Sistemas hidráulicos proporcionam mais segurança e são mais econômicos, pois consomem menos combustível e requerem menor manutenção, entre outras vantagens
por Gustavo Paes
Foi a partir do final dos anos 1970 que o Brasil passou a contar com maquinários com recursos mais sincronizados ao agro nacional. Nesta época, apareceram os primeiros sistemas hidráulicos com válvulas de controle de vazão e pressão associadas aos comandos de levantar e baixar.
Eram componentes simples, mas eficientes, como válvulas de esferas, de agulha ou cônicas, contrabalanceadas por mola calibrada. “Já eram um avanço e contribuíam para um rendimento maior na execução dos serviços, mas também do serviço de manutenção”, afirma o instrutor Joel Sebastião Alves, especialista em operação e manutenção de máquinas e implementos agrícolas e rodoviários.
Com o tempo, percebeu-se a importância do óleo hidráulico, que, até então, era quase esquecido. O sistema hidrostático, que é apenas hidráulico, começou a aparecer nos tratores de maior porte que já possuíam sistema hidráulico com mais recurso e reservatório específico para óleo hidráulico. Ele está presente nos modelos de médio porte e até nos pequenos maquinários.
A hidráulica hoje é recurso indispensável no meio rural. Alves observa que a tração hidráulica é muito utilizada, principalmente em pulverizadores autopropelidos. As colheitadeiras também já estão utilizando bastante, mas em conjunto com algum recurso mecânico. Já os tratores ainda permanecem prioritariamente com recurso mecânico, mas os de maior porte já fazem uso da transmissão hidráulica, porém associada ainda a conjuntos mecânicos. “Em breve teremos também nos tratores o uso da transmissão hidráulica”, projeta.
Componentes do sistema
Os componentes do sistema hidráulico foram aprimorados pela indústria, especialmente filtros, bombas e válvulas de controle. Inicialmente, as válvulas ficavam espalhadas pela máquina e hoje estão centralizadas em pontos estratégicos. “Os manifolds são blocos centralizadores onde ficam as válvulas de controle e operação. A função deles é a praticidade na construção dos sistemas e facilidade de manutenção, embora exijam equipamentos especiais de diagnósticos e pessoas qualificadas”, acrescenta.
Também evoluíram as bombas hidráulicas, responsáveis por disponibilizar vazão e pressão de óleo para suprir as necessidades do sistema. As alterações nas bombas de pistão foram muitas e essas peças seguem sendo aperfeiçoadas. Desde as primeiras com pistões radiais e fixos até as mais atuais com pistões móveis e axiais.
A Bucher Hydraulics é uma dos fabricantes de componentes hidráulicos para o segmento móbil e industrial. Para máquinas agrícolas, produz bombas, motores hidráulicos de carregamento interno por alta rotação, válvulas de cartucho, válvulas divisoras de fluxo sem elementos rotativos, blocos manifold, eletrônicos, cilindros, unidades hidráulicas e comandos hidráulicos de centro aberto e centro fechado.
As máquinas que mais usam componentes hidráulicos são pulverizadores, tratores e colhedoras, segundo o executivo. Os motores hidráulicos de engrenagem interna QXM Móbil e as válvulas (divisores de vazão) MTDA são fornecidos para a Kuhn Brasil, de Passo Fundo (RS), que fabrica semeadoras, plantadeiras, distribuidores de fertilizantes, trituradores e pulverizadores. “Os motores de engrenamento interno QXM Móbil são um de nossos diferenciais no mercado”, afirma garante o gerente-geral Rinaldo Sanches Fernandes.
A empresa, que tem fábrica em Canoas (RS), possui como clientes a Planti Center, a Vence Tudo e a JAN. E está negociando com mais uma empresa, a Stara.
O gerente-geral acredita que a hidráulica seguirá conquistando espaço em novas máquinas e implementos agrícolas, mas se prepara para a eletrificação do maquinário. “Estamos buscando desenvolver produtos que permitam melhorar a eficiência energética e atender às demandas da eletrificação”, destaca.
Filtros hidráulicos
A Argo-Hytos tem uma linha de produtos hidráulicos para diversos setores. Ela fabrica válvulas hidráulicas, sistemas solenoides, unidades de energia hidráulica, interruptores de pressão, drives hidráulicos, sensores de condição de óleo, tanques hidráulicos plásticos, entre outros produtos. Na área agrícola, produz blocos manifolds e filtros hidráulicos, que contemplam os filtros de retorno, pressão, linha, retorno e sucção. “A nossa linha de filtros hidráulicos de retorno possui o sistema antibolha AirEx, que reduz as bolhas de ar das linhas de retorno ao tanque, geradoras do efeito de cavitação prejudiciais para bombas hidráulicas e componentes do sistema”, destaca o engenheiro de projetos e aplicações, Nolber Arandia.
