Máquinas e Inovações Agrícolas

As vantagens do consórcio de máquinas

Formar grupos de consórcios para comprar máquinas agrícolas tornou-se alternativa para produtores rurais. Um levantamento da assessoria econômica da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) aponta que a procura cresceu 9,6% em um ano no segmento de veículos pesados – caminhões, ônibus, tratores, implementos e maquinário agrícola. Os dados revelam que 35% dos consorciados de um destes produtos estão ligados ao agronegócio. Dos 196,5 mil participantes, 69 mil buscam máquinas ou implementos agrícolas.

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Paulo Roberto Rossi, presidente-executivo da Abac, afirma que os números comprovam a importância do consórcio para além da cadeia produtiva da indústria

Para Paulo Roberto Rossi, presidente da Abac, a maior procura é justificada “pela semelhança” entre os procedimentos do produtor agrícola e as características do sistema de consórcios. “Ao se preocupar com a estratégia de plantio e de colheita, surge a necessidade de aquisição de máquinas de forma planejada e mais econômica”, diz. Rossi afirma que os números comprovam a importância do consórcio para além da cadeia produtiva da indústria. “O setor marca forte presença no segmento agrícola antes da porteira, em razão da possibilidade de programação e de oferecer baixo custo”, argumenta.

Na administradora de consórcios Sicredi, além da amortização mensal, é possível pagar metade da parcela com “reforços” trimestrais ou semestrais. O superintendente Romeo Balzan explica que a Sicredi forma grupos de bens no valor de R$ 94 mil a R$ 383 mil, com taxa de administração de 9% e prazo de até cem meses. “Os grupos são formados com 300 participantes e três contemplações por mês, por sorteio e lances, podendo ser utilizados até 25% do valor da carta de crédito para pagamento do lance ou como lance embutido”, informa. O consorciado pode utilizar o valor do lance para reduzir a parcela mensal ou, se preferir, diminuir o prazo, antecipando o pagamento das últimas parcelas. A inadimplência, segundo Balzan, é de apenas 3,65%, e o Seguro de Quebra de Garantia (SGQ) dá confiança e “saúde financeira” aos grupos.

 

Romeo balzan, superintendente da Sicred: baixo custo e prazos longos – incentivam a “cultura da poupança” e a sustentabilidade dos negócios a produtores

Taxa de administração. No Banco do Brasil, há duas taxas de administração: 10% para clientes e 9% para servidores públicos federais. Atualmente a inadimplência está em torno de 2,81%. Segundo Alexandre Luís dos Santos, gerente executivo, o número de consorciados que não conseguem honrar os pagamentos é um dos menores do mercado. “Se considerarmos a carteira de clientes do segmento de veículos pesados e máquinas agrícolas, a média é de 10,63%” argumenta, amparado pelos dados de outubro do Banco Central.

Para José Bittencourt, responsável por treinamento na Valtra Administradora de Consórcios, a responsabilidade com a inadimplência também é da empresa: “Cabe à administradora cuidar bem dos grupos para que, nas assembleias para distribuição de bens, sempre haja saldo em caixa suficiente para atender à expectativa de contemplação dos consorciados.”

O sistema é indicado a pessoas físicas ou jurídicas que não necessitem imediatamente do bem. Para Rossi, o produtor deve avaliar a necessidade, bem como a disponibilidade de recursos para o pagamento das parcelas. Os benefícios, segundo ele, compensam. “O sistema de autofinanciamento possibilita planejar o plantio, aumentar ou renovar a frota, além de formar ou ampliar o patrimônio pessoal, familiar ou empresarial”, destaca. Balzan ressalta que as facilidades – baixo custo e prazos longos – incentivam a “cultura da poupança” e sustentabilidade dos negócios a produtores. Dos 69 mil participantes ativos nos grupos de consórcios de máquinas agrícolas, 73,1% são produtores rurais e 26,9%, pessoas jurídicas. Balzan relata o perfil do cliente: “Noventa porcento são do sexo masculino e 93,5% apresentam renda acima de R$ 5 mil/mês”. Há também um público que recorre a créditos maiores para adquirir carros de luxo.

