Máquinas e Inovações Agrícolas

Lideranças comentam expectativas para a Agrishow 2023

Principais lideranças do agronegócio brasileiro falam sobre o que esperar da Agrishow 2023

por Adriana Gavaça – Uma das maiores feiras agrícolas no mundo, a Agrishow  2023 – Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação chega à sua 28ª edição. O evento, que ocorre em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, entre os dias 1 e 5 de maio, deve reunir grande parte da cadeia produtiva do agro nacional. Durante os cinco dias de duração, os mais de 200 mil visitantes esperados poderão conhecer os principais lançamentos de mais de 800 marcas brasileiras e internacionais. 

Este ano, a feira contará mais uma vez com espaços reservados para a promoção de eventos, como o Agrishow Pra Elas, dedicado às mulheres do agro com atividades de conteúdo e relacionamento, e o Agrishow Labs, com a participação de startups que incrementam produtividade e qualidade às lavouras brasileiras, e a Arena de Drones. O tema sustentabilidade também estará em foco durante a feira, por meio de iniciativas sustentáveis nas áreas de resíduos e de energia. Um exemplo é a coleta o e descarte adequados de diferentes tipos de resíduos, a reciclagem de materiais, o uso de fontes renováveis e a economia de energia.

Para entender como o evento deste ano é aguardado e o que ele representará para o setor,  Máquinas & Inovações Agrícolas ouviu as principais lideranças do agronegócio brasileiro, que estão à frente da promoção da Agrishow 2023, a respeito das expectativas para o evento, além de discutir os desafios para mercado agrícola e sobre os avanços em tecnologia que devem estar na pauta para o campo neste ano. Confira:

Francisco Matturro, presidente da Agrishow

A Agrishow 2023 deverá ser um sucesso novamente. Todas as áreas já estão comercializadas, com tudo ocorrendo conforme o previsto. Temos um problema, que é o de não dispormos mais de recursos nas linhas oficiais. As linhas dos bancos privados continuam ativas, mas, neste momento, os juros estão um pouco elevados. Esperamos que, em pouco tempo, isso se corrija. Há também o que chamamos de pequeno ajuste, que o governo está fazendo. Temos convicção de que o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o secretário da Política Agrícola, Neri Geller, olharão para o setor da forma que ele precisa ser olhado. Respondemos hoje [o setor agrícola] por 27% do PIB do Brasil. No ano passado, exportamos US$ 159 bilhões, um número altamente representativo. São divisas que entram para o governo e, em contrapartida, nós só importamos US$ 17 bilhões. Logo, temos um superávit de US$ 142 bilhões, o que não é pouca coisa. Ao contrário: é muita coisa! 

Há uma expectativa positiva e certamente até lá [na Agrishow 2023] teremos alguns ajustes na economia e nas linhas destinadas ao agro. Nosso grande pleito, porém, é que o governo antecipe o anúncio do Plano Safra, para antes da Agrishow. Porque o Plano Safra, como se sabe, começa dia 1º de julho e vai até 30 de junho do ano subsequente. Essa antecipação dará ao produtor, dará ao fabricante, a previsibilidade. E previsibilidade é tudo o que o setor precisa, não só ele, mas todos os setores da economia precisam de previsibilidade e é isso que estamos buscando. Por isso, pedimos para o governo antecipar o anúncio do Plano Safra para antes da Agrishow, para que a gente chegue com horizonte definido até lá.

As expectativas para o setor, de forma geral, são positivas, mas são necessários alguns ajustes, como apontei. O cenário que o setor trabalha hoje é de uma certa apreensão, uma vez que os recursos disponibilizados para as linhas de crédito do Plano Safra já foram utilizados no ano passado. Não é que ele não durou um ano. Ele não durou nem três meses. Há um descompasso entre o aumento da produção no Brasil e o recursos disponibilizados para o financiamento. A agricultura continua crescendo, a produtividade também, a tecnologia demanda mais investimentos e não há uma correlação entre o volume que se cresce de produção e de produtividade em relação aos financiamentos. É muito baixo, perto do que precisamos.

