Máquinas e Inovações Agrícolas

Máxima produção com menos água, a receita da eficiência

A irrigação ainda é um investimento caro e necessário para viabilizar a produção de muitos agricultores. Para tentar modificar esse cenário, o advento de novas tecnologias, ferramentas e programas de governo tem incentivado cada vez mais o uso do sistema de irrigação, e o mais importante: barateando o processo.

Recentemente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) destinou cerca de R$ 4 bilhões em crédito, a serem liberados até 2015, especialmente para aperfeiçoar as políticas voltadas à irrigação nas plantações. Segundo dados do MAPA, o Brasil tem uma área plantada de 68 milhões de hectares de grãos, frutas e fibras. Na pecuária, o espaço no campo é maior, chegando a 180 milhões de hectares.

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Evitar os riscos das variações climáticas está no foco do Ministro Mendes Ribeiro, do MAPA (foto: Fábio Rodrigues Pozzebom)

O valor, garantido pelo Plano Plurianual 2012-2015 do MAPA, tem taxas de juros mais baratas do que as vigentes no mercado, com valores que variam entre 5% e 5,5% ao ano. A carência para o pagamento pode chegar a 12 anos. A criação da linha de crédito que financiará o setor produtivo do País está em construção por técnicos da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do MAPA. Mas o governo já está presente em várias iniciativas, como treinamento a capacitações, incentivo à pesquisa, assistência técnica e extensão rural. “O importante é evitar riscos inerentes às variações e às mudanças climáticas, garantindo resultados melhores e agregando valor à produção, de modo compatível com o conceito de desenvolvimento sustentável”, disse o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, durante o anúncio do plano.

Caio Rocha, do MAPA: Uso mais intensivo do solo

Para Caio Rocha, secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do MAPA, a irrigação permite o uso intensivo dos solos, reduzindo a pressão por abertura de novas áreas, além de qualificar a lavoura. “Eis a razão pela qual o ministério está trabalhando para ampliar o uso dessas novas tecnologias no campo”, afirma Rocha.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, há vários projetos de irrigação. Aliás, o Estado é o que mais irriga no País: são 1,5 milhão de hectares, e a predominância é por inundação ou sulcos, representada, sobretudo, pelo arroz. No Brasil como um todo, a predominância ainda é pelo sistema de irrigação por aspersão ou gotejamento.

De olho no potencial deste mercado, um instituto de pesquisa e empresas do setor resolveram ampliar o leque de opções para o produtor. Com o objetivo de auxiliá-lo a analisar o potencial de irrigação de uma área, recentemente a Embrapa Solos reeditou um software (lançado em 2005) que avalia qual é o melhor sistema a ser usado, de acordo com a análise de solo, de água e a cultura em questão. O Sibcti, que está disponível gratuitamente no site da Embrapa Solos em ambiente web, consegue, inclusive, calcular qual será a produtividade na área. “Basta o usuário preencher todas as lacunas que o sistema exige, como parâmetros de solo e água, e depois selecionar a cultura e o sistema de irrigação a serem utilizados”, explica Fernando César Amaral, pesquisador da Embrapa Solos.

O programa cruza todas as informações e fornece ao usuário qual é a potencialidade de retorno da cultura naquele sistema de irrigação e tipo de solo. A nova versão facilita a navegação do usuário, já que não é mais preciso fazer o download do software – ele pode ser operado diretamente no site da Embrapa Solos e guarda as informações do último acesso.

Com o lançamento do Plano Nacional de Irrigação, nós imaginamos que o Sibcti será uma ferramenta fundamental para a avaliação de todo o sistema no País. Porque a irrigação é um investimento caro, e o produtor não pode abrir mão de uma ferramenta gratuita como essa”, diz.

Fernando Braz Tangerino Hernandez da Unesp de Ilha Solteira, diz que é preciso saber o quanto a planta “bebe”

Igualmente gratuito é um software para manejo de água da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Ilha Solteira (SP). “Sem saber quanto a cultura ‘bebe’, a chamada evapotranspiração, pode-se irrigar além do necessário, desperdiçando e gerando custos, ou aquém, reduzindo o potencial produtivo”, afirma Fernando Braz Tangerino Hernandez, professor titular da instituição. Como as informações climáticas (a exemplo de temperatura, umidade e velocidade do vento) estão cada vez mais à disposição no Brasil, os pesquisadores tiveram a ideia de criar um software, o SMAI, que usa dados da estação meteorológica mais próxima para calcular a evapotranspiração e então aplicar a quantidade certa de água no campo. O sistema pode ser usado em qualquer cultura.

 

Carlos Reiz, da Valley: Tecnologia para irrigar fora do circuito do pivô

As apostas das empresas. A Valmont, empresa com atuação mundial e nacional no mercado de irrigação, com sede em Uberaba (MG), sempre investiu em pesquisa e inovação. Recentemente, apresentou ao mercado o Valley Corner. O produto, que promete ser revolucionário, tem grande potencial para maximizar o uso do solo na propriedade rural, irrigando áreas antes inatingíveis. Carlos Reiz, gerente comercial da Valmont no Brasil, garante que a Valley internacional domina a tecnologia do Corner desde 1974, e finalmente a companhia conseguiu trazer ao produtor brasileiro a possibilidade de ampliar os campos irrigados, sem precisar investir em novas terras ou em outras formas de irrigação. “Não importa com qual cultura ele trabalha, o Valley Corner irriga as porções de solo que antes ficavam fora do círculo do pivot, aumentando a produção total e potencializando a rentabilidade, sem precisar investir em aquisição de novas terras ou em outras formas de irrigação.