Bittencourt afirma que a maior procura na Valtra é do “empresário rural” que precisa renovar a frota. “Ele vem sistematicamente buscando o segmento de consórcios, haja vista o volume de cotas comercializadas no ano passado, que chegou perto de 13 mil”. Segundo o gerente do BB Consórcios, o perfil tem “variações”. Ele destaca cinco grupos: pessoas físicas e jurídicas que dependem de alternativas de baixo custo para comprar os bens; empresas ou profissionais que vão ampliar ou modernizar a frota; clientes que praticam atividades econômicas no campo ou indústria de transformação e necessitam transportar matéria-prima ou escoar a produção; micro e pequenas empresas que desejam profissionalizar seus negócios; pessoas jurídicas dispostas a imobilizar parte do patrimônio em veículos, lançando a depreciação do bem como benefício fiscal.

Como funciona. Os primeiros sistemas de consórcios surgiram em setembro de 1962. Pessoas físicas ou jurídicas se unem em grupos fechados e formam uma espécie de “poupança comum” para a aquisição de bens por meio de autofinanciamento. Os consorciados, também chamados de cotistas, devem contribuir mensalmente com essa poupança em parcelas previamente definidas.

A “gestão da conta” é de responsabilidade de uma administradora autorizada pelo Banco Central. As administradoras realizam assembleias mensais para contemplar participantes. Sorteios ou lances asseguram ao consorciado o direito de utilizar o crédito contratado para a compra do bem. No caso específico de máquinas agrícolas, existem algumas especificidades. Romeo Balzan enfatiza que o segmento possui taxas de administração mais baixas e “parcelas reduzidas”. O associado tem a opção de aderir com 50% da parcela mensal e pode pagar a diferença trimestral ou semestralmente. “Esta condição diferenciada tem o objetivo de atender aos produtores rurais que possuem renda sazonal. Assim, eles pagam um valor mais baixo mensalmente e, na safra, efetuam o ‘reforço’, ficando essa opção à escolha do cliente quando ele faz a adesão ao plano”, esclarece.

José Bittencourt explica ainda que o sistema é “flexível” e as administradoras podem “moldar os grupos”, de acordo com o perfil do público-alvo: “Para o segmento de imóveis, algumas mudanças são sugeridas como a correção do crédito a partir do INCC (Índice Nacional da Construção Civil), diferentemente de outros segmentos nos quais, para atualizar valores, preservando o poder de compra do consorciado, pauta-se pela tabela de preços do fabricante.

Os consórcios para máquinas agrícolas atuam numa ampla faixa de crédito. Segundo Alexandre dos Santos, os prazos para grupos em formação chegam a cem meses. O BB Consórcios trabalha com valores de R$ 73 mil a R$ 154 mil, não possui taxa de adesão e permite a aquisição, na contemplação, de bens novos ou usados com até dez anos, enquanto a concorrência oferece opção de produtos com cinco anos.

Vantagens x desvantagens. Para Otto Nogami, mestre em economia e especialista em finanças do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), o consórcio não deixa de ser uma alternativa interessante. “O participante não precisa dar entrada, escolhe o valor do crédito que quer obter e também o prazo, pois existem grupos variados”, diz. No entanto, ele chama a atenção para “a dependência da sorte” e a capacidade financeira para dar lances: “Os sorteios acontecem a cada mês e, normalmente, apenas duas pessoas são contempladas.

Nogami lembra ainda que o valor das parcelas, definido previamente, pode sofrer alterações. Via de regra, os contratos estabelecem critérios para reajustes e é adotado um indexador “de domínio público”, diz. Na comparação com o financiamento para a aquisição de bens, o especialista afirma que o consórcio “sai mais barato”. O sistema não cobra juros, mas a taxa de administração pode ser uma armadilha. “Não existe um padrão e o valor varia conforme a administradora”. Mesmo considerando o sistema “interessante”, o consórcio, no entender de Nogami, não é a melhor saída. O especialista cita um exemplo com base em dados da Caixa Econômica Federal: “se um veículo custa R$ 26 mil, nessa modalidade, incluindo a cobrança do serviço prestado pela administradora, sairá por R$ 32.108,00, valor 23,5% maior”, calcula.

O ideal seria a aplicação, por exemplo, na caderneta de poupança. Considerando que não haja inflação, o dinheiro iria render e 52,5% do valor do bem seriam poupados. Esta modalidade exige compromisso e planejamento. “Por isso, a maioria opta pelo consórcio: falta educação financeira”, afirma.

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