Tendências e perspectivas para o agro

O Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio reuniu profissionais do Brasil e do exterior para falar sobre as tendências e perspectivas para o agro brasileiro e mundial. A mesa-redonda foi moderada pela jornalista Vera Ondei e contou com a participação em estúdio do jornalista e escritor, José Luiz Tejon.

A diretora de commodities da bolsa de valores de Chicago, Susan Sutherland, apresentou durante a mesa-redonda alguns aspectos sobre a safra nos Estados Unidos este ano durante a pandemia e fez projeções referentes ao mercado.

“A estação de plantio nos EUA foi muito boa e teremos uma produção bastante abundante, o que também estava de acordo com a colheita perfeita no Brasil. No meio do ano começou a haver um declínio e quando chegamos em julho, a China iniciou a compra de quantidades cada vez maiores de produtos agrícolas americanos, notadamente milho, trigo, carne bovina e suína”.

Apesar disso, ela explica que havia pouco apoio para o mercado e o país começou a ter problemas com o clima seco em algumas regiões e tempestades em outras, que destruíram parte da produção, o que causou crises futuras.

“Ao mesmo tempo, a China não estava conseguindo encontrar grandes quantidades de produtos americanos, sobretudo soja, mas também milho, então os preços começaram a subir. Nos relatórios que começaram a chegar em setembro, vimos que havia menores estoques desses produtos no mercado de Beijin e isso também contribuiu para a subida dos preços, entre outros fatores”.

Susan comentou ainda o impacto do fenômeno La Niña, o qual, segundo ela, não é determinante, mas sugere uma estação mais seca na América do Sul, o que suscitou certa preocupação sobre os seus efeitos na colheita de 2021 no Brasil. “No ponto em que estamos agora, os produtores brasileiros não estão mais vendendo a safra de 2021 até o final do plantio, quando a produção parecer mais garantida. Mas, meu trabalho não é prever os preços: é avaliar onde os EUA estão em termos de demanda e incertezas em relação às produções no Brasil e na Argentina em 2021”.

Finanças e negócios

A gerente de Estratégia da Ágora Investimentos, Ellen Steter ressaltou que o agronegócio tem sido o grande motor da economia já há alguns anos, mas que, em 2020, isso ficou mais evidente. “Temos uma perspectiva muito favorável para o setor, mas é importante que o produtor rural faça a lição de casa. Meu primeiro ponto é: conheça o seu orçamento e, depois, saiba administrá-lo. Saiba exatamente de onde vem as suas receitas e os seus custos, além de conhecer o ciclo do seu negócio dentro do agro”.

A partir daí, acrescentou, é possível contar com produtos financeiros para auxiliar nessa gestão, mesmo que eles não façam parte do dia a dia e pareçam complicados. “Pergunte, busque pessoas de confiança para ajudar, seja um especialista em investimentos ou o gerente do seu banco. Além disso, a pandemia acabou gerando muita informação gratuita na internet por meio de lives, com conteúdos relevantes. Aproveite, porque é hora de encarar as finanças como sua aliada!”, aconselhou.

Outro ponto citado por Ellen é que muitas dicas de finanças servem tanto para a administração do negócio quanto para a vida pessoal e que, apesar disso, é preciso que ambos andem separados. “Tomem muito cuidado para não misturar as contas da fazenda com as pessoais e, antes de qualquer coisa, façam a reserva de emergência antes de planejar qualquer benfeitoria na fazenda ou pensar na troca de maquinário. Isso porque imprevistos acontecem e a pandemia está aqui para nos lembrar disso”.

Tendências para o agronegócio

A Head do Rural Banking, divisão agrícola do Rabobank Brasil, Pollyana Saraiva detalhou algumas das tendências que ela vê para o futuro do agronegócio. A primeira, segundo ela, está na produtividade, que deverá estar intrinsicamente relacionada às inovações na tecnologia, como, por exemplo, em relação à conectividade, um dos grandes desafios hoje no campo.

“Sempre que falamos de visão e gestão precisamos pensar em quais são as grandes tendências que estão por trás disso. O Brasil terá um papel muito importante na produção de alimentos para atender ao crescimento populacional até 2050, e isso implicará na nossa capacidade de produzir mais sem abrir novas áreas”.

