Silvia Massruhá: a primeira mulher a assumir a presidência da Embrapa

Em entrevista para Máquinas & Inovações Agrícolas, a pesquisadora Silvia Massruhá se comprometeu a defender um amplo e democrático plano de modernização da empresa, focado em algumas premissas fundamentais

Silvia Massruhá: a primeira mulher a assumir a presidência da Embrapapor Adriana Gavaça – Com o desafio de tornar a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) mais democrática e comprometida com a produção de alimentos saudáveis em bases sustentáveis, a pesquisadora Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá foi eleita a primeira mulher a assumir a presidência da instituição. Seu nome foi confirmado nos Conselhos de Administração (Consad) e de Elegibilidade (Coele) da Empresa, no dia 1º de maio, em nomeação oficializada em Boletim de Comunicações Administrativas (BCA). 

Silvia Massruhá é doutora em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), onde apresentou a tese “O modelo de inteligência artificial para diagnóstico de doenças de plantas”. É mestre em Automação pela Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e graduada em Análise de Sistemas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).

Mineira de Passos (MG), ingressou na Embrapa em 1989, participando de importantes transformações da área de informática na agropecuária, desde a fabricação de softwares, passando pela década da internet até a presente era digital, em que a computação é transformada no terceiro pilar da pesquisa científica, ao lado da teoria e da experimentação, segundo a pesquisadora. Entre suas áreas de conhecimento está o desenvolvimento de tecnologias para sistemas complexos ou para soluções interdisciplinares portadoras de futuro, que se materializam no uso de ferramentas como Inteligência Artificial, blockchain e Internet das Coisas (IoT), entre outras.

Ao assumir a presidência da Embrapa, Silvia se disse honrada em chegar à direção da instituição em uma ocasião tão especial, que são os recém-completados 50 anos da Embrapa. Ela também considerou um marco na gestão da instituição, que terá uma mulher na presidência pela primeira vez. “É um passo importante da empresa rumo a gestões cada vez mais igualitárias e inclusivas”, declarou.

Em entrevista para Máquinas & Inovações Agrícolas, a pesquisadora se comprometeu a defender um amplo e democrático plano de modernização da empresa, focado em algumas premissas fundamentais, como diálogo permanente; valorização das equipes; maior integração entre UDs; maior foco nas agendas de mercado, social e ambiental; relação institucional harmônica e de alto nível com parceiros (internos e externos); simplificação de procedimentos e processos; recomposição orçamentária; ampliação da participação dos empregados nas decisões; recomposição do quadro de empregados com perfis mais adequados para o momento atual e futuro; e manter a empresa atuante na fronteira do conhecimento, na vanguarda da ciência e tecnologia. Acompanhe:

Qual o sentimento de ser a primeira mulher a assumir a presidência de uma entidade renomada como a Embrapa?

É com muita honra e senso de responsabilidade que assumo a presidência desta renomada instituição, que nos dá muito orgulho em sua trajetória de 50 anos de grandes contribuições para a ciência e a inovação brasileiras. Sendo a primeira mulher a assumir o cargo, a responsabilidade só aumenta, dada a expectativa de todos os colegas da Embrapa, principalmente quando penso na importância deste momento para todas as pesquisadoras e empregadas da Embrapa.

Como foi sua trajetória profissional até este momento?

Sou pesquisadora da Embrapa há 33 anos – neste ano completarei 34 anos -, atuando na área de computação aplicada à agricultura, mais especificamente em projetos na área de inteligência artificial, onde pude aplicar essa tecnologia para solução de problemas reais da agricultura, como diagnóstico de pragas e doenças e desenvolvimento de índices de sustentabilidade. Nos últimos 13 anos, participei ativamente da gestão da Embrapa Agricultura Digital, onde fui chefe de PD&I, de 2009 a 2015; e chefe-geral, de 2015 a 2022.

O que você destacaria durante sua gestão na Embrapa Agricultura Digital?

Na minha gestão, além de fortalecermos o portfólio de projetos de pesquisa aumentando substancialmente o orçamento da unidade, também atuamos como facilitadores do ecossistema de inovação da agropecuária junto à academia e a outras instituições públicas e privadas. Também atuamos fomentando e mentorando startups, englobando as agritechs e foodtechs. Agora, vejo esse desafio (de presidir a Embrapa) como uma oportunidade de intercâmbio de informações, conhecimento e tecnologias com as outras 42 unidades da Embrapa (UDs), onde a pesquisa agropecuária acontece de fato. Na nossa visão, precisamos resgatar o protagonismo das UDs da Embrapa.

