Máquinas e Inovações Agrícolas

Empresa sul-coreana instala fábrica de tratores em Santa Catarina

Em agosto, quando o primeiro lote de tratores sair da linha de montagem na fábrica instalada em Guaruva (SC), a sul-coreana LS Tractor, ligada a LS Mtron, do Grupo LG, terá concretizado um passo histórico rumo à expansão dos limites de seu território de atuação. Depois de 35 anos estabelecida na Coreia do Sul e na China com apenas um escritório comercial nos Estados Unidos, a montadora terá a primeira planta industrial fora do continente asiático.

Naturalmente, o Brasil não foi escolhido por mero acaso. Pelo contrário. Dentre outros fatores, o posicionamento estratégico da marca levou em conta a perspectiva de retorno do capital a ser investido pela corporação. “O Brasil é a quinta potência mundial do agronegócio e tem muito potencial para o crescimento”, justificou Jae Seol Shim, presidente mundial da LS Mtron. Shim e outros integrantes da alta cúpula da empresa demonstraram a importância atribuída a essa operação no Brasil. Eles deixaram a sede na Coreia e se fizeram presentes à solenidade de lançamento da pedra fundamental da fábrica de Guaruva, dia 27 de fevereiro, quando a planta já se encontrava em estágio avançado de construção.

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Em um discurso “recheado” de informações técnicas, institucionais e econômicas, o presidente mundial da companhia destacou uma coincidência que lhe agradou: “iniciamos nossas operações no País no ano em que se comemora o cinquentenário da imigração coreana para o Brasil”.

Rendas versus competitividade. Na primeira etapa, a fábrica brasileira receberá um aporte de US$ 30 milhões de dólares. Os recursos serão destinados para viabilizar uma linha de produção capaz de produzir 5 mil tratores por ano, operando com 100 funcionários. Segundo estimativas da empresa, somados aos empregos indiretos que serão gerados, esse número sobe para 1.100 postos de trabalho.

Do portfólio de produtos da marca, cinco modelos – na faixa de potência que vai de 25 cv até 100 cv – foram selecionados para a “estreia” da marca em solo tupiniquim. Os modelos produzidos em Guaruva terão versões simples e com itens de conforto, como cabines, por exemplo. “Esse é o perfil de 70% dos tratores comercializados no Brasil”, afirmou André Rorato, diretor comercial da empresa.

Tanto quanto a escolha pelo volume, a LS Tractor também foi criteriosa na seleção dos mercados-alvo. Nos primeiros anos, atuará somente em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. “Nesses estados estão uma parcela expressiva do perfil de usuários que desejamos atingir: pequenos proprietários rurais e agricultores familiares”, justificou James Yoo, presidente da empresa no Brasil.

Com a promessa de montar uma estrutura sólida e ampla para atender seus clientes, o diretor adiantou que toda a infraestrutura necessária já está bem adiantada para comercializar os tratores da marca. “Os primeiros distribuidores escolhidos têm cerca de 20 anos de atuação no setor”, garante. De acordo com o planejamento traçado, ainda este ano a marca inaugura 18 revendas – resultado de parcerias já fechadas com 14 empresários. “Até o final de 2014, a meta é alcançar 32 pontos de distribuição”, calculou.

Rorato reconhece que no primeiro ano pode não atingir a capacidade máxima de produção, estimada em 5 mil tratores. “O processo de crescimento será gradativo. Em 2013 serão produzidas 700 unidades”, estimou. Para colocar a marca LS Tractor, contudo, em iguais condições de disputa com as demais operantes no Brasil (inclusive beneficiada pelos programas governamentais com juros reduzidos ou subsidiados), a fabricante tem o objetivo de iniciar as operações com índice de 65% de nacionalização. Um dos grandes fornecedores brasileiros será a MWM, responsável pelos motores dos modelos com potência acima de 60 cv. A ZF fornecerá os eixos dianteiros tracionados para os tratores da marca. Já o câmbio, outro item de alta tecnologia, será importado.

