmo período de 2020”, salienta Moraes.            

Alternativa de investimento

O gerente nacional de Vendas do Consórcio Massey Ferguson, Flávio Vincensi, destaca que o consórcio é uma excelente alternativa para o produtor que busca renovar o maquinário. A modalidade possui o diferencial de oferecer valores acessíveis, sem a cobrança de juros ou de entrada. “O agricultor paga somente a mensalidade e uma baixa taxa de administração e 1% de fundo de reserva, tornando este modelo atraente para pequenos, médios e grandes agropecuaristas”, afirma.

A taxa administrativa é diluída em até 120 meses e a modalidade possibilita uma vasta opção de planos e prazos. Desde a criação do consórcio da marca, em 1981, já foram entregues por meio do consórcio 66 mil máquinas. Os grupos têm 999 integrantes e são formados por agricultores, pecuaristas e prestadores de serviços.

Em 2020, o consórcio da Massey Ferguson entregou 2,8 mil máquinas. Para 2021, a projeção é de crescimento de 5% a 7% em comparação a 2020. “Esperamos vender 3,3 mil cotas e contemplarmos até 2,8 mil máquinas”, adianta o gerente.

Parcelas acessíveis

No Consórcio Nacional Yanmar, que foi lançado em abril deste ano, o produtor pode adquirir máquinas e tem até 100 meses para pagar. O consórcio não tem taxa de adesão e as parcelas têm o valor mínimo de R$ 871,21. A taxa de administração é de 14% (com fundo de reserva) e os valores vão de R$ 70,5 mil até R$ 141 mil.

Inicialmente, a modalidade permitia apenas a aquisição da linha de tratores Solis (de 24 a 90 cvs) e a transplantadeira de mudas PH1, ambas da Linha Agrícola Yanmar, além da linha de geradores de energia. Mas agora também foram incluídas as miniescavadeiras usadas na construção civil.

O consórcio é uma parceria da Yanmar South America e a Multimarca Consórcios. A iniciativa surgiu a partir da demanda por uma maneira mais acessível de modernizar os equipamentos, conforme a responsável pelo Departamento de Marketing da Yanmar, Isabela Florencio. 

Com esse lançamento, salienta Isabela, a Yanmar South America pretende ampliar as oportunidades de crescimento no agro para os produtores que hoje ainda dependem muito das linhas de crédito do governo federal. “Queremos oferecer mais uma ferramenta para o produtor renovar seus equipamentos de forma planejada, com parcelas que cabem no bolso”, completa Isabela.

Consórcio Magalu

O Magazine Luiza, uma das maiores redes de varejo do País, decidiu entrar de vez em um setor que, até pouco tempo, tinha atuação bastante restrita: o financiamento de máquinas agrícolas. “Nós já atuávamos no segmento de maneira isolada. O cliente tinha como opção o consórcio de veículos. Percebendo o aumento da demanda e o crescimento do setor, resolvemos ampliar nosso portfólio”, afirma a gerente executiva de produtos do Consórcio Magalu, Angélica Urban.

Mesmo com a pandemia, o segmento que atende o agronegócio na empresa – com máquinas e caminhões – cresceu 152% e os negócios devem ter alta ainda mais neste ano. “Temos grandes expectativas para 2021 no agronegócio, nos créditos que atendem esse setor. Acreditamos que, em 2021, vamos possibilitar ainda mais oportunidades para o setor”, salienta Angélica.

Para isso, a faixa de crédito foi ampliada. Antes limitada a valores de R$ 60 mil a R$ 120 mil, ela passou a R$ 120 mil a R$ 300 mil por cota, com prazo de até 150 meses com taxa de administração de 1,2% ao ano. Como cada produtor pode juntar três cotas para a aquisição, é possível financiar máquinas mais caras, de até R$ 900 mil.

O Consórcio Magalu conta com uma estrutura com 615 gestores em mais de 1,2 mil lojas de todo o Brasil.

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