Máquinas e Inovações Agrícolas

O executivo agro no tempo das “vacas magras”

A atual conjuntura macroeconômica brasileira traz novos desafios para o agronegócio. De um lado, o setor continuará aquecido e atraindo investimentos nacionais e estrangeiros. De outro, questões como o financiamento de safra, o aumento da necessidade de capital de giro, os problemas logísticos do País e, por fim, a volatilidade cambial exigirão dos executivos do segmento mais capacidade analítica, formação financeira sólida e, é claro, resistência à adrenalina para aguentar as turbulências daqui para frente.

As grandes companhias nacionais e multinacionais de agronegócios, muito mais do que vender insumos como fertilizantes, sementes e defensivos, são as verdadeiras promotoras da cadeia de valor agrícola criando e ajudando o agricultor a alcançar produtividade nesse campo da agricultura de precisão.

Diante das dificuldades dos agricultores de contar com capital necessário para arcar com o custo dos insumos indispensáveis ao plantio, elas os oferecem em troca de produtos de grãos, fibras, serviço conhecido como “barter”. Se tornou uma ferramenta financeira e mercadológica para compensar o uso maciço de capital de giro e proteção às variações cambiais. É bom para as empresas e bom para o agricultor. O vendedor de insumos sofre com a alta no câmbio, pois vai ter de pagar seus fornecedores em dólares. O agricultor, por sua vez, terá de enfrentar altas de preços dos insumos, mesmo com a vantagem competitiva da desvalorização do real para quem exporta. É um embate sempre penoso.

A cadeia de valor do agronegócio engloba etapas críticas em cada cultivo: plantio, crescimento, colheita e beneficiamento. Cada uma dessas etapas envolve fornecedores específicos de sementes, fertilizantes, defensivos agrícolas, adjuvantes, adubos foliares, a colheita em si, serviços de ensacamento e atividades de pós-colheita, processamento, embalagem, fluxo para o mercado local e ou exportação. E cada um dos fornecedores dessa cadeia precisa pensar em um ciclo para a atividade que permita dar ao agricultor prazo de pagamento suficiente para que ele possa plantar e, finalmente, faturar com a colheita. Sem considerar nessa equação o clima de cada região global e os impactos que terá localmente. Normalmente a safra americana baliza a brasileira.

Com a alta das taxas de juros, o custo do capital de giro e das operações de barter se torna também mais elevado. Já em 2014 muitas empresas da cadeia do agronegócio tiveram problemas. O clima seco afetou os estoques de defensivos nos canais. Algumas empresas acabaram quebrando.

Na arena internacional muitas se fundiram ou foram adquiridas. E isso, é claro, resulta em profundas transformações no mercado de trabalho dos executivos do agronegócio e do perfil que as empresas procuram, pois sempre ocorrem as reestruturações.

Cada vez mais as empresas buscam profissionais com perfil mais analítico e que possam enxergar o negócio em todas as suas nuances financeiras. Será demandado um executivo mais estratégico, mais financeiro e mais eclético em termos de negócios e cultura com investidores estrangeiros. Os executivos que as grandes empresas agro procuram têm de ter um perfil mais empreendedor e foco em gestão de risco, liderança comercial na distribuição, criatividade e enorme capacidade de relacionamento e negociação. Ele tem de ser um mobilizador de pessoas. Isso vale também nas empresas de produção agrícola.

A maior parte dos executivos atuais foi formada em empresas multinacionais que oferecem enorme gama de possibilidades e estrutura. O tempo das “vacas gordas” terminou e atualmente o mercado precisa de executivos mais propensos ao risco e ao empreendedorismo. Não há mais lugar para os que se acostumaram a berços ricos e seguros. Há uma grande oferta de profissionais, mas poucos se enquadram no que as companhias procuram. Além de tudo, há o desafio pessoal de mudar o local de moradia, adaptar a família à vida e ao ritmo do interior.

Se esses já são desafios imensos, há ainda outros pela frente. Pois no mundo agro também vivemos um choque de gerações. Nos últimos 30 anos, tivemos o pioneirismo gaúcho e paranaense que migrou para a região Centro-Oeste, comprando terras, cultivando fazendas e gado e criando seus filhos. Essas famílias prosperaram e agora buscam profissionalizar o negócio com executivos que entendam que a cultura empresarial do interior é a da presença.

Os fundadores dessas empresas valorizam o profissional que está à disposição sete dias por semana. Mas o executivo de hoje tem outra cabeça, preza qualidade de vida e tem a tecnologia a seu lado para trabalhar menos e produzir mais. O modelo de gestão mudou. Mas nem sempre o empreendedor consegue flexibilizar a ideia de que um bom executivo não precisa estar presente 24 horas por dia, sete dias por semana como ele mesmo esteve durante toda a vida.

Alguns paradigmas serão em breve quebrados. O mundo agro sempre foi masculino, mas muitas empresas já precisam e querem mais mulheres presentes na gestão e em seus conselhos.

por Jeffrey Abrahams

Engenheiro agrônomo e sócio-gerente da Fesa, consultoria de busca e seleção de altos executivos

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