Máquinas e Inovações Agrícolas

Conhecimento técnico-operacional favorece o uso eficiente do maquinário agrícola

Por Joel S. Alves *

A presença cada vez maior de máquinas e implementos nas atividades agrícolas no Brasil é uma realidade que salta aos olhos de todos que acompanham o setor – e até mesmo daqueles que esporadicamente observam o campo durante viagens pelas estradas e rodovias do País. Desde o preparo do solo até a colheita, passando pelo plantio e crescimento das culturas, em todas as etapas do processo, lá estão os equipamentos em ação. Como consequência, há a necessidade crescente de pessoas aptas a operá-los.

O operador de máquinas agrícolas tornou-se “figurinha carimbada” em qualquer localidade rural, de modo que a qualificação técnico-operacional é uma necessidade urgente na realidade atual. Operar uma máquina veicular (trator, colheitadeira ou pulverizador, por exemplo) requer conhecimento para manuseio de comandos, o que pressupõe coordenação motora, rapidez para tomadas de decisão e capacidade intelectual para assimilar os recursos oferecidos pela máquina. Não é decorar procedimentos ou copiar as atitudes repassadas por quem prestou orientação durante a entrega técnica ou treinamentos. É indispensável conhecer para saber fazer. Há uma permanente reciprocidade entre fazer, aprender, fazer melhor, reaprender, para render mais, produzir com resultados melhores e mais eficientes, pois as máquinas evoluem e aperfeiçoam-se. E o operador?    

A versatilidade e diversidade de recursos que as máquinas veiculares oferecem exigem operadores com capacidade técnica melhores do que em outras épocas. O que venho observando em treinamentos que vivencio é o quanto há de recursos disponíveis nos equipamentos e que não são utilizados por pura falta de conhecimento. Com isso, perdemos rendimento e eficiência e, consequentemente, desperdício de recursos financeiros, recaindo tais custos sobre toda sociedade. Mas o que há de tão diferente? E que técnicas são essas?

Elucidamos algumas, dentro do possível na linguagem escrita. Tratores e colheitadeiras são máquinas que se deslocam com o objetivo de realizar os serviços para os quais foram projetadas, portanto, são máquinas veiculares. Como tal, devem possuir comandos básicos de veículos automotores, que são cinco: três pedais (freio, embreagem e acelerador), mais o comando de direção e o de mudança de marcha ou velocidade. Por meio deles já seria possível colocar o equipamento em movimento, mas a máquina foi projetada para executar serviços – e todos eles requerem comandos e dispositivos de acionamento. Aí é que começa a função do operador.

Os comandos são, cada vez mais, em maior número e com mais opções de variabilidade. Mesmo os comandos básicos estão diversificados, como é o caso do comando de marchas; hoje há tratores com escalonamento de 51 opções. Claro que há o conforto da opção automática, mas sempre requer o acompanhamento atento do operador. Outro item que sofreu mudança significativa é o acelerador, pois deixou de ser um comando mecânico para ser um atuador eletrônico, mais sensível e também mais preciso.

Quem operava alavanca ou pedal com haste, agora dispõe de botão de potenciômetro ou manete. Melhor? É evidente, mas é muito diferente, e aí está um quesito: há necessidade de mudança comportamental. Só no item acelerador, presenciamos o quanto não estão sendo observadas as recomendações operacionais, pois vivenciamos ainda o velho hábito do “pé no bucho” ou “cano cheio” – no caso da manete, é toda acionada “no batente”. Para cada tipo de serviço ou realidade há uma aceleração recomendada, dentro da faixa de torque do motor, obviamente.

Comandos básicos
E os comandos para acionamentos dos dispositivos? Aí reside a essência das Técnicas Operacionais dos Tratores e Máquinas. Nos tratores, tais comandos são para o acionamento do sistema de três pontos de acoplamento de implementos e os comandos do sistema hidráulico adicional, conhecido como sistema remoto. Esses comandos são bastante conhecidos dos operadores de tratores, principalmente o de três pontos. Embora, muitas vezes, não sejam usados com todo potencial disponível, por exemplo: o acionamento de três pontos, além de levantar e baixar, também possibilita regular a sensibilidade, tanto para manter o hidráulico forçando quanto para o retorno, além da regulagem da profundidade.

Nem sempre os operadores aplicam todas essas opções disponibilizadas pela máquina. A técnica operacional correta aponta para uso de todos os recursos disponíveis de forma eficiente e dentro dos parâmetros recomendados – são muitas informações que exigem conhecimento. O comando remoto oferece uma gama variada de opções, que vão desde subir, baixar, abrir, fechar, girar, guinchar ou suspender, deslocar para os lados, controlar rotação, enfim, múltiplas opções, que requerem operador preparado. Muito conhecimento e treinamento.

