Máquinas e Inovações Agrícolas

Infraestrutura e planejamento são fundamentais para um agronegócio competitivo

Investir em infraestrutura logística adequada e na armazenagem de commodities agrícolas, dar segurança jurídica para o produtor e um seguro agrícola para reduzir riscos são alguns dos caminhos que podem evitar a perda de competitividade do agronegócio brasileiro. As sugestões foram apontadas por lideranças do setor presentes no 12º Congresso Brasileiro do Agronegócio, realizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), no dia 5 de agosto, em São Paulo. O evento reuniu mais de 800 participantes e abordou detalhadamente o tema Logística e Infraestrutura – O Caminho da Competitividade do Agronegócio.

O Presidente da ABAG, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, lamentou a falta de capacidade do governo em executar obras já previstas no papel

Palestrantes dos setores produtivos, analistas, economistas, gestores de estatais e outros líderes destacaram a necessidade de solucionar com urgência os gargalos logísticos do País. Durante a abertura do evento, o presidente da ABAG, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, lamentou a falta de capacidade do governo em executar obras já previstas no papel. “Falta capacidade de gestão e execução das obras”, disparou.

O dirigente e os demais palestrantes presentes colocaram pressão para o governo federal realizar melhorias nas rodovias, ferrovias e portos. Para o presidente da ABAG, o Brasil só vai ser mais competitivo do que os Estados Unidos e a Argentina no sistema de exportação de commodities agrícolas para a China quando “virar o jogo”. “Apesar dos investimentos anunciados e do planejamento oficial, houve pouca mudança no escoamento da produção na última safra.

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Segundo cálculos divulgados pela entidade, uma tonelada de grãos transportada de Sorriso, no Mato Grosso, até o Porto de Santos utilizando caminhão não sai por menos de US$ 145 dólares. Comparado à Argentina, uma tonelada de trigo de Córdoba até Rosário não passa de US$ 36 dólares. Ainda assim, o líder da entidade detalha que, do estado de Illinois (EUA) até o Porto de New Orleans, levado por hidrovias, o valor máximo é de US$ 25 dólares.

Na avaliação de Carvalho, as deficiências devem se agravar ainda mais nos próximos anos com o aumento na produção agrícola e a maior necessidade de alimentos e de energia. Quando a produção de alimento aumentar em 40%, não faltarão apenas estradas, rodovias, hidrovias e portos. A atual estrutura de armazenamento da Safra é bastante deficitária. Um levantamento do Ministério da Agricultura revela que a capacidade estática de estocagem nas fazendas não ultrapassa 15%. Na Argentina, esse índice está entre 35% e 45%; nos Estados Unidos, entre 55% e 60%, e no oeste do Canadá chega a 85%. Seriam necessários investimentos da ordem de R$ 16 bilhões apenas para reduzir o déficit de armazéns, aponta o estudo.

Dependência x crescimento sustentável. Para o economista Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), os problemas relacionados à infraestrutura no Brasil não são novos, já ocorrem desde a década de 1970. “Há uma questão estrutural, que é a dependência do transporte rodoviário, inclusive nas longas distâncias, onde não somos competitivos”, destacou. Segundo ele, o transporte rodoviário opera no limite da capacidade e com baixa produtividade. “O pior não é depender desse modal para o transporte da safra, mas manter os custos operacionais elevados dessa operação utilizando uma frota de veículos com idade média acima de 18 anos”, disse.

No Brasil, dois terços da malha ferroviária não são explorados. Há mais de 100 anos esse modal é praticamente utilizado para o transporte de minério de ferro, operando com equipamentos velhos e de baixa produtividade. No curto prazo, opina Figueiredo, a saída é “modernizar as rodovias por razões estruturais e emergenciais”. Segundo o especialista, no momento há uma formação de estoque de projetos e de produção de editais. As ferrovias receberão quatro “ondas” de ampliação, sendo que a primeira deve ocorrer em 2018, e a quarta em 2021. “Neste ano, no entanto, os investimentos serão triplicados e devem ultrapassar R$ 40 bilhões”, calcula.

Nos portos, considerados o principal gargalo logístico, os investimentos previstos, da ordem de R$ 20,2 bilhões em 20 anos, devem promover mudanças no escoamento da safra, apontou Figueiredo. Já nas rodovias, o governo pretende manter as concessões à iniciativa privada para duplicações e melhorias das condições de tráfego. “Com atraso de quatro anos, as obras de asfaltamento da BR-163, que garantem o escoamento da produção do Mato Grosso pelos portos do Norte e do Nordeste, será concluído em 2014”, disse.

Na visão do professor Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas, recursos não são problemas, o difícil é tirar todos os projetos do papel. “O setor privado está com grande apetite para investir e, pela primeira vez, há um compromisso mais sério do governo em executar os projetos atuais”, disse. “Se olharmos para o retrato passado certamente desanimamos, mas tenho a esperança de que, nos próximos 20 anos, tenhamos uma infraestrutura mais competitiva. Hoje o calendário de obras está mais voltado a questões políticas”, destacou.

A ampliação da estrutura do escoamento vai determinar o tamanho das lavouras, acredita Alysson Paulinelli, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). “O Brasil produziu tecnologia própria para ganhar ou perder a batalha?”, indagou. “Já temos confiabilidade no manejo da sua inteligência e, mais do que isso, aprendemos a manejar solo, água, plantas e animais. Esses recursos precisam ser tratados de forma a permitir que os produtores retirem desses biomas as vantagens que podem nos dar”, enfatizou.