Também é novidade a linha de elementos filtrantes ExaporMax3, com maior capacidade de retenção de sujeira e menor perda de pressão. Outro lançamento para o setor agrícola é a linha de amplificadores proporcionais PWM, montados diretamente nas válvulas proporcionais ou nos blocos manifold, que permitem a operação precisa com os valores adequados de PWM e Dither, de maneira que os controladores ECU possam enviar só os sinais de comando 0-10V, 4-20 mA, de forma analógica, ou CAN.
As linhas de filtros de pressão retorno agora também estão disponíveis com roscas UNF e BSP, filtros do tipo spin-on, porém, com o copo plástico não descartável, o que permite a troca apenas do elemento filtrante e a utilização de elementos filtrantes de papel até os mais fortes da linha da empresa, como o ExaporMax3. Na linha de válvulas hidráulicas, a Argo-Hytos disponibiliza blocos e válvulas proporcionais compensados com acionamentos manuais robustos para regulagem sob pressão. “Em caso de pane da parte elétrica, a válvula pode ser operada de forma manual nos casos de operações críticas”, sublinha Arandia.
A empresa está introduzindo a proteção superficial das válvulas para maior resistência a ataque corrosivo com proteção zinco-níquel. Outro destaque é a linha de tanques hidráulicos plásticos de alta resistência mecânica e química ao óleo hidráulico. Os equipamentos são montados nas linhas de filtragem e adequados para cada aplicação, na modalidade plug & play. A vantagem do material plástico é a redução da contaminação por corrosão e a flexibilidade de projetos para se adequar a espaços e formas especiais. “Temos a linha padrão, com tanques desde 40 até 160 litros, e os personalizados”, descreve.
A Argo-Hytos ainda produz indicadores de sujeira para filtros, desde visuais até elétricos, e futuramente produzirá eletrônicos, além de equipamentos para análise de contaminação. E possui equipamentos para análise do óleo hidráulico. Os equipamentos avaliam a quantidade de água e de partículas ferrosas. “Os sensores monitoram as propriedades dielétricas do óleo e indicam se está em boas condições”, explica o engenheiro.
Válvulas de cartucho
A HydraForce projeta e fabrica válvulas de cartucho eletro-hidráulicas de alto desempenho, blocos de comando customizados e controles eletro-hidráulicos, entre outros componentes. “Desenvolvemos e fabricamos todos os sistemas para controle de movimento das máquinas agrícolas”, afirma o gerente-geral da Hydraforce para a América do Sul, Alberto da Silva Brito. Mas a especialidade da companhia são as válvulas multifuncionais.
O executivo revela que a energia hidráulica é a força bruta que impulsiona as máquinas agrícolas modernas, e as compactas e eficientes válvulas de cartucho da empresa permitem aos projetistas a maior flexibilidade na fabricação dos sistemas que fornecem energia medida precisa para implementos, sistemas de acionamento e atuadores. “A tecnologia confiável e útil da válvula do cartucho torna possível sistemas complexos de controle a bordo distribuídos para equipamentos agrícolas, alcançando precisão que de outra forma não seria possível contar com a hidráulica da máquina”, ressalta.
As soluções atendem desde os mais simples tratores até as mais modernas colheitadeiras. Brito diz que os pulverizadores são projetados para aumentar a eficiência e diminuir o desperdício. E a precisão exige exatidão, confiabilidade e repetição a partir da hidráulica da máquina. “Os produtos estão disponíveis para todas as funções da máquina, como abrir e fechar a barra de pulverização, controle de precisão da altura da barra, suspensão da barra/eixo, piloto automático e o controle de bomba de produto”, descreve.
A companhia ainda fabrica válvulas de controles de pressão para plantadeiras e semeadoras, que estão cada vez maiores e trabalham com velocidades mais altas. “Os controladores de pressão proporcionais permitem o controle da profundidade de plantio de forma consistente e em solos variados”, garante. “Com a eletrificação, muitos componentes hidráulicos, como os atuadores, por exemplo, serão substituídos. Mas a hidráulica continuará sendo muito utilizada”, finaliza Brito.