Abrapa eleva para R$ 3,23 mi/ton estimativa da safra de algodão 2022/23

O aumento na produção reflete o incremento na área plantada (4,6%), que totalizou 1,67 milhão de hectares

A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) reviu para cima a estimativa de produção para a safra 2022/2023, durante a 72ª reunião ordinária da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), realizada on-line, nesta terça-feira (3).

De acordo com a entidade, serão 3,23 milhões de toneladas de pluma neste ciclo, contra 3,07 milhões de toneladas esperados na reunião anterior da Câmara, em 30 de junho. O volume colhido representa uma alta de 26,5%, em relação à safra passada, 2021/2022.

O dado divulgado na Câmara supera, também, o 12º levantamento da safra 2022/23 da Conab para o algodão, publicado em 06 de setembro último, de 3,15 milhões de toneladas de pluma, 23,3% a mais do que na safra passada. A Abrapa informou ainda que as lavouras já foram 100% colhidas, e o beneficiamento da fibra, até a data da reunião, estava em torno de 56%.

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De acordo com o presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel, o aumento na produção reflete o incremento na área plantada (4,6%), que totalizou 1,67 milhão de hectares, além da produtividade recorde para a cultura, cuja média ficou em 1931 quilos de algodão beneficiado, por hectare: 21% a mais que a registrada na safra passada e 7% acima do último recorde de produtividade alcançado na safra 2019/2020, de 1802 quilos por hectare.

Para a safra 2023/2024, as primeiras estimativas apontam para um crescimento de 8,4% na área plantada com algodão, que deve chegar a 1,81 milhão de hectares, com produção, preliminarmente aguardada, de 3,29 milhões de toneladas, 2% a mais, em relação à safra recém-colhida.

“Sobre a produtividade para a próxima safra, neste momento, seremos muito conservadores, pois entendemos que as condições climáticas este ano foram vantajosas e a produção de algodão por hectare foi recorde. Para 2023/2024, espera-se uma queda sutil neste índice, de 5,9%, resultando em 1818 quilos de pluma por hectare”, afirma Schenkel.

Indústria

Também membro da Câmara Setorial e presente à reunião, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), representada pelo diretor superintendente, Fernando Pimentel, afirmou que 2023 deve fechar “no zero a zero”, na indústria, e a confecção ficará no negativo. “Esse é um momento desafiador, com as plataformas internacionais competindo de forma desleal com a indústria nacional e um inverno que não permitiu que vendêssemos bem as coleções. Além disso, existem crises em algumas varejistas”, explica Pimentel.

Para 2024, a indústria nacional é mais otimista. “A expectativa é de um modesto crescimento, acompanhando o PIB. O prognóstico de hoje é de cerca de 1,5%”, afirmou.

Exportações

Na safra 2022/2023, pela primeira vez, o Brasil alcançou o terceiro lugar no ranking de maiores produtores, superando os Estados Unidos. Segundo o levantamento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), de setembro, para o ano comercial 2023/2024, o Brasil colheu três milhões de toneladas de pluma, contra 2,86 milhões de toneladas dos americanos.

Nas exportações, no mesmo levantamento, os Estados Unidos ainda se mantiveram na liderança, com 2,7 milhões de toneladas de pluma, ante 2,6 do milhões embarcadas pelo Brasil. O presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Miguel Faus, alerta que essas são posições não definitivas.

“O Brasil vem perseguindo o posto de terceiro produtor e o maior exportador, já há algum tempo. A gente esperava que isso fosse acontecer mais para a frente, dentro de uns cinco anos. Contudo, em relação à produção global, alcançamos a meta já nesta safra. É muito importante salientar que esta é uma situação circunstancial.

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Os Estados Unidos tiveram uma quebra de safra causada pela seca no Texas. Vamos ver como ficarão as exportações. Comparados aos americanos, nossos embarques estão muito próximos. Se os ultrapassarmos agora, será também uma questão conjuntural”, pondera Faus. Segundo o presidente da Anea, os Estados Unidos devem voltar a plantar mais algodão no ano que vem.

“Se eles tiverem uma safra de normal para boa, sem os problemas de clima deste ciclo, voltarão a ultrapassar o Brasil. O mais importante é notar que o Brasil tem um papel relevante no comércio internacional de algodão, que, anos atrás, não possuía. Isso foi conseguido com o aumento da produção, melhoria da qualidade, investimentos em rastreabilidade, sustentabilidade e promoção nos mercados lá fora. Nós estamos no caminho certo para, se não for agora, a médio prazo, nos posicionarmos como o principal exportador do mundo”, considera Faus.

O Brasil exportou 186,5 mil toneladas de algodão em setembro de 2023. O volume foi 0,9% maior que o total embarcado no mesmo mês, em 2022. No acumulado de agosto e setembro de 2023, as exportações somaram 290,8 mil toneladas, alta de 17,4% com relação ao mesmo período de 2022. Setembro é o segundo mês do período comercial 2023/24.

Gargalos e proposições

Durante a reunião da Câmara, também foram abordados os problemas com a logística dos embarques na safra 2023/2024. De acordo com os dados apresentados pelo diretor executivo da Abrapa, Marcio Portocarrero, os principais gargalos se deveram à perda do “REDEx” (Recinto Especial para Despacho Aduaneiro de Exportação), por alguns dos terminais de estufagem de contêineres. O documento, expedido pela Receita Federal, tem por objetivo facilitar e agilizar os procedimentos de exportação, garantindo que as mercadorias cumpram todas as regulamentações e requisitos aduaneiros antes de serem enviadas para o exterior.

“Além deste complicador, temos quatro grandes obras sendo realizadas na entrada do Porto de Santos, responsável por 95% dos embarques de algodão no Brasil, somadas à falta de planejamento na chegada das cargas, à concorrência com as outras commodities exportadas via Santos e a questões com os processos de inspeção sanitária, pelo Mapa, dentre outros entraves”, relatou Portocarrero.

O executivo da Abrapa também apresentou as sugestões que serão entregues ao governo, apontadas pelo Grupo de Trabalho da Abrapa, Anea e outras entidades da cadeia produtiva. “Uma dessas propostas é que a inspeção agropecuária federal seja feita em armazém geral. Além disso, queremos fazer uma reunião com o Mapa, a Abrapa, a Anea, e os representantes dos operadores e dos terminais retroportuários, para estabelecer uma operação estruturada, capaz de agilizar o processo de inspeção.

Visamos, ainda, definir um plano diretor para ordenar os processos de embarque de commodities e estabelecendo os critérios para a operação dos caminhões e terminais. Outro ponto é verificar a viabilidade de um investimento num ‘depósito pulmão’, em um local mais próximo ao Porto de Santos. Sugerimos também que seja o aprimoramento da programação por parte dos traders e produtores de algodão, com um cronograma de embarque e de acesso dos caminhões ao porto”, afirmou Portocarrero.

O presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel, finalizou a reunião destacando a importância da convergência de informações que a Câmara Setorial promove. “Isso representa valor para a cadeia produtiva e é essencial para que mantenhamos o Brasil como um grande produtor, assim como um país que industrializa boa parte da sua produção. Somos ainda o nosso principal mercado”, afirma Schenkel. “Esses encontros nos permitem aprimorar a rota. Temos que ser cada dia mais eficientes, com excelência no que fazemos”. Sobre os dados apresentados, ele considera serem “muito positivos”. Schenkel afirma que ainda há desafios, antes de terminar essa safra. “São eles, o beneficiamento e o escoamento dessa pluma, seja para as exportações ou para as nossas indústrias nacionais”, ponderou.

 

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