O Engenheiro agrônomo Vinícius Melo fala das dificuldades de irrigação em campos com obstáculos e formatos diversificados

Com um braço articulado, o equipamento possibilita a irrigação de campos quadrados, com obstáculos e com formas diversificadas com precisão. O engenheiro agrônomo Vinícius Melo explica que todo o sistema é guiado por GPS e tem válvulas de controle de vasão. Segundo ele, o setor está aquecido e hoje há no mercado inúmeras tecnologias disponíveis para o produtor. “O que oferecemos atualmente são produtos que vão desde sistemas automáticos, envolvendo a telemetria, até a agricultura de precisão”, afirma.

Quanto às condições de preços, ele acentua que os valores estão cada vez mais acessíveis. “Ao contabilizar o gasto, o produtor verá que o incremento da cultura foi maior do que o custo que ele teve com a tecnologia. E, com a entrada de novos equipamentos no mercado, os produtos se tornam mais acessíveis”, diz.

Outra tecnologia já disponível é oferecida pela Netafim, multinacional israelense que detém 40% do mercado de irrigação localizada, dedicando-se à microaspersão e ao gotejamento. A empresa é especializada em nutrirrigação, que consiste em um sistema de gotejamento com o diferencial de ter um equipamento extra na cabeça de controle, que orienta a irrigação, pingando água e nutrientes em conjunto, em doses homeopáticas e eficientes. “Uma aplicação pontual dessas substâncias, com menos quantidade e mais frequência, torna- se menos salina, o que facilita a absorção pelo vegetal”, explica o agrônomo da Netafim, Carlos Sanches.

A empresa é muito presente nos campos de café, cana-de-açúcar e citrus. No caso da cana-de-açúcar, o maior projeto é da Usina Seresta, uma das 27 instaladas no Estado de Alagoas. São 1.500 hectares de plantação com irrigação localizada por gotejamento subterrâneo. Hoje, graças à tecnologia, eles conseguiram atingir alta produtividade, mesmo no município de Teotônio Vilela (AL), situado no limite de área da zona do agreste e que nos últimos anos vem sofrendo com a escassez de chuvas.

Atualmente, a Netafim tem 14 fábricas no mundo, sendo uma delas em Ribeirão Preto. Durante a Agrishow 2012, a companhia apresentou a irrigação por gravidade. Destinado a áreas de 500 m² a 2 mil m², o kit de irrigação familiar produzido pela Netafim atende a pequenos agricultores. Ativado por gravidade com uso de uma caixa d’água, o kit dispensa o uso de energia elétrica. Ao proporcionar o fornecimento controlado de água em quantidade suficiente e no momento certo, o sistema assegura produtividade 50% maior, em média. A Netafim também garante que o produto traz economia de até 40% em água, fertilizantes e defensivos agrícolas, em relação a outros métodos de irrigação. “Isso se explica pelo interesse dos produtores em economizar não só na água, mas em insumos e energia elétrica; tudo o que traz o gotejamento”, conta Igor Freitas, gerente de marketing da companhia.

Gislene Pessin, da John Deere: Soluções de irrigação para estreitar relacionamento com o produtor

Assim como a Netafim, várias empresas do segmento têm se mobilizado para oferecer equipamentos e tecnologias cada vez mais avançados, a exemplo da John Deere. Em 2010, foi criada a marca John Deere Water (que nasceu após três anos da compra de duas companhias americanas e uma israelense de irrigação). Hoje, a empresa oferece soluções integradas no segmento, que vão desde o plantio até a colheita. “Com a aquisição de novas empresas, a John Deere focou no atendimento ao produtor dentro de uma fase importante do processo produtivo. Apostando em novas tecnologias e oferecendo soluções completas”, diz Gislene Pessin, gerente de Marketing da John Deere Water. “Com isso, consegue mais proatividade e aproxima o relacionamento com os clientes”, afirma.

Atualmente, entre as novidades, a companhia fornece soluções integradas em irrigação em duas linhas: gotejamento e microaspersão. Entre os produtos, estão: fitas e tubos gotejadores; gotejadores em linha e acessórios; microaspersores dinâmicos, estáticos, nebulizadores; tubos, mangueiras e tuberias; ferramentas e conectores; tecnologia CropSense (sensor de umidade de solo); e filtros plásticos e de metal e acessórios.

Deste o ano passado, a John Deere Water passou a atuar no segmento de citrus, café e hortaliças. Aos poucos, aproxima-se de novos mercados, como a cana e o algodão. A principal estrela do portfólio da companhia é o D5000, um tubogotejador que funciona enterrado no solo e é indicado para culturas de grande extensão, como cana e grãos. “O D5000 possui um sistema para proteger a entrada de raiz; em vez de um furo para a saída de água, ele tem uma fenda. Esse tipo de gotejador também facilita os tratos culturais em plantios com espaçamento estreito”, explica. A empresa pretende trazer novidades durante a Agrishow 2013. “Estamos em fase de testes. Queremos ofertar tecnologias diferenciadas”, completa.

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