As principais frentes de desenvolvimento tecnológico incluem aperfeiçoamentos mecânicos, hidráulicos, pneumáticos, elétricos, eletrônicos de informática e comunicação
por Joel S. Alves* – Novas tecnologias se fazem cada vez mais presentes no maquinário agrícola. Mas que avanços são esses? E como fica a manutenção? Esse tipo de cuidado ainda se faz necessário ou entramos na era da rotatividade e do descarte das máquinas? E mais: quando tratamos de tecnologias de maneira geral, muitas interpretações podem surgir. Para sermos específicos, no caso das máquinas agrícolas, creio que valha esclarecer a quais tecnologias nos referimos.
As principais frentes de desenvolvimento tecnológico incluem aperfeiçoamentos mecânicos, hidráulicos, pneumáticos, elétricos, eletrônicos de informática e comunicação. Trata-se de um conjunto amplo e diversificado e nesse emaranhado tecnológico a manutenção está presente. De início, devemos considerar que no universo da mecânica os avanços não são muito marcantes: produzir e transferir força ainda requer muitos eixos, mancais, rolamentos, engrenagens e peças metálicas reforçadas. O que há de novo são materiais compostos de metais e cerâmica, mas ainda com custo elevado. No caso da hidráulica e pneumática as novas tecnologias envolvem comandos e controles mais rápidos e eficientes, bem como a transferência de força com multiplicação e rendimento torcional, como é o caso das trações hidráulicas. A elétrica e eletrônica nos oferecem evoluções constantes nos mais diversos sistemas. Já informática e comunicação são o que há de mais avançado, com o monitoramento e controle total e a Internet das Coisas (IoT).
Na prática, isso tudo traz benefícios reais? E os custos? Quais os impactos nas rotinas operacionais e de manutenção? São questões que dependem de um conjunto de variáveis e algumas que somente o tempo ajudará a responder. Com base no dia a dia, acompanhando a realidade de propriedades e locais onde é possível vivenciar o emprego de equipamentos altamente tecnológicos, podemos fazer algumas conjecturas.
Em primeiro lugar, é importante destacar que ainda estamos muito longe de ter máquinas rentáveis do ponto de vista energético, pois a tecnologia atual ainda é de largo consumo. Motores de combustão há muito deveriam fazer parte do passado, com a substituição por um modelo de produção de força mecânica. Façamos uma rápida comparação: cilindro, pistão, biela, virabrequim, bloco, cárter e cabeçote. Em 1940 já eram assim os motores. E hoje? Também. Então, o que mudou? Algo em torno das ligas metálicas, do uso da eletrônica e monitoramento da combustão. E em termos de consumo? O rendimento dos motores melhorou? Muito pouco. O consumo continua altíssimo, ainda sendo um dos grandes custos agrícolas. A tecnologia de motores ainda carece de novos recursos e modelos.
Segundo aspecto: transferência da força. Aqui há algo novo, força hidráulica. Tínhamos muitos eixos, engrenagens, mancais e acoplamentos, agora há bomba de força, válvulas, tubulações e cilindros e motores hidráulicos. Mais simples, mais eficiente, menos peças e mais rendimento final. E a manutenção? Está correndo atrás para conseguir acompanhar. O uso dos recursos da pneumática também está presente, em segurança, conforto e rendimento. Exemplo: o banco do operador com controle de amortecimento e posição por sistema pneumático oferece conforto e segurança operacional; estabilizadores nos pulverizadores garantem mais eficácia e precisão na aplicação. Hidráulica e pneumática vieram para ficar no maquinário agrícola.
Elétrica e eletrônica
Aqui há avanços significativos. Sinto-me até um pouco desconfortável, pois sou técnico mecânico, e devo reconhecer os fatos. Os conjuntos e sistemas elétricos e eletrônicos são os que mais evoluíram e com ganhos significativos de rendimentos. E com uma característica marcante: a simplicidade.