A Agrishow é uma feira de tecnologia. Lá não se comercializa produtos usados, é uma feira para mostrar tecnologia, para ouvir os produtores e seus apontamentos, que são riquíssimos. É um lugar de troca de informação entre produtores, engenheiros, desenvolvedores de soluções e de produtos. Um exemplo desse avanço de tecnologia no campo é a pulverização, que hoje é localizada. Há pouco tempo, quando se detectava uma incidência de pragas em uma lavoura, o que se fazia? Uma pulverização em área total, o que gerava um custo elevadíssimo, além de um prejuízo ao meio ambiente. Hoje é utilizada a pulverização localizada, por geo-direcionamento, vamos pelas coordenadas que o satélite nos indica e pulverizamos aquela região. Isso é alta tecnologia. Temos essa evolução em sementes, fertilizantes, defensivos e, mais ainda, em máquinas agrícolas. 

Pedro Estevão, presidente da Câmara de Máquinas Agrícolas da Abimaq

A expectativa para a Agrishow 2023 é muito boa. O Brasil está se tornando, ou melhor, se tornou um grande fornecedor mundial de alimentos. Tanto a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), que é o braço da ONU (Organização das Nações Unidas) para alimentação, quanto o USDA, da Secretaria de Agricultura dos EUA, falam que o Brasil teria que aumentar as exportações em 10 anos em 40%, incluindo a exportação de grãos, frutas, carnes, lácteos, celulose, açúcar e café etc. Ou seja: nós temos um grande mercado para suprir. Isso faz com que todo ano nós tenhamos aumento de área produtiva. E, em 2023, não será diferente. Os agricultores estão bastante capitalizados, estão vindo de três anos de uma capitalização muito boa. Eles estão tendo uma rentabilidade, uma lucratividade muito boa. Então eles vão estar muito capitalizados e, assim, temos uma expectativa de que a Agrishow será excelente.

Quanto ao mercado agrícola, com esse pano de fundo, de que estamos vivendo nos últimos anos um círculo virtuoso, isso deve fazer com o que o ano seja novamente muito bom. Nós não enxergamos nenhum problema nos fundamentos econômicos do agricultor. Por essas razões que já apontei: eles estão capitalizados, estão sendo bem remunerados e a demanda mundial está em alta, o que significa que se tem troca de máquinas, reposição de máquinas, e a compra de novas tecnologias mais acelerada, em função da troca de tecnologia e aumento de área. Então, eu diria que especialmente o segundo semestre deve ser muito bom. 

O primeiro semestre, por outro lado, não deve ter o mesmo desempenho, porque os recursos do Plano Safra acabaram em outubro. Estamos sem recursos. Soma-se a isso o fato de os juros em linhas de financiamento privado estarem entorno de 16% ao ano, o que é muito caro. E, teoricamente, nós só teríamos um novo Plano Safra em julho. Isso faz com que tenhamos um vácuo de políticas públicas, nessa troca de governo, que pode atrapalhar o primeiro semestre de 2023. Mas veja bem: nenhum fundamento econômico está ruim. O que nós temos é: o agricultor está esperando por uma nova política pública. Imagina se ele comprar uma máquina pagando 16% ao ano, durante sete anos, depois vem uma política pública de juros em 12,5% ao ano? Ele vai ficar frustrado. Então essa é uma questão neste primeiro semestre. Estamos conversando com o governo para resolver isso.

Quanto à tecnologia, a gente diz que a tecnologia agora é o infinito. É uma palavra forte, mas é isso mesmo. Ou seja: a capacidade que nós temos de colocar inovação no campo, com a agricultura digital, é muito grande. Tanto nas máquinas, com a colocação de sensores, de Internet das Coisas ou fazer uma inteligência artificial na máquina é muito grande. E isso dá uma possibilidade enorme de ter novas soluções para o mercado agrícola. Então, acho que para a Agrishow 2023 devemos ter um novo show de tecnologias, porque realmente tem muita gente trabalhando nisso e eu diria que a feira é a grande vitrine neste sentido. Estamos esperando um ano com grandes novidades. E tem um detalhe: a novidade que a gente vê, quando a gente fala em tecnologia da agricultura 4.0, é que ela aparece muito de repente, você trabalha com software e software não demanda muito tempo para ser produzido. Você coloca uma inteligência artificial e se consegue ter um produto novo. Isso possibilita ter muita novidade todo ano. E, por isso, acreditamos que em 2023 teremos muitas novidades também!

