Máquinas e Inovações Agrícolas

Piloto automático se tornou essencial nas fazendas

Por Viviane Taguchi

Ferramenta mais usual da agricultura de precisão tem papel de destaque nos esforços de automação do campo

As vendas de máquinas agrícolas, em 2020, cresceram 7,3% em relação ao ano anterior. Isso, em um cenário bastante complicado para a economia, a pandemia do novo coronavírus que provocou a paralisação das fábricas do setor por alguns meses e reduziu a produção do setor em 10%. Os dados são da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automores (Anfavea), divulgados em janeiro deste ano. 

Para 2021, a entidade projetou a expectativa de aumento de pelo menos 7% nas vendas, 9% nas exportações e 23% na produção do segmento. E boa parte dessas máquinas já sairá das fábricas com uma ferramenta que hoje em dia, é prioridade para o produtor rural: o piloto automático, que pode ser abarcado em tratores, pulverizadores e colhedoras para otimizar as operações em uma lavoura, reduzir os custos e, consequentemente, aumentar a produtividade.

O piloto automático é sinônimo de automação das máquinas agrícolas que, quando possuem essa tecnologia (que podem ser itens de fábrica ou agregados posteriormente), movimentam-se pela propriedade e realizam manobras com o mínimo de intervenção de um operador.  É uma das principais ferramentas da Agricultura de Precisão (AP) e baseia-se na utilização de um dispositivo GNSS (receptor) para enviar informações de posicionamento georreferenciadas ao sistema de direção da máquina ou dos implementos, fazendo com que ela siga um caminho pré-determinado ou realize uma operação deixando o operador livre para outras atividades. 

Cristiano Pontelli, gerente de negócios da Otmis, divisão de agricultura de precisão da Jacto, explica que o piloto automático representa a base para qualquer projeto de tecnologia de agricultura de precisão. “O piloto automático aliado aos softwares e sensores pode reduzir em até 15% o desperdício em uma lavoura e o produtor rural já entendeu que vale a pena investir em tecnologia”, afirmou. “Se falávamos em piloto automático há dez anos, apenas 20% dos produtores conheciam a tecnologia. Hoje, 100% sabem dos benefícios de ter um piloto automático”.

Como o veículo é orientado pelo GPS, é possível realizar operações em horários em que os veículos estariam parados, reduzindo a ociosidade das máquinas, o tempo de operação, a fadiga do operador e outros custos em geral, o que implica aumento de produtividade. Por essa razão a demanda por pilotos aumotáticos tem sido cada vez maior. “O piloto automático conduz máquinas e implementos com uma precisão impossível a um condutor humano”, explica Adriano Naspolini, CTO da divisão agrícola da Hexagon, empresa nacional fabricante de pilotos automáticos. 

Segundo Naspolini, a precisão de um piloto automático, no alinhamento, pode chegar a dois centímetros, por exemplo. “A demanda é alta porque é uma ferramenta que maximiza os recursos de campo, diminui significativamente a compactação do solo e aumenta os tempos produtivos. Os pilotos automáticos usados na agricultura brasileira em nada diferem da tecnologia aplicada em outros países, o nível de inovação é o mesmo”. 

Sem comparação

Pontelli, da Jacto, diz que a cada safra, mais sensores e softwares avançados podem ser aliados do piloto automático para otimizar as operações agrícolas. “A cada geração de máquinas, elas já vêm com mais avanços, mais sensores que podem ser acoplados ao piloto para aumentar a eficiência da operação”.

Com a agricultura 4.0, as montadoras estão investindo cada vez mais em ferramentas inteligentes. Assim como as vendas de máquinas agrícolas aumentaram no período, as montadoras aproveitaram para investir pesado em tecnologia embutida nos veículos novos. Todos os anos, as principais novidades tecnológicas são exibidas nas feiras agrícolas. Com o cancelamento dos eventos, a saída foi investir em lançamentos digitais. 

A Case IH anunciou novas séries de colhedoras, plantadoras e pulverizadores. Todos, com alta tecnologia para automatizar as operações agrícolas. “A tecnologia tem como objetivo auxiliar o produtor a otimizar as operações, em diferentes culturas, em qualquer condição e sempre buscando o equilíbrio entre a produtividade, qualidade e minimizando perdas”, afirmou Eduardo Junior, gerente de Marketing de Produto da Case IH. Outro gigante do setor, a Valtra, também apresentou nova tecnologia para pilotos automáticos voltados para os tratores que priorizam até a ergonomia do assento do operador. O sistema, chamado Valtra Guide by Trimble permite acesso remoto para suporte, alta precisão de manobras e funções de tráfego controladas. Segundo a empresa, é recomendado para todos os tipos de cultivo, de ponta a ponta. “São tecnologias que trazem benefícios que vão desde a ergonomia do operador, priorizando a segurança e seu conforto durante a execução das operações, até o aperfeiçoamento do trabalho em campo”, destacou Victor Cavassini, coordenador de marketing de tecnologia da AGCO América do Sul, dona da marca. 

Com uma visão futurista, a Jacto apresentou máquinas em 2020 que podem representar o “agro do futuro”. Em um evento virtual e 3D, a montadora que fabrica 100% de suas máquinas automotrizes com piloto automático, lançou uma plantadora automotriz (que não precisa ser acoplada em um trator), uma colhedora para o mercado de cana-de-açúcar “desenvolvida sob encomenda” e um pulverizador autônomo que deve ser lançado neste ano. 

O produto, de acordo com Pontelli, dispensa totalmente o operador e vem acoplado com sensores capazes de guiar a máquina com laser, gravar a operação para repeti-la posteriormente e será a “nova geração” das máquinas. “Acreditamos que, em cinco ou sete anos, tenhamos muitas máquinas autônomas no campo, sem a necessidade do operador. Aliás, essas máquinas não têm cabine”, conclui.

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