Colheita e mercado externo. A fábrica brasileira pode ser pequena para os padrões de escala exigidos atualmente ou se comparada com a outra filial, na China, que produz 30 mil unidades por ano. Mas, a alta cúpula da empresa deu a entender que a trajetória no Brasil será longa. A caminhada apenas começou. “O primeiro passo foi dado em 2010, quando iniciamos o estudo de viabilidade desse projeto, que culminou com a escolha de Guaruva; o segundo é este. Em breve, anunciaremos o terceiro. Vocês serão convidados”, prometeu o presidente mundial.

Mais tarde, Shim confirmou que a unidade brasileira foi planejada para ser uma plataforma de exportação para o continente americano, sendo estrategicamente localizada nas proximidades da Rodovia BR-101 e apenas a 22 km do porto de Itapoá, no município do mesmo nome, também em Santa Catarina.

Apesar de ser considerado prematuro falar de novas linhas, quando questionado, James Yoo admitiu a possibilidade de produzir na mesma planta colheitadeira de arroz no futuro próximo. Enquanto aguarda o mês de agosto para ver o nascimento da sua primeira máquina no ocidente, a LS Mtron apresenta ao produtor rural brasileiro a linhagem de sua família trazendo os “irmãos” coreanos.

Bastidores. Da Coreia do Sul se deslocaram Jae Seol Shim, presidente mundial da LS Mtron; Kwang Won Lee, vice-presidente mundial da LS Mtron e presidente da divisão de tratores. No lançamento da pedra fundamental marcaram presença prefeitos, secretários, deputados e o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, além de líderes empresariais, dentre eles, José Côrte, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc).

Além da diretoria local, funcionários e duas dezenas de jornalistas foram “especialmente convidados” de Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo, estados onde a marca LS Tractor iniciará suas vendas.

À primeira vista parecia desproporcional tamanha pompa para o lançamento da pedra fundamental de uma fábrica que vai gerar apenas 100 empregos diretos e produzir cerca de 420 tratores por mês. No entanto, ao que parece, o que a maioria das pessoas festejava não era somente o acontecimento presente, mas também as suas benéficas consequências para o futuro da região.

Situada ao norte de Santa Catarina, a pequena Guaruva conta com cerca de 15 mil habitantes. O prefeito José Chaves vislumbra a possibilidade de essa fábrica ser o marco de um processo de industrialização em seu território.

Com essa expectativa, ele criou o distrito industrial e revelou ter mantido contato com diversas empresas que desejam se instalar no município. Na presença dos convidados, cobrou do governador a pavimentação das vias que levam à área.

Raimundo Colombo disse que visitou a LS Tractor na Coreia e viu o potencial do grupo LS Mtron com o qual o estado deseja fortalecer cada vez mais a parceria. Falando em português, o recém-chegado presidente da LS Tractor no Brasil, James Yoo, ressaltou o alto índice de profissionalização do agricultor brasileiro e elogiou a economia do País.

E, por fim, o presidente mundial da Divisão de Tratores prometeu “surpreender o produtor brasileiro com os produtos da marca”, enquanto o presidente mundial da LS Mtron revelou a possibilidade de fazer da fábrica de Guaruva uma plataforma de exportação para a América Latina.

As raízes da LS Tractor. A empresa sul-coreana LS Tractor pertence ao grupo LS Mtron, 13º maior grupo empresarial da Coreia do Sul, com faturamento anual de US$ 30 bilhões, e com origem na gigante de eletroeletrônicos LG.

Sua raiz na área de agronegócio foi cravada em 1976, porém, ganhou status de fábrica no ano seguinte, quando firmou parceria com a Fiat – New Holland – e passou a produzir tratores. Seis anos depois, porém, o grupo LG (que na época se chamava Gold Star) comprou essa operação.

Mas, em 2005, a divisão LS foi desmembrada do grupo LG e ficou com o segmento de máquinas. Em 2008, nasceu a LS Mtron, com quatro áreas de negócios: sistema de ar-condicionado, componentes (peças), materiais eletrônicos, e a divisão de máquinas, denominada LS Tractor.

A matriz está situada na cidade de Jeonju e tem capacidade para produzir 10 mil unidades com um turno de trabalho, e o dobro com dois turnos. A planta chinesa pode fabricar até 30 mil unidades anuais com dois turnos.

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