Máquinas e Inovações Agrícolas

Causas frequentes de quebras

Por Joel Sebastião Alves*

As máquinas agrícolas quebram ou deixam de funcionar corretamente sempre no momento que mais se necessitam de seu uso: verdade? Sim; “a mais pura verdade”, no dizer do homem do campo. Neste cenário, uma diferença fundamental é importante destacar: a utilização do maquinário agrícola, na maior parte dos casos é sazonal, havendo um período de parada. E, por mais paradoxal que pareça, esse tempo parado é que acelera a deterioração de alguns componentes, fazendo com que no uso subsequente haja a ruptura ou o mau funcionamento.

Claro que poderia ser aproveitado o período parado para fazer as revisões, que às vezes ocorrem, mas nem sempre. A ruptura de componentes ou o mau funcionamento de um conjunto mecânico está relacionado a vários fatores, mas podemos agrupar as causas em dois tópicos: manutenção e operação.

Quando manutenção e operação correm bem e lado a lado as quebras desaparecem ou são reduzidas a quase a zero. Portanto, operadores bem treinados e conscientes de suas responsabilidades, uma equipe de manutenção qualificada e local com ferramental adequado são as soluções para evitar quebras nos momentos de maior necessidade.

O que mais quebra por falta de manutenção? Eixos, buchas e mancais, rolamentos, engrenagens, cruzetas e acoplamentos, molas e hastes ou alavancas. O que deixa de funcionar por falta de manutenção? Motores, sistema hidráulico, sistema de combustível, lubrificação, componentes destinados a controle de temperatura, sistemas de frenagens.

Manutenção permanente e com planejamento adequado à realidade local é a solução. Planejar a manutenção nos momentos propícios e executá-la de forma correta, eis o que deve ser feito para evitar quebras e mau funcionamento. Parece simples, mas diante da nossa realidade atual é algo bastante complexo de ser implantado nas propriedades rurais. Enumeramos alguns fatores que dificultam tal aplicação:

Aspectos históricos e culturais – Com raras exceções, não há nesse imenso País um passado que mostre a realização de manutenção de máquinas agrícolas nas propriedades. Todos os que convivem no campo já ouviram essa frase: “aqui isso nunca foi feito.” E a situação vai passando de pai para filho e por gerações. Não é muito fácil romper com essa tendência de repetir o passado, portanto, é algo cultural.

Qualificação da mão de obra – O trabalhador rural ainda carece de formação profissional para exercer seu trabalho com eficácia – aliás, esse é um problema homérico que atinge todos os setores da produção. Tanto que pessoas, para trabalharem na manutenção de máquinas agrícolas, sempre são solicitadas nas propriedades rurais. Assim como há também muita queixa dos proprietários sobre a qualidade dos serviços de manutenção, mesmo quando terceirizados.

Essa é uma realidade que necessita urgentemente ser corrigida, pois, na formação técnica de nível médio, em algumas atividades já há saturação da mão de obra, mas o que há carência é na formação profissionalizante, ou seja, quem de fato executa os serviços de manutenção. Demonstrando claramente: aquele que entra embaixo do trator para sacar o tampão do óleo do carter, que vai retirar e instalar os filtros, que vai substituir o terminal esférico do braço da direção . . . É esse profissional que falta, e cada vez mais escasseia na realidade atual desse universo virtual que vive nossa juventude.

Aspectos financeiros – Manutenção tem custos! Então, deixamos como está até onde vai funcionando e quando aparecer o problema aí se vai ver o que é possível fazer. Eis um comportamento ainda bastante predominante.

Vejamos um exemplo prático que engloba os três fatores citados acima: no sistema de direção dos tratores há um componente identificado como “braço axial da direção” ou também “haste com terminal esférico”, ou simplesmente “pivô da direção”.

É um dispositivo de acoplamento junto ao terminal da barra da direção com uma junta esférica alojada numa cavidade correspondente, que tem como função possibilitar a mobilidade do comando da direção junto ao suporte da ponta do eixo. Pois bem, essa junta esférica metálica (pivô) possui lubrificação com graxa que vem blindada de fábrica e com uma coifa de borracha para proteger das impurezas.

Esse material de borracha com o tempo resseca e apresenta trincas, por onde penetra poeira e material abrasivo, que adere à graxa, formando assim um verdadeiro esmeril no material metálico da articulação. O que fazer? Assim que observar pequenas trincas na coifa solicitar sua substituição. Qual valor dessa coifa? Aproximadamente R$ 20 (o quê? Isso mesmo!). E para fazer o serviço? Agora é o problema, pois é necessário parar a máquina e dispor de ferramentas e pessoal treinado.

