Máquinas e Inovações Agrícolas

Equipamentos modernos exigem mecânicos capazes para assistências e orientação

A preparação do mecânico de máquinas agrícolas mudou acentuadamente nos últimos anos. O surgimento de produtos específicos e a diversidade de tecnologias nas linhas de produção agora renovam também a necessidade de amplo conhecimento e, mais que isso, de atualização contínua.

O maior acesso à tecnologia incorporada levou o Brasil a se firmar no mercado global de máquinas agrícolas, não só pelos players que disputam o mercado interno, mas pela capacidade de conversar com o que se fabrica na Europa e nos Estados Unidos. Os produtos estão mais específicos na execução de funções e processos, e a indústria tem investido milhões de dólares em inovação, puxada pela tecnologia, sobretudo sustentável, de maior durabilidade e econômica.

Assim, a busca constante por aprendizado passa a ser indispensável, transformando o perfil do trabalhador que atua na linha de montagem e, principalmente, daquele que faz a manutenção dos equipamentos. Segundo o gerente de treinamento da John Deere, Darci Teixeira, “hoje precisamos de um técnico com perfil de consultor, e não simplesmente de uma pessoa que oferece mão de obra”. O mecânico Maykon Gomes, do Grupo Unimaq, afirma que no passado a tecnologia não era tão usada por causa dos altos custos. No momento, dispositivos eletrônicos já substituem ferramentas. “A tecnologia está mais acessível, até mesmo aos pequenos produtores, ajudando tanto os clientes a aumentar a produtividade, quanto nós, técnicos, a fazer diagnósticos rápidos e mais precisos”, analisa.

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A John Deere investe cerca de R$ 4 milhões ao dia em inovação para a fabricação dos dispositivos e possui dois sistemas de diagnósticos eletrônicos: o Serviceadvisor e o Dtac, que prestam suporte técnico com o objetivo de diminuir custos e reduzir o tempo que as máquinas ficam paradas em caso de falha. Já a Agco desenvolveu o sistema Agcommand, que monitora as máquinas agrícolas a distância por meio da chamada telemetria – transmissão automática de dados via sinal de telefonia celular. A Jacto tem o Jacto Quality Spray (Jqs), um sistema integrado que possibilita a pulverização precisa, com controle eletrônico de vazão e calibração automática.

Inseparável informática. Maykon Gomes avalia o conhecimento em informática como um importante requisito. “O notebook é a ferramenta mais usada para diagnosticar e até mesmo resolver problemas”, assegura. “A facilidade para lidar com tecnologia e informática é cobrada de nós. E isso não é só na empresa, mas também por parte do produtor rural, no campo mesmo”, enfatiza.

O gerente de Serviços da Shark Tratores, Everaldo Rodrigues, entende que o setor tem passado por grandes transformações, exigindo maior qualificação para o trabalho. “Os equipamentos evoluem muito rápido, e isso deixa os profissionais de áreas distintas bastante desatualizados”, afirma o gerente, que já foi mecânico. O mercado admite que a atualização profissional é um grande desafio na seleção de mecânicos e reforça o peso do RH no desenvolvimento de programas de treinamento customizados.

Instituições de ensino como a Ceft Bambuí (MG), a Etec Fernandópolis (SP) e o Senai de Ribeirão Preto (SP) já perceberam essa transformação estrutural e oferecem cursos técnicos de mecanização básica gratuitos, com duração que vai de seis meses a um ano e meio. Ao sair deles, muitos alunos tentam ingressar no mercado como trainees. Entretanto, essas aulas apenas inserem os interessados no assunto, não se mostrando suficientes para o desenvolvimento da carreira, para a dimensão de conhecimento técnico que se exige. “As escolas, além de muito poucas, formam profissionais apenas com noções rasas”, afirma Everaldo. A atualização necessária na maior parte dos casos só é adquirida quando se tem algum vínculo empregatício, o que reforça a ideia de que a educação no Brasil apenas prepara para o mercado, mas a formação de fato ocorre, no jargão dos profissionais de RH, in company, já que o mecânico, na maioria das vezes, não tem condições financeiras para se atualizar sozinho.

Para lidar com as mudanças constantes e a carência na qualidade da formação, as empresas reforçam os cursos periódicos. De acordo com o coordenador de Treinamento da Jacto, Rafael Arcuri Neto, “a preocupação na formação é ainda maior nos dias de hoje, pois um ajuste ou um diagnóstico preciso é muito importante, e não compromete a utilização ou qualidade do trabalho executado pelo equipamento”. Isso mostra que a aliança entre empresas e instituições de ensino é fundamental.