Recapitulamos as etapas ao operar o trator: acelerar, controlar a embreagem, iniciar o deslocamento, visualizar o local, manter a dirigibilidade, frear, manobrar, trocar de marcha, alinhar para as tarefas, acionar e regular os comandos, monitorar o painel, verificar como está o serviço, corrigir se necessário, continuar a manobrar, e assim prosseguir. Ah! E, ainda, se houver o monitor de gerenciamento, ficar de olho nele. De fato, muita capacidade técnica, concentração e coordenação motora. Reforçamos a importância de conhecer como funcionam os conjuntos mecânicos básicos da máquina, pois assim o operador terá melhores condições técnicas para tomar decisões em diversas situações e conseguir mais rendimento dentro dos limites recomendados, bem como contribuir para uma vida útil prolongada para a máquina (assunto que já abordamos em outra oportunidade).

Racionalidade na operação
Outro aspecto técnico importante nas operações com tratores agrícolas está relacionado ao tipo de manuseio que o operador executa para proceder ao acionamento dos controles e comandos. Tais procedimentos devem ser suaves e constantes e não truncados ou bruscos. Os tratores modernos possuem comandos bastante leves, bem diferentes dos modelos antigos de alavancas pesadas. Essa diferença é fundamental para que o operador se adapte a novas técnicas operacionais. Cabe aqui reforçar a importância de conhecer como funcionam os diversos conjuntos mecânicos, elétrico-eletrônico e hidráulico das máquinas, pois somente assim o operador tem uma noção exata do que está acontecendo no momento em que executa os comandos, e não apenas decorando procedimentos. Como instrutor sempre destaco perante os participantes a importância dessa abordagem, para que haja mais racionalidade na operação. Essa é uma diferença gritante que se percebe entre saber o que está fazendo e apenas copiar.

E com relação às colheitadeiras? O assunto é inesgotável e as técnicas muito diversificadas. Vamos sintetizar. Essas máquinas possuem várias funções operacionais, que podem ser agrupadas, e há critérios diversos para elaborar esse agrupamento, conforme o foco. Nos treinamentos costumamos adotar o seguinte: colher (corte e alimentação), trilhar (separação e limpeza) e, por último, transportar, armazenar e descarregar.  Além, é claro, de autopropelir. Então: comandos para deslocar a máquina, comandos para colher, comandos para trilhar e, finalmente, comandos para armazenar e descarregar os grãos.

Comandos para deslocar: é a manete de controle da RPM do motor e a de deslocamento, que hoje se encontra no joystick multifuncional ou na alavanca multifunção. Mais uma vez, destacamos a importância de manter o giro (RPM) do motor dentro da faixa de torque e o recomendado para o tipo de serviço. A alavanca de deslocamento deve ser posicionada de tal maneira que mantenha a velocidade adequada para execução da tarefa. Tudo feito sempre com comandos suaves e contínuos.
Comandos para colher: controle do molinete (altura, deslocamento para frente, e rotação), controle da altura e inclinação da plataforma de corte, controle  do alimentador. São comandos que variam conforme a configuração da máquina, sendo que os do molinete e da plataforma em geral se encontram na manete joystick. Esses comandos requerem uma atenção permanente do operador, pois qualquer descuido acarreta perdas significativas na colheita.
Comandos para trilhar: Comando de acionamento do sistema de trilha e comando de controle de rotação do rotor, comando das peneiras separadoras, comando dos ventiladores, e comando do picador de palha.
Comandos para transportar, armazenar e descarregar: o sistema de transporte e elevação de grãos até a armazenagem é acionado simultaneamente com a trilha, requerendo apenas que o operador observe constantemente o enchimento do tanque graneleiro. A descarga possui comando próprio, que são para levantar e posicionar o tubo de descarga, e o acionamento do helicóide (sem-fim) do tubo para efetuar o descarregamento dos grãos colhidos. Tais comandos, em geral, encontram-se junto a manete multifuncional. Concluindo, assim, a etapa do serviço, para reiniciar novamente.

Eis uma rápida síntese dos comandos e controles: são pequenas manetes, joystick, botões (com duas ou mais posições) e variadores tipo potenciômetro. Nas máquinas atuais as opções de comandos e controles operacionais estão bastante diversificados, variando conforme marca e modelo, mas o que se verifica é a centralização do painel de comando junto ao console direito do operador e ao alcance da mão, mantendo o braço apoiado. Dessa maneira, a máquina atende os preceitos da ergonomia e melhora o desempenho e a eficiência do operador.

O operador deve se manter atento a todos esses procedimentos operacionais, com pleno domínio da máquina e do local onde se encontra, de forma a manter a sua segurança, a dos equipamentos e a de outras pessoas. A responsabilidade é do operador!

Não é à toa que profissionais capacitados para a operação de máquinas agrícolas são cada vez mais procurados no mercado de trabalho. Há uma carência nessa área, pois se requer eficiência técnica e operacional. Como vimos, o maquinário evoluiu bastante, possibilitando uma gama de recursos muito vasta, porém não houve o necessário acompanhamento na formação de profissionais.

Joel S. Alves é instrutor nas áreas de Operação e Manutenção de Máquinas e Implementos Agrícolas e Rodoviários *

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