Necessita um sacador especial para não danificar o braço axial, pois o “velho estilo da marreta” não vai funcionar ou vai deixar algum dano, e também precisa que se faça a correção adequada da convergência da geometria ao reinstalar o braço axial com a nova coifa. “Tudo isso? Então vai tocando que depois se vai ver. Está funcionando? Mete bronca e não para.” E o esmeril continua atuando e a folga começa a aparecer.

Quando operador é competente observa e deve relatar na inspeção diária. Aí o serviço não é mais só a coifa de borracha, agora já é necessária trocar o braço axial completo, ao custo bem mais elevado. Como o trator não pode parar, continua-se por mais um tempo. Quanto? Até que nem se lembre mais. Parou na entressafra, entrou umidade, e depois volta a trabalhar. A folga agora já é maior: “chega a ser umas férias”, na linguagem de oficina.

O que vem na sequência: folga nas buchas e mancais do suporte da ponta de eixo, e daí para os rolamentos de rodas é um passo. E se for com tração no eixo dianteiro até as cruzetas entram em jogo. Folgas, desgastes, até que, no dia de maior demanda, quebra tudo: cruzeta, rolamentos, pinos e braço axial. Máquina parada, serviço por fazer, atropelo na oficina e esvaziando o bolso do proprietário. Voltamos lá no início; qual era o valor da coifa de borracha?

Apenas um exemplo, mas existem tantos outros. Manutenção! Quem faz manutenção? Talvez alguns façam, talvez algum dia todos façam. Assim esperamos e almejamos esse futuro o mais rápido possível, pois todos ganham.

E a operação? Pode ser causa de quebra ou mau funcionamento? No linguajar operacional: “a pecinha atrás da direção” pode ser sim um dos fatores que contribui. O operador é o principal agente para os cuidados da máquina, e ao mesmo tempo também pode ser o principal destruidor do equipamento. O comportamento e o manuseio dos comandos por parte do operador são determinantes para manter a máquina em pleno funcionamento. Será?

Um operador despreparado ou mal intencionado pode quebrar uma ponta de eixo ou uma engrenagem da caixa ou diferencial no arrancar o deslocamento de um trator, por mais mecanismos de segurança e proteção que haja. Assim, como na utilização dos diversos implementos durante a execução dos serviços, ao tracionar implementos, se o operador não manter atenção constante, poderá sofrer trancos violentos que podem levar a rupturas e quebras de componentes.

Repetimos (essa é a vocação de Instrutor), o que em outras oportunidades já destacamos: todo o operador deve possuir conhecimento de como funciona a máquina e seus diversos conjuntos mecânicos, bem como do implemento que está acoplado ao trator, pois é a partir desse conhecimento que é possível racionalizar o uso adequado da máquina. Caso contrário, o operador apenas irá decorar alguns procedimentos e não saberá agir e decidir diante de situações diferenciadas. Treinar e qualificar constantemente as equipes de operação e reforçar diariamente a importância de um comportamento ético correto e seguro na operação.

Algumas atitudes operacionais que podem serem adotadas pelos operadores e que certamente irão acarretar danos, estão relacionadas aos comandos que podem ser executados de forma brusca ou aos solavancos. Quando se opera uma máquina de grande capacidade de força, também os comandos possibilitam mudanças na distribuição e aplicação dessas forças, e se não forem tomados alguns cuidados, as quebras e mau funcionamento logo aparecerão.

Por exemplo: ao levantar o giro do motor excessivamente no momento de soltar a embreagem, irá causar um impacto violento em toda a transmissão, podendo até quebrar uma engrenagem ou um eixo; ao realizar um comando do hidráulico, executar de forma repetitiva e bruscamente, jogando o comando num vai-e-vem proposital para sacudir todo o equipamento, assim pinos, mancais e hastes do pistão hidráulico estarão expostos a rupturas; nas máquinas com transmissão automática forçar paradas bruscas com uso abusivo dos dispositivos de segurança, e manter o giro do motor acima do recomendado. Eis alguns procedimentos operacionais ainda possíveis de constatar-se por parte de alguns operadores e que levam a quebras e mau funcionamento.

Investir na manutenção e na operação é o caminho para uma vida longa do maquinário e sem surpresas de quebras e atropelos na hora de executar os serviços tão necessários que a máquina possibilita, e assim usufruir dos lucros indispensáveis ao agronegócio.

*Joel Sebastião Alves é instrutor de operação e manutenção de máquinas e implementos agrícolas e rodoviários

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