Instituições de confiança. O Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) é uma das instituições a que os fabricantes mais recorrem. Outras escolas também são parceiras, como a Faculdade de Horizontina (Fahor), do Rio Grande do Sul, e o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural).

A Jacto, além da parceria com o Senai na educação profissionalizante em mecânica, eletrônica e robótica, ajudou a fundar e utiliza a Fatec Shunji Nishimura, em Pompeia, onde há uma das poucas graduações tecnológicas em Mecanização em Agricultura de Precisão do Brasil. Lá, são oferecidas 80 vagas, divididas entre manhã e noite, e o único gasto que se tem é com a inscrição do vestibular.

Os treinamentos também mudaram, pressionados pela diversidade de produtos e pela tecnologia a serviço da formação profissional. De acordo com Rafael Arcuri, hoje as aulas são modulares e direcionadas. “São divididas, por exemplo, em elétrica, eletrônica, hidráulica e mecânica, e também em entrega técnica e operação”, comenta. “O foco do estudo é para o circuito de aplicação especificado. Por exemplo, curso de elétrica do Uniport 3030 ou hidráulica do Uniport 3030.” Ele afirma ainda que antes as máquinas eram mais simples e os cursos de capacitação tinham em média 40 horas. Hoje, a carga horária é de 200 horas.

O tempo de prática também conta. Everaldo Rodrigues diz que, para estar hábil, o técnico precisa de, no mínimo, cinco anos de experiência. “Os profissionais passam por vários estágios nas indústrias durante esse tempo. A demora é grande até que eles se tornem maduros e aptos”, complementa.

O longo tempo de experiência traz retornos. Everaldo avalia que esse profissional capacitado pode trabalhar em qualquer empresa agrícola sem dificuldade. Quando submetidos a treinamentos, os mecânicos ficam em sintonia com a tecnologia global, o que é fundamental, já que o Brasil dispõe das mesmas soluções utilizadas na Europa e nos Estados Unidos. Porém, tem que ter em mente que a área está sempre com novidades. “Todo dia surge um maquinário novo”, admite.

A Shark Tratores, por exemplo, gastou em 2013 cerca de R$ 150 mil com transporte, alimentação e hospedagem voltados a treinamentos. Apesar do valor alto, conseguiu atualizar apenas 40% da sua equipe mecânica, devido à indisponibilidade de vagas e à distância dos centros preparatórios. A empresa estima que em 2014 o budget suba para R$ 200 mil.

Everaldo salienta que, apesar de os cursos oferecidos pelas indústrias serem gratuitos, para participar deles o mecânico precisa ter noções básicas. São feitos testes on-line para avaliar a capacidade dos candidatos, que precisam ter 70% de aproveitamento. Caso não tenham, a Shark tem que enviá-los ao Senai, onde farão um curso pago de 15 dias. Lá, eles têm aulas de mecânica básica, hidráulica, metrologia, transmissões etc. Ao final do treinamento, são reavaliados. Se não passarem, o curso tem que ser refeito.

Comportamento também conta. Postura e competências comportamentais também são importantes fatores. “Além do conhecimento técnico, é exigido do funcionário uma atitude proativa, que seja bom com relacionamentos interpessoais e que tenha visão de negócio”, revela Darci Teixeira. “No nosso ramo, conhecimento técnico e eficiência significam mais produtividade.

A perspectiva de carreira depende essencialmente da qualificação profissional. As empresas oferecem planos de carreira, promoções e benefícios de acordo com a formação de cada empregado. “Muitos mecânicos estudam engenharia e depois continuam trabalhando em pós-vendas. Quanto melhor a formação escolar e técnica, maiores são as chances de seguir um plano de carreira, chegando a cargos de supervisão e/ou gerência da área”, analisa Darci.

As diferenças entre o mecânico agrícola e o mecânico automotivo não estão só nas atividades que exercem. Além da necessidade de conhecer todo o conjunto de equipamentos, Darci alerta para a questão de um técnico da rede agrícola ter muito mais oportunidades de crescimento e benefícios. No mercado, os técnicos competentes representam a oportunidade dos fabricantes de se destacarem e se diferenciarem junto ao cliente final. “No nosso segmento, o técnico é uma peça-chave”, conclui Darci.

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