Calculadora de Carbono foi projetada por especialistas da Embrapa para a cultura da soja em regiões tropicais, para obter dados sobre a produção
Um marco histórico foi alcançado com a entrega da primeira remessa de soja brasileira produzida na fazenda do grupo Bom Futuro Agrícola, sem qualquer desmatamento. A produção teve sua pegada de carbono mensurada e rastreada por meio da tecnologia desenvolvida pela Embrapa, a Calculadora PRO Carbon Footprint, que utiliza a metodologia de Análise de Ciclo de Vida (ACV), reconhecida internacionalmente. A pegada de carbono representa as emissões de gases de efeito estufa (GEE) ao longo do ciclo de vida do produto.
Representantes da Embrapa participaram do lançamento do PRO Carbono Commodities – Powered by Forest Protection, uma iniciativa da empresa Bayer, realizada em Matupá, MT, no dia 25 de maio. Esse programa global da Bayer tem como objetivo promover a proteção das florestas e vegetações naturais, ao mesmo tempo em que destaca o papel do agronegócio na mitigação das mudanças climáticas e na preservação da biodiversidade.
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O evento contou com a presença do assessor especial do Ministério da Agricultura e Pecuária, Carlos Ernesto Augustin, da presidente da Embrapa, Silvia Maria Massruhá, do líder Comercial da Bayer Crop Science, Marcio Santos e de representantes de dezenas de empresas relacionadas ao agronegócio e produtores rurais.
A Calculadora de Carbono foi especialmente projetada por especialistas da Embrapa para a cultura da soja em regiões tropicais, sendo fundamental para obter dados precisos sobre a produção. Essa iniciativa é resultado da parceria entre a Embrapa e a Bayer, que começou em 2020.
O PRO Carbono Commodities é uma extensão do PRO Carbono, iniciada em 2021 com a participação de 1,9 mil produtores brasileiros, buscando aumentar a produção e o sequestro de carbono no solo por meio de práticas regenerativas de produção.
Desde o início do PRO Carbono, a Embrapa tem contribuído com a participação de especialistas de três Unidades da Embrapa no estado de São Paulo: Agricultura Digital (Campinas), Meio Ambiente (Jaguariúna) e Instrumentação (São Carlos).
A safra foi entregue, sendo os primeiros grãos mensurados destinados à trader ADM, uma empresa global de gestão e processamento da cadeia de abastecimento agrícola. Esses grãos fazem parte da safra do PRO Carbono Commodities, um produto desenvolvido por dez agricultores brasileiros que trabalham em 159 mil hectares nos biomas do Cerrado e da Amazônia.
O projeto monitora a pegada de carbono de todo o processo agrícola, desde o pré-plantio até a colheita e transporte dos grãos até as unidades de armazenamento da trader. Todo o processo é realizado com total transparência e rastreabilidade.
O projeto da Bayer garante que a soja produzida provém de áreas completamente livres de desmatamento, incluindo 90 mil hectares de vegetação nativa. Os agricultores participantes comprometeram-se a não converter áreas naturais em campos agrícolas nos últimos dez anos e preservar a vegetação excedente em suas propriedades.
O programa registrou dados primários das áreas referentes a 240 mil toneladas de soja produzidas, e a pegada média de carbono foi mostrada em 861,55 CO₂ eq/t.. No entanto, o diretor do Negócio de Carbono da Bayer para a América Latina, Fabio Passos, destaca que há uma diferença considerável em relação aos valores disponíveis em bases de dados internacionalmente reconhecidas, que indicam uma média de 2600 kg CO₂ eq/t para a pegada de carbono da soja brasileira. Ele enfatiza a importância de atualizar constantemente essas referências à medida que o conhecimento cientifico avança, para obter informações mais precisas.
Nos próximos meses a Bayer anunciará outras iniciativas de proteção de florestas e vegetações naturais ameaçadas de conversão, como parte da dinâmica do programa. O lançamento inicial ocorre no Brasil, com foco em apoiar a produção sustentável nas cadeias de grãos e fibras, criando valor para os agricultores que seguiram para a preservação da vegetação natural.
