A cafeicultura no Amazonas está se estruturando com a adoção de tecnologias baseadas no cultivo de café clonal, com a recuperação de áreas desmatadas para inseri-las no sistema produtivo, abrindo oportunidades para geração de renda na agricultura familiar.
O cenário é promissor com diversas potencialidades, mas também apresenta desafios para fortalecer essa cadeia produtiva no estado e isso foi discutido no Workshop “Cafeicultura no Amazonas: Avanços e perspectivas”, que durante o dia 14 de setembro reuniu mais de 130 pessoas, entre técnicos, produtores e pesquisadores envolvidos na cafeicultura da região.
O workshop foi uma realização da Embrapa, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), do Instituto Federal do Amazonas (Ifam), do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam) e da Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror), coordenado por equipes dessas instituições envolvidos com a cafeicultura.
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O evento aconteceu como marco dos dez anos da introdução do café clonal no estado do Amazonas, com início dos trabalhos de pesquisa, transferência de tecnologia, assistência técnica e fomento para o cultivo de clones da espécie Coffea canephora no estado, inicialmente com as variedades de café conilon BRS Ouro Preto e posteriormente com os híbridos conhecidos como Robustas Amazônicos, ambas cultivares clonais desenvolvidas pela Embrapa para a região Amazônica.
Inicialmente, em 2013, a Embrapa Rondônia, que coordena pesquisas com melhoramento de café na região norte foi procurada por produtores do município de Apuí (AM) , e depois em 2015 por produtores do município de Silves (AM), interessados em cultivar os cafés clonais. A partir de então, a Embrapa aproveitou a oportunidade para validar as cultivares de café desenvolvidas e recomendadas para Rondônia, nas condições de clima e solo do estado do Amazonas.
Everton Cordeiro, chefe-geral da Embrapa Amazônia Ocidental, destacou a importância das parcerias para o avanço da cafeicultura no Amazonas.
Durante 10 anos, foram vários projetos sendo executados no estado, tanto projetos de pesquisa, a maioria financiados pela Fapeam, envolvendo instituições como Embrapa, Ufam, Ifam, Idam, Sepror, assim também como projetos de transferência de tecnologia e de ações para levar os resultados das pesquisas a técnicos e produtores, como cursos de capacitação, Dias de Campo, além de ações de assistência técnica. Essas ações também tem recebido participação e apoio de associações de produtores, prefeituras, organizações não governamentais e empresas privadas.
O pesquisador Marcelo Curitiba, da Embrapa Café, que participa desde o início desse trabalho no estado, ainda por meio da Embrapa Rondônia, conta que ao longo do processo de validação, os clones se mostraram bem adaptados às condições do estado e bastante produtivos, e o governo do estado e a iniciativa privada vem possibilitando a multiplicação de mudas desses clones e novos agricultores passaram a começaram a ter acesso a mudas e entrar na atividade.
“E esse processo que começou lá em 2013, 2014, vem ganhando força aqui no Amazonas, e está se mostrando uma alternativa de renda para os produtores”, destaca o pesquisador Curitiba, acrescentando que a proposta dessa cafeicultura, que tem a perspectiva de sustentabilidade e valorização da agricultura familiar, visa fixar as famílias no campo e preservar a floresta. “Porque quando você tem uma cultura que traz renda, ela diminui a pressão sobre a floresta, diminui a pressão de problemas sociais”, complementa , citando que estão sendo implantadas novas áreas e que devem entrar em produção em breve.
“Nos próximos anos a gente acredita que essa produção vai aumentar e o grande detalhe é que nós estamos investindo, incentivando a produção de cafés de qualidade, cafés especiais para atender tanto o mercado interno quanto o mercado externo, pensando no diferencial do café produzido no bioma Amazônia”, afirma o pesquisador.
Os Robustas Amazônicos se caracterizam por sabor e aroma diferenciados e de alta qualidade. No evento, o professor da Ufam, Fábio Medeiros Ferreira, apresentou os resultados da “Avaliação de Cultivares de Cafeeiros Robustas Amazônicos nas Condições de Clima e Solo do Amazonas”; mostrando que é possível produzir com altas produtividades e qualidade.