Sistemas eletrônicos estão presentes em todas as máquinas atuais, desde circuitos integrados de semicondutores até microprocessadores de controle e monitoramento, que vão desde a injeção eletrônica dos motores diesel até telemetria e piloto automático. Também a manutenção está equipando-se de ferramental de diagnóstico para os sistemas eletrônicos, e os mecânicos do passado hoje são mecatrônicos – um processo ainda em transição. Nos sistemas elétricos as novidades envolvem baterias mais duradouras, geradores mais eficientes e motores de partida mais simples, mais potentes e menores, quando comparados aos do passado. Somente nesses três itens temos uma evolução visível até para os mais desatentos. Talvez muito em breve teremos máquinas agrícolas com motores elétricos e energia de bateria tracionárias – em parques industriais já temos a presença de rebocadores e empilhadeiras dotados dessa tecnologia. Os tratores elétricos já são uma realidade e não tardarão a chegar e logo os encontraremos no meio rural. A propósito, a matriz energética de muitas propriedades está mudando, com a geração de eletricidade a partir de placas solares, energia eólica e biogás.
Para completar, a informática e a comunicação são tecnologias cada vez mais presentes, embora entenda que sejam mais uma ferramenta do que a própria tecnologia. Ressalvo, no entanto, que em certos casos há um marketing exagerado e objetivos não muito claros, sem, contar questões sensíveis sobre sigilo e propriedade de dados. De qualquer maneira, estamos diante de uma ferramenta poderosa de monitoramento e controle, que permite obter informações rápidas e precisas sobre as máquinas e seus desempenhos. Reforço que o risco é o da segurança administrativa da produção e de uma eventual perda de controle, pois são dados que podem ser captados por “outros” com “outros” interesses. Sempre vem a pergunta: quem criou o sistema? Onde nasceu todo este aparato? As informações que circulam em “nuvens” podem ou não ser acessadas? Alguém pode manipulá-las?
Para um CEO do agronegócio talvez seja cômodo ter acesso online, mas o resultado final, será que não poderia ser melhor? Recursos da informática e comunicação de dados são presenças marcantes no maquinário, mas é preciso usá-lo com cautela e pleno domínio, senão “a vaca vai pro brejo”.
Foco na prevenção
Como fica a manutenção no meio desse entrevero todo? Literalmente, correndo atrás da máquina, para manter em condições adequadas diante de um quadro de escassez de pessoal técnico especializado e de ferramental com custos elevados. Pessoas para realizar serviços de manutenção de máquinas agrícolas, com conhecimento técnico de mecânica, hidráulica, pneumática, eletroeletrônico e informática, além de boa coordenação motora para serviços práticos e que queira permanecer no campo é uma espécie raríssima.
Quanto ao ferramental também há desafios. Eles começam com o equipamento de diagnóstico, sem o qual é impossível realizar qualquer serviço. Quem tem? Qual o custo? Quem tem quanto cobra? Muitos ainda estão restritos às concessionárias. Claro, que com ferramental adequado e pessoas capacitadas a manutenção atual de máquinas ficou mais simples e muito mais rápida. Quanto ao pessoal treinado, o que está acontecendo é o uso de equipes multidisciplinares com um ou dois técnicos em cada área do conhecimento. E o que se tem observado é que quando a máquina entra em manutenção há uma equipe de seis ou mais técnicos em sua volta. Bem diferente de tempos atrás, quando uma ou duas pessoas faziam toda revisão. As revisões ampliaram as horas de funcionamento da máquina e há menos itens a serem reparados, quando respeitadas as rotinas adequadas de intervenções preventivas. Há vantagens e desvantagens, as máquinas são maiores e produzem mais.
Quanto aos custos, cresce o número de empresas especializadas em locação de máquinas agrícolas, ou seja, um negócio novo e especializado, em que o produtor não se envolve com a manutenção, que fica a cargo de quem oferece os serviços.
Talvez essa seja uma tendência vantajosa na qual as manutenções também possam ser beneficiadas. Enquanto isso, convivemos com rotinas de oficinas onde há a presença de bancadas modernas com computadores online e equipamentos de diagnósticos juntamente com ferramental para remoção e conserto de eixos, redutores, rotores e componentes de peso.
É o rumo do futuro, pois a roda da história não anda para trás.