Luiz Carlos (Caio) Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)

Nas últimas décadas, o agro brasileiro obteve um crescimento fantástico em produtividade, superando desafios impostos pelos cenários internos e externos. Essas conquistas vieram a partir do uso constante de novas tecnologias, do emprego da mais moderna ciência tropical e de técnicas sustentáveis e inovadoras, da integração e do diálogo entre as cadeias de produção e do público com o privado, e do empreendedorismo e criatividade. Nesse sentido, a Agrishow tem um papel preponderante para o nosso setor ao apresentar as novidades em equipamentos, máquinas e implementos agrícolas, e as mais modernas tecnologias, para a manutenção da competitividade do agro, aprimoramento constante nas etapas de preparação da terra, plantio e colheita e no aumento da produtividade, sempre aliado à agenda de preservação ambiental. Aliás, devo salientar, a Agrishow é a “cara” da ABAG.

Assim, a expectativa para esta edição da Agrishow segue a lógica das expectativas do agro brasileiro. Em 2023, bateremos o recorde de oferta de grãos, mesmo com os problemas climáticos no Sul do País; melhoraremos a produção de açúcar e etanol; continuaremos a avançar na integração de lavouras e, com isso, cada vez mais melhorando, ou seja, reduzindo a nossa pegada de carbono. É o Agro dos 3C’s (Comida, Combustível renovável e emissões de Carbono equilibradas), além de fibras e borracha, etc. 

A Agrishow 2023 baterá recorde e encantará aos privilegiados que lá estiverem por ver a evolução tecnológica, o mundo digital do agro, sua competitividade e, porquê, é a esperança do mundo que terá população e renda per capita crescentes. O mundo mecanizado do agro, com investimentos em plataformas digitais, oferecerá dados fundamentais para operações seguras, limpas e de boa performance. Caberá trabalharmos em conectividade, na abertura dos mercados e nas narrativas que mostrem a realidade do agro brasileiro, sob chuva ou sol.

Tirso Meirelles, vice-presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de São Paulo (FAESP/SENAR-SP) 

A Agrishow 2023 será realmente um espetáculo. São cada vez mais expositores. Acredito que bateremos o recorde nesse processo tão importante, em que se lança também o Plano Safra. Em 2022 foi um grande sucesso e reserva surpresas para essa edição. 

O presidente da FAESP, Fábio de Salles Meirelles, foi presidente da Agrishow na edição de 2015. Foi durante a sua gestão que a feira passou a ser também para os pequenos produtores. Ele conseguiu reverter o processo que era só para grandes empresários que adquiriam maquinários. Foram mais de 16 mil trabalhadores e jovens que puderam conhecer uma feira 100% técnica e voltada para a produção agrícola e de máquinas. Isso ajuda a contribuir com a competitividade do nosso plantio, colheita e distribuição dos produtos. 

A Agrishow tem um público que se estende desde a agricultura familiar até o grande produtor e se mostra de suma importância para o desenvolvimento das cadeias produtivas e do desenvolvimento vocacional de cada região. A missão de levar a informação digital, a conectividade, as startups e novos desenvolvimentos para os pequenos e médios produtores, além de concentrar instituições bancárias que oferecem facilidades como juros pré-determinados, garante que seja possível adquirir plataformas para o fortalecimento da competitividade do agro e do emprego e renda. 

Este ano a FAESP contará com um estande em conjunto com a Confederação Nacional da Agricultura e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Vamos levar a Universidade CNA, o Instituto, aulas EAD, grandes novidades como o Centro da Cana que será construído em Ribeirão Preto, assim como uma escola de alta performance de Big Data e transformação digital. É uma ótima oportunidade de trocar conhecimento, encontrar lideranças e produtores e conversar sobre esse processo tão importante de construir e agregar valor em toda a cadeia produtiva.

Sérgio Bortolozzo, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB)

Esta edição vai superar os números de faturamento e público, pela importância e referência que a feira é, como difusora de novas tecnologias. 

Uma tecnologia que está no dia a dia do produtor rural. Foi por meio dela que alcançamos os índices recordes de produtividade, que nos possibilitam ser hoje um dos maiores exportadores de produtos agropecuários do mundo e produzir até três safras. E será pela tecnologia  que vamos superar os desafios da sustentabilidade e da agricultura de baixo carbono. Porém, mais importante que a criação de novas tecnologias, é a inclusão tecnológica. 

São necessárias políticas públicas e linhas de crédito facilitadas para que essas inovações cheguem na ponta e sejam acessíveis para os pequenos e médios produtores, para que possam investir, implementar práticas sustentáveis sem perder a competitividade e a renda.

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