Passada a euforia da histórica, e até certo ponto inesperada, vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, os setores da economia global começam a esboçar possíveis cenários para os próximos quatro anos, baseados nas radicais mudanças propostas pelo republicano durante sua campanha eleitoral.
Na manhã de quarta-feira (6), após a confirmação da vitória, falando aos seus apoiadores na Flórida, o empresário prometeu um “mandato poderoso e sem precedentes”, que inaugurará “a era de ouro da América”. Ao seu lado, Trump terá a Câmara dos Representes e o Senado norte-americano, que formaram maioria republicana.
Trump e o agro
De acordo com o Censo de 2020, mais de 66 milhões de pessoas, ou quase 20% da população dos Estados Unidos, vivem em áreas rurais do país, dedicando-se à agricultura, à pecuária ou atuando na agroindústria.
Apesar de ser um setor que historicamente tende a apoiá-lo, durante sua campanha, foram raras as vezes em que Donald Trump sinalizou apoio direto ao agronegócio.
A falta de ideias claras e as promessas de protecionismo e disputa comercial deixa o setor em dúvida quanto ao seu futuro; todavia, o mesmo segue confiante no novo governo para atender suas demandas.
“Nossos líderes eleitos precisarão fazer da agricultura uma prioridade máxima ao encerrarmos 2024”, disse em nota Zippy Duvall, presidente da American Farm Bureau Federation, principal entidade representante dos produtores rurais norte-americanos.
Entre as prioridades do agronegócio está a renovação da Farm Bill, principal instrumento de política agrícola e alimentar do governo federal, que expirou em setembro deste ano.
Sua renovação permitirá o desenvolvimento de programas de commodities, comércio, desenvolvimento rural, crédito agrícola, conservação e pesquisa. Normalmente, o congresso norte-americano aprova um projeto de lei agrícola a cada cinco ou seis anos.
A questão da soja
Uma pesquisa feita por economistas da Bloomberg colocou a soja como o “alvo mais eficaz” da nova disputa comercial entre os Estados Unidos e a China, que deverá surgir no ano que vem.
De um lado, Trump propõe eliminar gradualmente as importações chinesas de bens como eletrônicos, aço e produtos farmacêuticos, assim como busca proibir empresas chinesas de possuírem imóveis e infraestrutura nos Estados Unidos nos setores de energia e tecnologia.
Como reposta, Pequim deverá usar a mesma ferramenta, aplicando restrições às importações da soja norte-americana.
Atualmente, estima-se uma safra recorde nos Estados Unidos, com 124,70 milhões de toneladas, segundo o último relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura (USDA). A China, maior compradora da oleaginosa norte-americana, desempenha papel fundamental nesse mercado.
“Há uma preocupação entre os players da Bolsa de Chicago de que uma escalada no conflito comercial possa resultar em um excesso de oferta da commodity dos EUA, sem a participação do seu principal comprador”, analisa a equipe de pesquisa da DATAGRO Grãos.
“Essa situação, no entanto, pode ser favorável ao Brasil, que já tem o país asiático como seu maior mercado consumidor. Até outubro, conforme levantamento nosso, os embarques brasileiros de soja totalizaram 94,255 milhões de toneladas, das quais 68,978 milhões de toneladas (73,2% do total) foram destinadas à China”, conclui.
A relação com o Brasil
Apesar de Donald Trump deixar claro que a China é seu principal adversário comercial, o republicano lançou a ideia de uma tarifa de 10% ou mais sobre todos os bens importados para os Estados Unidos, independente do país, uma medida que, segundo ele, eliminaria o déficit comercial.
Em entrevista coletiva, Trump declarou que “tarifa” é a sua palavra favorita, chamando-a de “a mais bonita do dicionário”.
Depois da China, o país norte-americano é o segundo maior comprador do agro brasileiro. Na última década, entre 2014 e 2023, os Estados Unidos importaram US$ 76,7 bilhões em produtos do agro brasileiro, dos quais US$ 36,7 bilhões ocorreram no primeiro mandato de Trump, entre os anos de 2017 a 2021, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Os produtos são dos mais variados tipos e vão desde café até couros, passando por fumo, lácteos, pescados, Entre os demais estão: animais vivos (cavalos, por exemplo), cacau e derivados, carne (bovina, aves e suína), cereais e farinhas, chá mate e especiarias, complexo soja (farelo, óleo e grãos), complexo sucroalcooleiro (açúcar e etanol), fibras têxteis, frutas (incluindo castanhas), plantas vivas e floricultura, produtos apícolas, florestais e hortícolas, oleaginosas além da soja, ração animal e sucos.
(Bio) energia
Buscando se reaproximar do novo presidente, os fabricantes de etanol dos Estados Unidos emitiram nota parabenizando Trump e acenando para que o republicano permita o consumo da gasolina com 15% do biocombustível (E15), o ano todo, e em todo o país, como ele já fez no mandato anterior.
Atualmente, o consumo de E15 é proibido na maior parte dos Estados Unidos nos meses de verão devido ao fato de não atender ao requisito da legislação americana de poluição ambiental, de 1990. Sendo assim, a maior parte da gasolina no país é consumida com 10% de mistura de etanol (E10).
“Nós o apoiamos que ele permita uma solução permanente que garanta uma economia contínua nas bombas para todos os americanos, todos os meses, por todos os 50 Estados”, afirmou Emily Skor, CEO da associação Growth Energy, em nota. A Associação de Combustíveis Renováveis (RFA, na sigla em inglês) também se pronunciou na mesma linha.
Para o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, a eleição de Trump é uma oportunidade para o Brasil e Estados Unidos “caminharem juntos em direção de uma transição energética sustentável, que reconheça os atributos de combustíveis renováveis e limpos”.
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Ao mesmo tempo em que deve agir beneficamente para o setor de biocombustíveis, Donald Trump, prometeu, em sua campanha eleitoral, aumentar a produção de combustíveis fósseis dos Estados Unidos, facilitando o processo de permissão para perfuração em terras federais.
Todavia, ainda é cedo para dizer se a indústria petrolífera seguirá adiante e aumentará a produção em um momento em que os preços do petróleo e do gás natural estão relativamente baixos no mercado internacional.
O republicano também disse que retirará novamente os Estados Unidos dos Acordos Climáticos de Paris, uma estrutura para reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa, e apoiará o aumento da produção de energia nuclear.
Em relação ao setor automobilístico, Trump garantiu revogar as determinações do atual presidente Joe Biden sobre veículos elétricos e outras políticas destinadas a reduzir as emissões de automóveis.
Segundo ele, os Estados Unidos precisam ser capazes de aumentar o potencial energético do país para serem competitivos no desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial, que consomem grandes quantidades de energia.
Fonte: Datagro
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