O Governo do Estado, por meio do sistema Sepror e Idam, fomenta o Projeto Prioritário do Café. A coordenadora do projeto, a engenheira agrônoma Ana Cecília Lobato, do Idam, cita que atualmente 12 municípios do estado fazem parte do Projeto Prioritário. Entretanto, a cultura do café está se expandindo além destes, para várias regiões do estado.
Por meio de parceira com a Sepror e a Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS), o Idam entregou, em 2022 e 2023, 45.000 mudas de café no kit agricultor familiar dos clones de Robustas Amazônicos, alcançando aproximadamente 1.500 famílias.
Através de um levantamento feito em parceria com a Conab, foi possível constatar que existe um crescente aumento no plantio do café Robustas Amazônicos no Amazonas. Atualmente são mais de 130 hectares de café em formação no estado do Amazonas, totalizando aproximadamente 675 hectares de café plantados em todo o estado.
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O pesquisador Edson Barcelos, da Embrapa Amazônia Ocidental, explica que o café é uma espécie perene que fixa gás carbônico, e que o cultivo está sendo incentivado para utilizar e recuperar as áreas desmatadas, “para a agricultura familiar produzir café de qualidade e com sustentabilidade, gerando trabalho e renda para a nossa população do interior do estado”, reforça.
Sobre os produtores que já entraram em produção, ele destaca que “têm alcançado produtividades excelentes, acima de seis sacos por hectare de café já seco, isso significa uma renda de 80 mil reais por hectare, e uma das coisas mais relevante é que esses cafés são cultivados por agricultores familiares e em áreas já desmatadas há muito tempo, ou seja, não estamos provocando novos desmatamentos”, afirma.
Além dos avanços, também foram discutidas as principais dificuldades enfrentadas. O analista da Embrapa Rondônia, Calixto Rosa Neto, trouxe dados da pesquisa “Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Café no Estado do Amazonas” feita neste ano e relaciona como principais problemas citados pelos produtores: questão fundiária, custo e acesso a insumos, licenciamento ambiental, tamanho das áreas, produtividade e custo de produção, idade avançada dos agricultores (problema de mão de obra e sucessão), também foram comentados no workshop, necessidade de ampliar assistência técnica e condições de comercialização do café.
Antônio Fernando Guerra, chefe-geral da Embrapa Café, que foi um dos palestrantes no workshop, comentou sobre oportunidades para o estado do Amazonas com o potencial de financiamento que o Consórcio Pesquisa Café pode trazer para o estado, e ressaltou a importância para a forma de conduzir e apresentar essa cafeicultura em nível nacional e internacional.
“Então, nós temos que saber comunicar e trabalhar com a cafeicultura regenerativa. Temos que buscar essas áreas degradadas para recuperar elas utilizando o café como o indutor dessa recuperação, e temos que trabalhar com as tecnologias mais adequadas para incorporar carbono no solo e proteger o solo, proteger as nascentes. Proteger a vegetação no entorno da cultura de café e promover as pessoas e inclusão social. E o café é a cultura mais apropriada quando se pensa em pequeno produtor, principalmente no sentido de você ter inclusão social.”
Antonio Carlos Tafuri e Eduardo Tosta, representantes da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), apresentaram experiências exitosas que estão sendo realizadas com cafeicultura na região amazônica, com apoio da ABDI, tanto no estado de Rondônia e no Acre (Vale do Juruá) e podem ser aproveitadas no Amazonas. Tafuri contou sobre o processo de obtenção da Indicação Geográfica (IG) do café das matas de Rondônia, destacando aprendizados nesse processo.
Um dos desafios comentados no workshop é a possibilidade de trabalhar para uma IG para o café no Amazonas, fortalecendo a articulação institucional , a organização dos produtores, além de realizar diagnósticos para delimitar áreas ou regiões de produção que tenham um diferencial no saber fazer.
“Degustei alguns cafés aqui e vi que tem potencialidade, resta saber se eles fazem parte de um grupo de uma delimitação geográfica de uma área que possa ser delimitada, (além disso) a questão da institucionalidade deve ser melhorada com certeza, mas é algo que não é difícil de resolver a partir de um projeto elaborado e proposto aqui no Amazonas”, comentou, colocando que a ABDI está disposição para auxiliar no processo.
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