Máquinas e Inovações Agrícolas

Trator agrícola pequeno: um aliado compacto do produtor rural

O trator agrícola pequeno facilita as manobras e representa um menor custo de manutenção e de consumo de combustível e lubrificantes

por Leonardo Gottems – O trator agrícola pequeno é o principal maquinário presente nas lavouras de todo o País. O Brasil possui, de acordo com o mais atualizado Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 1,2 milhão de tratores em mais de 730 mil estabelecimentos agropecuários, representando mais de 60% de todos os maquinários agrícolas nas lavouras brasileiras.

Obviamente, existe muita variedade de configurações, características, potência e tamanhos. Entre as vantagens do trator agrícola pequeno está a leveza. Este modelo compacta menos o solo, segundo explica Roberto da Cunha Mello, pesquisador do Centro de Engenharia e Automação – Instituto Agronômico (CEA/IAC).

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Além disso, esses modelos são mais versáteis – principalmente com relação às manobras –, representam menor custo de manutenção (com peças, pneus, etc.) e menor consumo de combustível e lubrificantes. Por outro lado, para operações como subsolagem ou tracionamento de carretas pesadas, o trator agrícola pequeno pode apresentar falta de potência.

A potência do trator agrícola pequeno

“Quanto à faixa de potência, existe uma norma específica que determina o nome adequadamente como: motocultivador, tratores de rabiça, micro-trator e tratores de pequeno e médio porte. O motocultivador, os tratores de rabiça e o micro-trator entram na categoria até 20cv ou HP. Tratores de pequeno porte, de até 79,9cv, e de médio porte, acima de 80 a 109,9cv. Os tratores de pequeno porte são adequados para as áreas no entorno das cidades, pois normalmente são áreas pequenas destinadas à produção de frutas e verduras”, comenta ele.

Um exemplo são os modelos da LS Tractor, voltados para a hortifruticultura, de 40, 50, 65 e 80 cavalos. Segundo o gerente de marketing e vendas da empresa, Astor Kilpp, esses tratores possuem diferenciais tecnológicos como as transmissões de 32 velocidades nos modelos menores e de 40 velocidades nos modelos acima de 80 cv, todos com super redutor e sistema de reversão, que facilita as manobras principalmente em espaços reduzidos e em atividades em que o trator precisa fazer constantes inversões de sentido.

A LS Tractor tem atendido demandas de customização dos produtos para determinadas atividades da fruticultura. Foi assim com o modelo Plus 80 para Citricultura e R50 na uva.

“Nossos clientes destas atividades precisavam resolver certos problemas como a altura do trator para trabalhar no parreiral cujo sistema de condução em latada é predominante na cultura. Por isso fizemos nova configuração, reduzindo sua altura em 90 cm”, diz Kilpp.

Nesse contexto, o gerente da Divisão Comercial da Agritech, Nelson Watanabe, fala também sobre a diferença dos rodados e do peso dos tratores, que são fundamentais para a sua classificação e também para o seu uso. “Possuem rodados (pneus) menores, além de dimensões menores (altura, largura) para se adequarem à diferentes tipos de culturas e têm como principais aplicações em olericulturas, fruticulturas, cafeiculturas e estufas”, diz.

Principais características do trator agrícola pequeno

Para o técnico agrícola Vitor Hugo Baratieri, consultor e palestrante sobre máquinas agrícolas, esses modelos de tratores utilizam motores de até quatro cilindros, em que se observa como características de inovação motores mais econômicos, equipados em alguns modelos com sistemas de redução de poluentes, observando a Norma do PROCONVE – MAR 1.

Ele argumenta que o trator agrícola pequeno também apresenta como caraterísticas de inovação o maior número de marchas na caixa de câmbio, bem como a reversão frente e ré. Além do acionamento de forma mecânica ou eletro-hidráulica, o que proporciona mais conforto e economia de combustível.

