Máquinas e Inovações Agrícolas

CSMIA traça cenários para o agro

Por Adriana Gavaça

Para trocar experiências sobre o mercado atual, macroeconomia, tendências tecnológicas e os cenários da agropecuária no Brasil e no Mundo, a Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), promoveu a 20° edição do Seminário de Planejamento Estratégico Empresarial para 2021 com o tema “O Agro brasileiro e a recuperação econômica”.

O presidente da CSMIA, Pedro Estevão, abriu o evento com a notícia de crescimento de 9%, nas vendas reais de máquinas agrícolas, no Brasil, já descontada a inflação, o melhor patamar desde 2013.

O resultado, conforme o executivo, já impactou sobre as linhas de crédito para o setor. “O volume do Pronaf Mais Alimentos e do Moderfrota deve se esgotar até dezembro”, apontou. Ele disse não acreditar em aportes adicionais do governo, até por conta do cenário econômico atual.

O Pronaf Mais Alimentos pode ser contratado de forma individual e coletiva e é voltado exclusivamente para o financiamento de construção, reforma ou ampliação de benfeitorias e instalações permanentes; máquinas; equipamentos, inclusive de irrigação; e implementos agropecuários e estruturas de armazenagem, de uso comum. Já o Moderfrota é um financiamento para a aquisição de tratores, colhedoras, plataformas de corte, pulverizadores, plantadoras, semeadoras e equipamentos.

No início da semana, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já havia publicado circulares informando que a linha Inovagro e parte da linha do Pronaf Investimento foram suspensas “em razão do nível de comprometimento de recursos disponíveis para o Ano Agrícola 2020/21”. No caso do Pronaf Investimentos, o banco disse que a suspensão ocorreu exclusivamente nas linhas de crédito com taxa de juros prefixada de até 4% ao ano e que, portanto, “não se aplica aos financiamentos destinados à aquisição de caminhonetes de carga e de motocicletas adaptadas à atividade rural, bem como à aquisição de tratores e implementos associados, colheitadeiras e suas plataformas de corte, assim como máquinas agrícolas autopropelidas para pulverização e adubação”. Em relação ao Inovagro, linha destinada à inovação tecnológica na produção agropecuária, houve comprometimento total dos recursos, mesmo eles sendo 33% maiores este ano-safra em relação ao anterior, somando R$ 2 bilhões. Já as linhas totais do Pronaf (custeio, comercialização e investimento) somam, no atual ciclo, R$ 33 bilhões, volume 5,7% maior ante 2019/20.

Recuperação

O seminário contou ainda com a participação de João Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que falou sobre “O Impacto da Proteína Animal na Nova Economia Mundial”; Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco e vice-presidente do comitê de macroeconomia da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), com o tema “Macroeconomia e Seus Efeitos no Setor Agropecuário Brasileiro”. Além de Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, acerca dos “Cenários da Agropecuária no Brasil e no Mundo”.

Em sua palestra, Santin destacou o avanço da pecuária brasileira, com aumento nas exportações, cujo principal mercado ainda é a China, que participa com 31%. Ele destacou o fato de as proteínas animais terem rastreabilidade em todo o processo, status sanitário de nunca ter tido gripe aviária e estar livre da zona de peste suína africana. “Temos ainda flexibilidade de mercado. Exportamos hoje para mais de 160 países”, destacou.

O executivo disse que o setor também foi impactado pela crise econômica, mas que a alta do dólar ajudou a diminuir as perdas. Sobre como enxerga o futuro, Santin se mostra otimista para o setor.

“A proteína animal ainda será uma forte opção na escolha do consumidor no cenário pós-Covid”, assinala. Por outro lado, o executivo reconhece que os preços seguirão a tendência de alta, principalmente na carne vermelha. “Em uma conjuntura econômica sensível, mesmo os consumidores mais ávidos podem estar dispostos a migrar de proteína, optando pelas carnes de aves e suínas”, aponta.

Dívida preocupa

Economista destacou estímulo dado à economia global

O economista-chefe do Bradesco e vice-presidente do comitê de macroeconomia da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Fernando Honorato, falou sobre o tema “Macroeconomia e Seus Efeitos no Setor Agropecuário Brasileiro”.

Honorato ressaltou a ajuda que a economia mundial recebeu de seus governos, durante a pandemia, como um dos fatores principais para uma retomada agora. “Foi um caminhão de estímulos só visto no pós-guerra”, afirmou. No Brasil, ele lembrou que esse socorro se aproximou de 9% do PIB.

Para ele, o País foi beneficiado pela contribuição do mercado externo. Enquanto a expectativa para o comércio global é de queda de 4,5%, este ano, no Brasil as exportações seguem em alta. “É um dos poucos países que tem aumento de exportação e 80% desse volume se deve ao mercado agrícola”, destacou. A explicação para esse resultado, o economista diz que está na combinação de câmbio favorável, safra agrícola recorde e demanda global.

Como desafio, Honorato aponta uma preocupação no mercado financeiro sobre se o teto da dívida será mantido pelo governo e de que forma essa manutenção será feita, se por cortes nos gastos ou por aumento da arrecadação, através de impostos.

“Se não for corte de gastos e aumento de arrecadação, o caminho é a inflação. Podemos aí ter uma desorganização do ambiente de negócios e preços de ativos”, assinala.

Para o executivo, a taxa de câmbio está atingindo um ponto de alerta. Ele ressalta que, embora o nível atual seja bom para setores exportadores, como a agricultura, por outro lado poderá representar “apenas risco, inflação e descontrole”. “Estamos atingindo um risco limiar”, alerta.

Agropecuária em foco

Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, apresentou em seu painel “Cenários da Agropecuária no Brasil e no Mundo”. O executivo destacou o potencial do País em alguns setores, como milho, em que hoje as exportações somam cerca de 14,3%, nas últimas duas décadas, com potencial para passar os Estados Unidos em breve.

 

 

 

 

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