O 23º Congresso Brasileiro do Agronegócio (CBA), realizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e pela B3, a bolsa de valores do Brasil, foi palco de discussões sobre o futuro do setor. Durante o evento, realizado nesta segunda-feira (5), Roberto Rodrigues, embaixador especial da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e conselheiro da Abag, destacou que o agronegócio tropical é a chave para enfrentar desafios globais como a insegurança alimentar, as mudanças climáticas, a desigualdade social e a insegurança energética, ressaltando ainda o potencial de expansão de áreas cultiváveis e o aumento da produtividade.
“O cenário atual mostra que não há líderes nem uma organização multilateral fortalecida. Com isso, o Brasil tem a oportunidade de ser protagonista nesse processo. Mas, é preciso montar uma estratégia consistente, adequada e articulada com o setor privado, além de se ter parceiros do mundo tropical”, afirmou Rodrigues.
Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA), destaca que o Brasil precisa avançar em duas frentes: defesa e influência. A defesa está relacionada à contenção de danos, como o setor tem feito em resposta às regulamentações europeias. “Precisamos influenciar aqueles que têm poder de influência, especialmente no debate técnico, apresentando as particularidades da agropecuária brasileira para organizações internacionais que ainda mantêm sua relevância”, afirmou.
Agro brasileiro tem o maior potencial para atender demanda por terras até 2030
Silvio Cascione, diretor e chefe do Eurasia Group no Brasil, complementou a análise de Sueme Mori ao enfatizar a necessidade de propor não apenas parcerias comerciais, mas também iniciativas de financiamento, permitindo que a diplomacia brasileira fortaleça suas negociações. “O governo não dispõe de capital suficiente para atender todas as demandas de financiamento, então podemos buscar novos parceiros, além dos atuais, para investir em agricultura de baixo carbono e na recuperação de áreas degradadas, que exigem um capital elevado. Há investidores interessados nessa agenda”, afirmou.
Cascione também abordou a importância de o Brasil manter uma posição de neutralidade e continuar investindo no multilateralismo para atender às demandas de mercados em transição, como China, Oriente Médio e Índia, sem comprometer as parcerias com Europa e Estados Unidos.
“Não é nada trivial ter boas relações com todos os atores, ainda mais num mundo que se apresenta mais fragmentado e pela rivalidade entre a China e os Estados Unidos”, comentou Cascione.
O painel “Clube Fragmentado: o Brasil será associado?” também contou com a participação de Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice, que destacou a força política do agronegócio, representado pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
“Nenhum governo enfrenta o agro, pois é o maior partido do Congresso Nacional”, ressaltou.
Noronha criticou a falta de preparo do Brasil para o futuro, observando que o país costuma tomar decisões apenas diante de crises consolidadas, em vez de agir por convicção. Além disso, apontou como a autocrítica nacional repercute negativamente no cenário global.
O 23º Congresso Brasileiro do Agronegócio homenageou o ex-ministro da Agricultura Marcos Montes, que recebeu o Prêmio Ney Bittencourt de Araújo – Personalidade do Agronegócio 2024. “Estou muito feliz com este prêmio tão relevante para a minha vida. Sou entusiasta do agro e acredito que fazer a aliança pelo Brasil nos levará a um país desta agricultura que é uma só”, disse Montes.
O evento também celebrou o professor da Esalq/USP Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, diretor do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON) com o Prêmio Norman Borlaug – Sustentabilidade 2024. “Sinto-me honrado. Agradeço aos amigos, ABAG, família e colaboradores do CCarbon. O prêmio aumenta minha responsabilidade, assim como a contribuição para os estudos ligados à sustentabilidade brasileira”, afirmou Cerri.
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