Qualidade do combustível é essencial para eficiência das máquinas agrícolas

Há também, quase como um padrão, a existência da Tração Dianteira Auxiliar – TDA, também acionada de forma mecânica ou eletro-hidráulica. Prevendo legislação que vai obrigar a todos os equipamentos que trabalham com pulverizações possuírem cabines, esses equipamentos de pequeno porte têm como um opcional a colocação da cabine.

Para atender às necessidades das atividades no campo, com os diversos tipos de implementos existentes e buscando também a melhor adequação do consumo de combustível, esses tratores possuem também, em geral, três opções de rotação na Tomada de Potência – TDP (540, 540E, 1000 rpm), com acionamento eletro-hidráulico ou mecânico.

O que há pouco tempo era um opcional, hoje já é padrão. São as válvulas VCR (controle remoto), inclusive com sistema frontal de VCR para facilitar o acoplamento de equipamentos frontais (concha, lâmina, outro)”, diz ele.

Portanto, todas essas características/opcionais disponíveis para o trator agrícola pequeno proporcionam ao operador maior segurança de operação, conforto operacional, melhor qualidade nas tarefas e ótimo consumo de combustível.

Contudo, o especialista fala que esse último item vai depender do conhecimento do operador sobre a forma correta de utilizar todos os recursos, sendo muito importante a Entrega Técnica do Equipamento e a leitura do Manual do Operador.

“Esses equipamentos têm um amplo campo de aplicação, pois essa demanda de potência dos tratores passa pela hortifruticultura, em projetos de avicultura, suinocultura, bovinos de leite, floricultura, inclusive em ambientes protegidos (estufas). É importante observar alguns aspectos, como maior número de marchas e sistema de reversão frente/ré, opção de cabine, tomada de potência com opção de três rotações, válvulas de comando remoto, tração dianteira auxiliar, vão-livre, possibilidade de ajuste de bitolas e largura máxima de trabalho, por exemplo, que são diferenciais importantes para executar atividades, em especial nas pequenas e médias propriedades rurais”, indica.

Trator agrícola pequeno: presença no campo

Os tratores de pequeno porte são comumente utilizados em propriedades correspondentemente pequenas, conforme explica Arno Dallmeyer, consultor internacional em máquinas agrícolas. Eles são muito utilizados em trabalhos de transporte com carretas de um eixo, mobilização superficial do solo (capina, preparo de canteiros), plantio, e aplicações de agroquímicos, como em pomares ou viticultura.

“Como tem baixa potência, portanto, torque relativamente baixo (quando comparados com tratores maiores), seu peso é baixo (via de regra menos do que 2 toneladas). Isso significa menor capacidade de tração, mas também, menos pressão sobre o solo (compactação).  Por suas dimensões menores, tem menor bitola e menor distância entre eixos.”

Segundo ele, essas características aumentam muito sua manobrabilidade, oferecem mais agilidade e menor raio de giro [os espaços de manobra nas pequenas propriedades muitas vezes são menores].  Outra característica é seu centro de gravidade mais baixo, o que os habilita a operar com segurança em declividades maiores (15%, contra os 10% de tratores maiores).

Para Watanabe, as dimensões das máquinas são diferenciais importantes. Para exemplificar, ele traz o caso de um parreiral, onde a própria cultura exige características específicas para o maquinário envolvido no seu cultivo, como a altura do trator, por exemplo, que não pode enroscar na planta.

“Quando trabalhamos com plantio de uva em parreiras, por exemplo, o trator tem de ser necessariamente baixo para que o equipamento possa passar abaixo da parreira, sem danificar os frutos. Além disso, o trator precisa oferecer adequação ergométrica correta para o operador. Esses mesmos diferenciais acontecem em diversos tipos de frutas, como o plantio de pera, goiaba, caqui, figo e muitas outras frutas”, exemplifica.