Para responder ao rápido crescimento do agronegócio nos próximos anos, o doutor em economia Alexandre Schwartsman, sócio- diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica, aponta a necessidade de o País investir em torno de 4% do PIB para fazer frente ao crescimento do agronegócio. “Mas não vejo nenhum esforço nesse sentindo”, lamentou. “O Brasil precisa reduzir os gastos correntes, de forma a extrair recursos para melhorar a infraestrutura. Estou convencido que os modelos de concessão com base em rendimento tarifário não suprem essas necessidades”, disse.

Já Carlos Fávaro, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado do Mato Grosso (Aprosoja), acredita em outros fatores que dificultam o andamento das obras, como o licenciamento ambiental, a fiscalização dos territórios indígenas e os questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU), entre outros. “A vocação do Centro-Oeste, por exemplo, é exportar pelo Arco Norte. O desenvolvimento de hidrovias nos diversos rios navegáveis seria uma maneira eficiente e mais barata para escoar a produção”, analisa.

Aposta na tecnologia. Na opinião do agrônomo Evaristo Eduardo de Miranda, coordenador na Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais da Presidência da República e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), há limites para expandir a área plantada e aumentar a oferta do setor. “As propriedades rurais no Brasil perderam 45 milhões de hectares em 20 anos, e a redução de área tende a continuar: pelo menos mais 100 milhões de hectares poderão deixar de pertencer a propriedades rurais brasileiras em 30 anos”, disse.

Segundo Miranda, devem ainda contribuir para manter essa estimativa os empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e as exigências do novo Código Florestal brasileiro, como a recomposição de reserva legal e de áreas de preservação permanente (APPs). “O novo Código Florestal exige que haja recomposição da reserva legal e das APPs. A demanda de terra para outras utilizações, como unidade de conservação e unidade indígena, é outro motivo”, acrescentou.

Na visão de Miranda, o desafio do agronegócio para continuar crescendo sem ocupar novas áreas é utilizar tecnologias, de modo a colher mais alimentos na mesma área plantada. No entanto, o pesquisador afirmou que o Código Florestal “não empurra” para o seu uso. “Não é qualquer agricultura que estamos propondo, é usar tecnologia. Na revisão do Código tem que prever o uso da tecnologia”, defendeu.

Já o engenheiro agrônomo Alexandre Mendonça de Barros, sócio-consultor da MB Agro, acredita que, após quase um século de predomínio de oferta da agricultura internacional, a demanda passou a ser direcionadora do mercado agrícola. “Os preços agrícolas se mantiveram estáveis nos últimos três anos. Contudo, o que permitiu ao Brasil atender a essa demanda foi o grande boom de investimentos de capital estrangeiro na expansão da área plantada”, afirmou. Hoje somos o país produtor mais preparado para atender à demanda mundial. “Não há dúvida de que o estímulo e o ganho derivado das novas tecnologias, além do fluxo de pesquisa nessa direção, favoreceram o crescimento do agronegócio brasileiro”, destacou.

Para Paulo Herrmann, vice-presidente para América Latina da John Deere, a tecnologia exerce um papel vital no aumento da produtividade, dada a importância específica do sistema de integração Pecuária-Lavoura- -Floresta. “Com ele, é possível ter três safras no mesmo ano”, lembrou. Entretanto, Herrmann adianta que é importante ter gestão, processo e qualidade dentro da propriedade rural. “Esses conceitos precisam chegar ao agricultor, porque plantar soja como era feito antigamente é bem diferente de plantar dois ou três tipos de cultura com ciclos mais curtos.

Mas mudanças significativas na questão da infraestrutura e logística dependem de uma ação governamental, acredita José Ronaldo Vilela Rezende, sócio da consultoria PwC. “O governo precisa ter coragem para quebrar barreiras que impedem o avanço das obras e, com isso, agilizar os processos. Hoje, tudo é moroso e não dá para acreditar em mudanças repentinas para o próximo ano, mesmo diante de 200 milhões de toneladas previstas para a safra 2013/14, em condições normais”, acrescenta.

Para Jorge Karl, diretor-presidente da Cooperativa Agrária Agroindustrial, o Brasil perde oportunidades com o atraso na infraestrutura. “Além do modal de transporte rodoviário ser inadequado, o custo logístico é muito alto, de cinco a seis vezes mais caro se comparado ao do produtor nos Estados Unidos ou na Argentina. Por isso, os investimentos são necessários, urgentes”, conclui Karl. Já Julio Pizza, da Brasil Agro, aponta a atração de capital internacional como um dos caminhos para resolver os gargalos.

Ex-Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues

Em meio à apresentação de centenas de dados e críticas, o também engenheiro agrônomo e ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues promoveu seu desabafo. “Este assunto, como é sabido, está na pauta há vários anos. Congressos e mais congressos e nada de avançar”. Nas considerações finais, ele pediu uma ação mais prática e efetiva para a solução do problema: “O diagnóstico já foi feito. Precisamos de uma agenda formal para 2014, ano eleitoral”. Como sugestão, Rodrigues propõe a ABAG registrar em cartório o que os políticos prometerão fazer. Para ele, “as discussões em congressos estão se tornando inócuas. O momento agora é de participação efetiva, de construir, e não mais de ficar discutindo”, concluiu.

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