A segunda grande tendência são as mudanças nos hábitos de consumo. “Se olharmos mundo afora podemos ver quatro cenários: os países africanos, que ainda estão preocupados com a disponibilidade de alimento para a população; a Ásia e a Rússia já inserida, preocupadas com a segurança alimentar; países como o Brasil e o México, que estão buscando adição de valor e, por fim, os países mais desenvolvidos, que estão ditando as mudanças de consumo”.

Para Pollyana, a terceira tendência é a sustentabilidade, tema que vem sendo muito discutido nos últimos dois anos e que vai permear a cadeia do agro mundo afora. “A sustentabilidade tem vários aspectos, mas precisamos entender que as questões climáticas afetam regiões de formas diferentes e também decisões de consumo de formas diferentes. Nos países desenvolvidos já vemos consumidores fazendo o balanço entre valor nutritivo e produção de carbono na hora da compra”.

A quarta tendência, como explica Pollyana, é a adição de valor. “Vemos no Brasil e no mundo alguns nichos de mercado que estão saindo das commodities, como, por exemplo, o café brasileiro. Ele é vendido como commodity, mas já existem produtores vendendo café especiais, com rastreabilidade e sustentabilidade.

Por fim, a quinta tendência permeia todas as anteriores, que é a importância da gestão, da governança e da sucessão. “Principalmente a sucessão, que é um dos maiores desafios para produtores e empresas no Brasil e no mundo”.

“Todas essas tendências irão requerer algumas competências, que as mulheres possuem de forma inerente, entre elas: conciliar diversos pontos de vista, organização e habilidade em cooperar. São todas fundamentais para essas tendências se tornem oportunidades para o agro brasileiro e as mulheres do agro”, destacou Pollyana.

A visão feminina

A diretora de Recursos Humanos da UPL Brasil, Maria da Conceição Guimarães, ressaltou que o mercado agro tem se transformado dia a dia e sustentado o país, e acredita que as mulheres desempenham um papel fundamental nisso.

“Os homens têm as suas competências e essa diversidade é excelente para toda a gestão e visão do negócio, mas é incrível como as mulheres são mais pragmáticas. Acredito que a visão feminina traz competências muito importantes para o negócio, dentre as quais se destacam a colaboração e a sensibilidade interpessoal, que é um ponto forte porque conseguimos entender e nos conectar melhor com as pessoas”.

Ela acrescentou que quando se analisa visão de negócio, considera-se apenas questões relacionadas a produtos, recursos e máquinas, e na maioria das vezes, não se fala em pessoas. “É bem interessante quando você vai para uma reunião e os temas são sempre ligados a recursos de inovação, produtos e maquinários, mas não se fala de pessoas. O que seria de tudo isso se não fossem as pessoas?”, questiona.

“Então, para todas as mulheres que trabalham na cadeia agropecuária, prestem muita atenção às pessoas do seu time, pois são elas que vão trazer resultados para o seu negócio. A gestão e a visão estão 100% ligadas nas pessoas. Se você tiver as pessoas certas, com as competências certas e nos lugares certos, tenho certeza de que a sua empresa terá sucesso”, concluiu Maria da Conceição.

Academia de Liderança

A Corteva Agriscience apresentou no terceiro dia do CNMA a história e os objetivos futuros do programa “Academia de Liderança das Mulheres do Agronegócio”, que tem como foco promover ações que reforcem o empoderamento feminino.

O painel foi conduzido pelo diretor de Relações Institucionais da Corteva Agriscience para a América Latina, Augusto de Moraes com a participação do presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Marcello Brito e da diretora Executiva da Fundação Dom Cabral, Viviane Barreto.

“A Corteva acredita na força da mulher para tornar o agro ainda mais pujante e relevante para o país e as mulheres têm contribuído cada vez mais com a transformação e o nível de excelência que o setor tem”, destacou Augusto de Moraes.

Apresentada durante o CNMA em 2019, a Academia de Liderança das Mulheres do Agronegócio envolveu 2.500 mulheres por meio de eventos e workshops, e ofereceu treinamento completo para 20 participantes. Já neste ano, conta com a participação de 150 mulheres prestes a se formar, em um curso 100% online.

O objetivo da Academia é dar ao grupo um repertório de ferramentas, impulsionar a presença feminina no setor e estimular cada vez mais o protagonismo feminino. Ao longo do curso, as agricultoras aprendem habilidades de liderança, economia e mercado agrícola, cenário político e os seus impactos no agronegócio, inovação e sustentabilidade.

Fonte: Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio

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