Os baixos preços de comercialização da soja, somados à menor produtividade e custos de produção recorde, comprometeram as margens da atividade, mostrando a descapitalização do produtor
O Sistema CNA/Senar promoveu, na terça (12), o primeiro evento do Circuito de Resultados do Projeto Campo Futuro, em Carazinho (RS), para apresentar os principais dados dos levantamentos dos custos de produção de grãos na safra 2022/2023.
Neste ano, os técnicos do Projeto realizaram 31 painéis em 12 estados. Os encontros reuniram produtores, pesquisadores, sindicatos rurais, de federações de agricultura e pecuária e administrações regionais do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
O evento, realizado em parceria com a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e o Programa Duas Safras, também apresentou ferramentas de gestão de preço e risco climático, além de novas fontes de financiamento que ajudarão os produtores na gestão da propriedade e na expansão da produção agrícola.
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O vice-presidente da CNA e presidente da Farsul, Gedeão Pereira, ressaltou a importância da busca constante por tecnologia e conhecimento dos indicadores econômicos para ampliar a competitividade dos produtores rurais.
“O projeto Campo Futuro apresentou os levantamentos no país inteiro, trazendo comparações do Rio Grande do Sul com outras regiões da agricultura brasileira. A produção de grãos é bastante desafiadora e é muito importante trazer esse conhecimento aos produtores”, ressaltou.
O vice-presidente da CNA ressaltou que há poucas décadas o Brasil passou de importador a exportador de produtos do agro. “Isso exige que o setor busque continuamente novas tecnologias aliadas à gestão. O Campo Futuro contribui para ajudar os produtores rurais na tomada de decisão e no gerenciamento da propriedade rural”, destacou.
Campo Futuro
Na palestra “O que os custos de produção revelam?”, o assessor técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, Tiago Pereira, e o pesquisador do Cepea, Mauro Osaki, mostraram o desempenho dos produtores de grãos na região de Carazinho e em outras regiões produtoras de grãos no Brasil e falaram sobre como os produtores rurais devem se planejar para o próximo ano.
“A safra de grãos 2022/2023 mostrou que a condução das lavouras, principalmente de milho e de soja, foi bastante desafiadora, com altos custos de produção e baixos preços de comercialização, comprometendo as margens dos produtores”, destacou Pereira.
O assessor técnico da CNA destacou que o estado do Rio Grande do Sul enfrentou mais um ano de quebra de safra, principalmente para milho e soja.
“Em Carazinho, as produtividades obtidas para o milho e para soja não foram suficientes para pagar os desembolsos diretos na safra. Para o milho, os resultados mostram que é a segunda safra seguida com margens negativas para o produtor da região”.
Valor da produção agropecuária é estimado em R$ 1,14 trilhão em 2023
Já para a soja, os baixos preços de comercialização somados à menor produtividade e custos de produção recorde, comprometeram as margens da atividade, mostrando a descapitalização do produtor.
O pesquisador Mauro Osaki, do Cepea, apresentou a análise a partir do cenário nacional.
“De forma geral os custos com os fertilizantes impactaram todas as culturas, seguidos pelos custos com os defensivos agrícolas. Os produtores também sentiram desafios com pragas, como o percevejo nas lavouras”, destacou Osaki.
Confira os principais dados por cultura analisada:
Soja:
O preço médio da soja diminuiu 20% na safra 2022/2023 em relação à anterior.
A receita bruta média caiu 15,0% no mesmo período. O Custo Operacional Efetivo (COE) médio, por sua vez, subiu 33% na safra 2022/2023 frente a 2021/2022.
As chuvas irregulares e a seca trouxeram prejuízo para os produtores gaúchos. Todas as regiões pesquisadas não cobriram o COE.
Milho:
Para a safra de milho verão, o preço médio recuou 31% em relação à safra 2021/2022.
O COE médio da safra 2022/2023 ficou 57% superior ao contabilizado na temporada 2021/2022.
As regiões pesquisadas não conseguiram registrar margem bruta positiva.
O custo médio da segunda safra aumentou 35% e a receita bruta recuou 21% na safra 2022/2023 frente à passada.
A margem bruta média ficou R$ 505/ha (negativo) e somente cinco regiões pagaram o COE: Sorriso (MT), Campos Florido (MG), Uruçuí (PI) Rio Verde (GO) e Campo Novo do Parecis (MT).
Trigo:
A receita bruta média trigo aumentou 17% na safra 2022/2023, se comparada à anterior.
O COE médio da safra 2022 ficou 37,1% superior ao contabilizado na temporada 2021.
Arroz e Feijão:
A receita bruta média do arroz irrigado aumentou 16% na safra 2022/2023 em relação à safra 2021/2022. Já para o feijão essa alta foi de 7% para o mesmo período.
O COE médio do arroz irrigado ficou 33% superior na safra 2022/2023 contra 2021/2022. Para o feijão, a alta foi de 23% na safra 2022/23 em relação à safra 2021/2022.
O feijão 1ª safra apresentou Receita Bruta (RB) superior ao COE para as três praças pesquisadas. Por outro lado, o feijão segunda safra teve RB superior ao COE.
De olho no futuro
Há 10 anos, o produtor rural Leomar Tombini, presidente do Sindicato de Produtores Rurais de Carazinho, participa dos levantamentos de custo de produção do Projeto Campo Futuro.
“Eventos como esse agregam novas ideias aos agricultores, como a possibilidade de ampliar o potencial produtivo no inverno, que hoje está em torno de 15%. Esse evento é um incentivo para nós, agricultores, entendermos que a necessidade da diluição dos custos com outras culturas, além da soja”.
Após a apresentação dos dados, os produtores rurais assistiram a palestras com especialistas sobre financiamento privado no agronegócio, gestão de riscos na agricultura e estratégias de comercialização e proteção de preços.
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