“A pandemia do novo coronavírus afetou a atividade produtiva em diversas frentes: adiando ou cancelando investimentos, interrompendo parte da cadeia de suprimento e restringindo transporte de mercadorias e a mobilidade da mão de obra”, essas são algumas da conclusões da pesquisa “Impacto da pandemia da COVID-19”, realizada pela ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas entre os dias 30 de março e 3 de abril, junto aos seus associados, com o objetivo de aprimorar sua atuação em meio a crise.
De acordo com José Velloso, presidente executivo da ABIMAQ, a pesquisa buscou consolidar informações, que possibilitem a entidade entender como a crise vem influenciando no desempenho do setor, além de, avaliar o impacto das medidas já tomadas e identificar aquelas necessárias para mitigar os efeitos da pandemia. “A ideia central foi fornecer às indústrias e agentes públicos informações relevantes para o desenvolvimento de ações que possam reduzir os danos causados pelo novo coronavírus”, explicou.
Segundo Velloso, praticamente todas as empresas da mostra informaram que pretendem promover demissões nos próximos meses. “Ninguém pode dizer exatamente o número de demissões, mas estimamos que pode chegar a 15% do nível de emprego da nossa indústria, o que significaria 50 mil empregos diretos e mais 150 mil indiretos, o que pode chegar a 200 mil pessoas. Atualmente, o setor emprega 350 mil diretos e quase um milhão de indiretos.
Velloso explica ainda que a ABIMAQ vem mantendo negociações com cerca de 80 sindicatos de trabalhadores em todo o País para ajudar na redução de jornada e salários ou na suspensão temporária de contratos, medidas previstas na MP 936. “E esse processo tem que ser muito ágil – explica – uma vez que os cortes podem ocorrer antes dos acordos serem fechados, caso esses demorem a ser concluídos”
As empresas indicam queda forte de faturamento, podendo passar de 50% nos próximos dois meses.
MERCADO EXTERNO
Mais de 70% do universo pesquisado é constituído de empresas exportadoras, onde 54,2% registraram queda das exportações da ordem de 56,2%, com expectativa para os próximos 60 dias de encolher ainda mais (57%). Verificou-se ainda uma queda de 53% nas importações de insumos.
Além disso, há, entre as preocupações, a desorganização ou interrupção da cadeia de suprimentos que, para além da queda de vendas, tem o potencial de inibir a atividade produtiva e o atendimento da carteira de pedidos.
Perguntado quais seriam as medidas que, se anunciadas emergencialmente, contribuiriam para a manutenção das atividades produtivas de máquinas e equipamentos, 95,1% das empresas participantes da pesquisa responderam que a postergação do pagamento dos impostos faria um papel importante nesse sentido e 82,2% informaram que o refinanciamento das dívidas deveria ser autorizado.
CAPITAL DE GIRO
Até o dia 03 de abril, 32,4% já tinham procurado as agências bancárias na intenção de acessar capital de giro, mas apenas 11,4% das empresas de fato conseguiram o crédito.
Até aquela data, 21% das empresas que buscaram o capital de giro no mercado bancário não conseguiram. Os motivos informados foram diversos, mas entre eles:
-Taxas de juros elevadas
-Falta de crédito
-CND negativa
-Excesso de garantias
-Ausência de informação
As condições de financiamento encontradas pelas empresas que adquiriram o crédito dizem que em média a taxa de juros oferecida pelos bancos ao tomador de empréstimo foi de 14,3%, taxa extremamente elevada diante do atual quadro de contração da atividade produtiva e da renda das famílias e acima daquela observada antes da pandemia.
“Para contornar o aumento dos riscos que o setor financeiro se recusa a assumir, prossegue Velloso – o Governo precisa atuar oferecendo garantias, implementando medidas como a suspensão da exigência de CND, direcionando o depósito compulsório liberado, exclusivamente aos bancos compromissados em conceder o crédito, enfim, medidas que conduzam o crédito a quem realmente necessita”.
“O setor financeiro também precisa mudar sua postura em relação ao seu cliente na concessão de crédito, considerando, além das garantias convencionais (recebíveis, patrimoniais etc.), o potencial do negócio do tomador. O sistema bancário brasileiro, diferente do estabelecido em países de economia dinâmica, está muito longe de assumir riscos e, principalmente, de valorizar o potencial do negócio do seus clientes”, finaliza o presidente executivo.