Quais são os principais pontos que a nova administração deverá perseguir?

Defendo um amplo e democrático plano de modernização da empresa, focado em algumas premissas fundamentais: as pessoas são nosso maior patrimônio; diálogo permanente; valorização das equipes; maior integração entre UDs; maior foco nas agendas de mercado, social e ambiental; relação institucional harmônica e de alto nível com parceiros (internos e externos); simplificação de procedimentos e processos; recomposição orçamentária; ampliação da participação dos empregados nas decisões; recomposição do quadro de empregados com perfis mais adequados para o momento atual e futuro; e manter a empresa atuante na fronteira do conhecimento, na vanguarda da ciência e tecnologia.

Como a Embrapa deve continuar contribuindo para o desenvolvimento do agro brasileiro?

Temos que garantir a Embrapa pública, plural (atuando com diferentes públicos, desde a agricultura familiar até as cadeias produtivas do agro) e mais democrática; uma Embrapa comprometida com a produção de alimentos saudáveis em bases sustentáveis (nas três dimensões: ambiental, econômica e social); maior articulação com as políticas públicas; maior integração com SNPA e demais Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), empresas e startups no ecossistema de inovação agrícola; transversalidade da agenda com diferentes Ministérios; maior aproximação das cadeias produtivas e dos públicos estratégicos; uma atuação mais preditiva (com maior antecipação aos problemas) na agropecuária brasileira; indução de agendas e redes de inovação; articulação com instituições de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) e Assessoria Técnica Social e Ambiental (ATES) visando a transferência de ativos tecnológicos disponíveis na Embrapa; manter a Empresa posicionada na vanguarda científica e tecnológica (avanços na fronteira do conhecimento) do mundo; e ampliar cooperação técnica e científica no sentido sul-sul e norte-sul.

Nesse contexto, quais são os principais desafios e oportunidades?

Dentre os principais desafios, pode-se destacar a recomposição do orçamento e do quadro de empregados com perfis mais adequados para o momento atual, modernização e otimização da infraestrutura, além, é claro, de atuar na vanguarda da ciência e tecnologia, na fronteira do conhecimento. Já dentro das principais oportunidades, podemos destacar a garantia da segurança alimentar e a soberania alimentar, visando aumentar a produção e a produtividade da agropecuária brasileira de maneira sustentável, e também mostrar para o mundo, por meio de métricas e indicadores, que a nossa agricultura é sustentável nas três dimensões: ambiental, econômica e social.

Poderia citar alguns trabalhos importantes da Embrapa para o desenvolvimento do agro brasileiro?

Expansão da soja para o Cerrado, Fixação Biológica do Nitrogênio, Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), edição gênica (permitindo a identificação de genes resistentes ao estresse hídrico), tropicalização de culturas (como a uva no semiárido e trigo no Cerrado) e novas oportunidades de produção, como o Sisteminha Embrapa no semiárido. Recentemente, também lançamos o BiomaPhos, que é um bioinsumo inovador que melhora a absorção de fósforo acumulado no solo pelas plantas e, consequentemente, aumenta a produtividade das culturas.

Como a Embrapa pode ajudar o Brasil a ter um agro cada vez mais sustentável?

O fortalecimento de ações de bioeconomia é uma das prioridades da Embrapa para impulsionar o desenvolvimento sustentável nos seis biomas brasileiros. Mais especificamente, na região amazônica, precisamos reduzir o paradoxo entre a riqueza de recursos naturais e a extrema pobreza das populações e comunidades locais. Iremos continuar ajudando o Brasil a aumentar a produção e a produtividade da agropecuária brasileira de maneira sustentável.

Em quais aspectos já avançamos nesse tema e em quais é possível avançar ainda mais? O ILPF é um exemplo?

Como já falei, precisaremos mostrar ao mundo, através de métricas e indicadores, que a nossa agricultura é sustentável nas três dimensões: ambiental, econômica e social. Nosso país pode também ocupar novos espaços na transição energética, que é um outro grande desafio da pesquisa agropecuária brasileira e mundial. Mudanças climáticas seguirão impondo metas severas de descarbonização para a agricultura e para todas as indústrias que têm alta dependência de recursos fósseis. Precisamos ampliar a nossa agricultura de baixo carbono e investir em sistemas de produção mais sustentáveis, em insumos biológicos e em sistemas integrados, como o ILPF e os sistemas agroflorestais.

 

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