Outro exemplo é o caso do café, em que o produtor busca maior produtividade e, para isso, necessita aumentar o número de plantas na mesma área plantada, o que ocasiona redução do espaço entre as ruas.

Dessa forma, existe a necessidade de um trator estreito e, muitas vezes, superestreito para que o agricultor possa fazer os tratos culturais sem danificar as plantas. Assim acontece também com a olericultura, que necessita de um trator que possua um vão alto, (altura do solo até a barra de tração do trator) devido à necessidade de se fazer o canteiro, proceder a adubação e a pulverização.

Mercado dos pequenos

Em 2020, a comercialização do trator agrícola pequeno, de até 79 CV, de acordo com o consultor Baratieri, representou em torno de 25% das vendas. Ele explica que o agro brasileiro tem crescido com forte participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, inclusive com participação da agricultura familiar, pequenas e médias propriedades rurais. Assim, vislumbra-se que este mercado deverá ser promissor nos próximos anos.

“Baseado em todas as melhorias e inovações aplicadas aos tratores desssa categoria, com certeza esses equipamentos são e continuarão sendo fortes aliados do produtor rural da pequena e média propriedade, pois proporcionam agilidade e qualidade nas operações, menor consumo de combustível, conforto e segurança operacional, menor prejuízo ao meio ambiente e, consequentemente, melhoria na renda dessas famílias rurais. Para efeitos de comparativo de vendas de tratores em relação às suas classes de potência, os tratores considerados de porte médio tiveram, em 2020, uma participação de também em torno de 25% do mercado de tratores de rodas comercializados no Brasil.”

Mello também destaca o aquecimento do mercado, lembrando que esse tipo de maquinário, por ser mais simples, tem menor custo de aquisição e de manutenção, o que facilita a sua aquisição por pequenos agricultores. Além disso, o alto custo dos combustíveis faz com que os produtores busquem tratores que consumam menos.

“Existe uma boa demanda para o trator agrícola pequeno, pois além de menor custo de investimento, também apresenta menor custo de manutenção e consumo de combustível. No entanto, vale destacar que a falta no fornecimento de peças e componentes [devido à pandemia] prejudicou a produção dessas máquinas, devido à escassez de matéria-prima”, reforça.

Para Dallmeyer, os números poderiam ser ainda maiores. Ele entende que essa parcela do mercado ainda é pequena, não representando muito no número total da venda de tratores.

“Embora nem sempre seja adequado, mas os produtores preferem comprar tratores maiores, devido à pouca diferença de preço entre os pequenos e os médios. Pode ser por oferta inadequada (custo específico maior que tratores médios), ou pouca oferta de produtos nacionais com boa tecnologia. Alguns modelos ofertados têm projeto muito antigo, sem atualização. Os modelos mais modernos são importados, portanto, sem estímulos de financiamento e mais caros proporcionalmente”, argumenta.

A série MF 4200 Xtra é composta de quatro modelos: o MF 4280 Xtra (80 cv), MF 4283 Xtra (89 cv), MF 4290 Xtra (99 cv) e MF 4292 Xtra (105 cv). São robustos e confiáveis, além de manterem a versatilidade que, principalmente, pequenos produtores rurais precisam

Um aliado do produtor

Como é possível perceber, o trator agrícola pequeno, por ser adequar à dimensão da propriedade e às operações demandadas, beneficiam muito os pequenos agricultores. Isso também se soma ao fato de que seu custo operacional é mais baixo que tratores agrícolas maiores.

Neste sentido, para Watanabe, o  trator agrícola pequeno, de todas as formas, é um grande aliado do produtor rural. Ele explica que mais importante do que o tamanho, a potência ou a marca, é importante analisar qual trator é mais adequado às necessidades daquela propriedade.

“Quando o agricultor consegue a máquina ideal que atenda às suas necessidades, ele consegue um grande ganho de tempo, de produtividade e, principalmente, de qualidade nos produtos ofertados ao mercado”, pontua.

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