Como funciona
A carga de soja produzida foi entregue com qualificação da origem, contendo as informações que atestam sua rastreabilidade e produção em consonância com padrões socioambientais, que contemplam a avaliação de sobreposição com terra indígena ou quilombola e unidades de conservação, livre de trabalho escravo, de áreas embargadas pelas autoridades de meio ambiente (Ibama, Sema e ICMBio), além da conformidade ambiental com o Código Florestal e avaliações do Cadastro Ambiental Rural (CAR).
Com um sistema de rastreabilidade via QR Code para compilação de informações através de blockchain, auditado por terceira parte independente, a Bayer atesta que a produção dos agricultores participantes do PRO Carbono Commodities é cultivada sob um conjunto de práticas regenerativas que ajudam a reduzir o volume de emissões de carbono e livre de desmatamento.
Além disso, ao disponibilizar informações de rastreabilidade, o programa propicia uma maior transparência sobre a origem dos grãos para toda a cadeia, indo mais além do que existe no mercado atualmente.
Contribuição da Embrapa para a sustentabilidade no setor agrícola
Durante seu discurso, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, enfatizou a contribuição da empresa nas principais etapas da revolução verde, por meio do desenvolvimento de tecnologias avançadas, pesquisas e estudos nas áreas do setor primário.
Essas contribuições permitiram a expansão da cultura da soja no cerrado, a implementação de sistemas integrados para intensificar a produção, a adoção da agricultura de precisão e da agricultura de base biológica, entre outras inovações.
Segundo Silvia, agora é o momento de uma nova revolução, com foco na sustentabilidade dos sistemas agrícolas. Nesse contexto, ela destaca que o PRO Carbono Commodities é um marco importante, impulsionando essa nova revolução voltada para a sustentabilidade na agropecuária tropical.
O presidente ressalta a importância das parcerias da Embrapa com outras instituições, sejam elas públicas ou privadas, enfatizando a necessidade de cooperação para seguir em direção à descarbonização das cadeias de produção.
Silvia também destaca a colaboração integrada das três unidades da Embrapa envolvidas no projeto: Meio Ambiente, Agricultura Digital e Instrumentação. Ela enfatiza que, ao trabalharem juntas em cooperação, a força da equipe é amplificada.
Pro Carbono FootPrint
A Pro Carbono FootPrint é uma calculadora de carbono para produtos agrícolas, está integrada à Plataforma Pro Carbono Conecta, uma estrutura informatizada que agrega informações georreferenciadas, imagens de satélite e histórico de uso da terra.
Essa plataforma, juntamente com um protocolo de certificação, possibilitará a rastreabilidade da soja cuja pegada de carbono foi avaliada.
A pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Marília Folegatti destaca o conhecimento do projeto em análise de solo por métodos não convencionais, modelagem de estoques de carbono em sistemas tropicais e projeção da pegada de carbono em sistemas de produção. Tudo isso é apoiado na melhor ciência e na tecnologia da informação para fornecer soluções tecnológicas.
Marília ressalta que a Pro Carbono Footprint é uma ferramenta em constante desenvolvimento e que a primeira versão, dedicada à cultura da soja, acaba de ser entregue. Ela destaca o trabalho competente e colaborativo de uma equipe multidisciplinar de 16 investigadores, com o importante apoio de bolsistas de inovação.
Já a analista da Embrapa Meio Ambiente Anna Leticia Pighinelli, membro da equipe de desenvolvimento da calculadora de carbono, destaca que os próximos passos do projeto incluirão a inclusão das culturas de milho e cana-de-açúcar na próxima versão da calculadora.
A ideia é avançar ainda mais, adicionando novas funcionalidades à ferramenta e permitindo a avaliação da pegada de carbono em diferentes sistemas de produção agrícola. Anna Leticia também explica que o grupo de trabalho irá buscar alinhar a ferramenta ao GHG Protocol, para, segundo ela, “propiciar a busca contínua de avanços científicos no aprimoramento da Pro Carbono Footprint”.
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