Pesquisa da Embrapa aponta que máquinas para pequenos agricultores devem equilibrar eficiência energética e características sociais, ambientais e culturais
Um estudo recentemente conduzido na Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna – SP) analisou a diferença na produção de biomassa em sistemas agroflorestais (SAFs) cultivados pela agricultura familiar. A pesquisa focou especificamente no corte do capim mombaça, avaliando o desempenho de três máquinas distintas: uma roçadeira rotativa acoplada a um trator, uma roçadeira costal e uma mini ceifadeira de grãos importada, conhecida por seu corte mais limpo.
O experimento, que se estendeu ao longo de um ano, entre 2021 e 2022, revelou que a mini máquina ceifadeira de grãos destacou-se como a mais eficiente na produção de biomassa ao longo dos ciclos de cultivo, além de exigir menos trabalho manual no enleiramento da biomassa cortada. No entanto, seria necessário realizar adaptações para lidar com capim mais denso, comum nas entrelinhas dos SAFs, e garantir sua produção em série para atender à demanda nacional.
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O uso do capim mombaça para produção de biomassa em SAFs oferece a possibilidade de melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, além de contribuir para o controle de ervas invasoras e nutrição das culturas. No entanto, o corte periódico do capim e sua organização nas linhas de árvores podem ser tarefas trabalhosas para os agricultores.
A adaptação de máquinas convencionais e o desenvolvimento de novos equipamentos adequados para o manejo nas entrelinhas dos SAFs têm o potencial de reduzir significativamente a necessidade de mão de obra, aumentando a produtividade do sistema e tornando os produtos agroflorestais mais competitivos no mercado.
Gelton Morais, responsável pela pesquisa durante seu mestrado na Unicamp, enfatizou que a escolha da máquina a ser utilizada deve levar em consideração diversos fatores, como o tamanho da área de trabalho, a declividade do terreno, o capital disponível para aquisição e manutenção das máquinas, entre outros.
Luiz Octávio Ramos Filho, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, ressaltou que a incorporação de máquinas adequadas pode superar as limitações do trabalho manual, facilitando a adoção de práticas agroflorestais em maior escala, mesmo em áreas de agricultura familiar. Isso, por sua vez, contribui para o manejo sustentável do solo e a conservação da biodiversidade, estimulando o aumento da adoção de SAFs biodiversos pelos agricultores.
No entanto, Ramos Filho destacou que estratégias de gestão eficazes e políticas públicas orientadas para objetivos claros e pró-agricultor são fundamentais para a aplicação bem-sucedida de máquinas agrícolas.
À medida que a pesquisa e prática em agrofloresta continua a evoluir, novas técnicas, variedades de culturas e abordagens de manejo podem surgir. Os gestores públicos devem considerar a versatilidade e flexibilidade das opções de máquinas para fomentar avanços nos sistemas agroflorestais.
Quando se trata de decisões dos formuladores de políticas, destaca o pesquisador, “as políticas públicas só podem ser realistas e funcionais se considerarem a voz dos agricultores impactados por suas decisões. A seleção meticulosa e o investimento em fomentar o desenvolvimento e produção de maquinário, com base em resultados desta pesquisa como essa, capacita o produtor a tomar decisões bem-informadas, administrar recursos de forma eficaz, aumentar a eficiência operacional, promover a sustentabilidade e se adaptar às mudanças nas práticas agroflorestais”.
Para o professor da Unicamp e orientador do estudo, Daniel Albiero, é essencial desenvolver ou adaptar sistemas mecanizados que sejam apropriados aos requisitos agroecológicos dos SAFs e que sejam aceitos pelos agricultores familiares, levando em conta suas necessidades e restrições técnicas, econômicas e culturais.
Albiero também enfatizou o desafio de equilibrar a eficiência energética com as características sociais, ambientais e culturais dos SAFs, destacando a importância de desenvolver a mecanização agrícola como uma aliada dos complexos agroecossistemas, visando à sustentabilidade e ao equilíbrio agroecológico.
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