Anfavea divulga dados do setor e critica importações públicas de máquinas

Clarisse Sousa – O setor de máquinas e equipamentos agrícolas enfrentou um cenário desafiador em 2024, marcado por uma combinação de fatores econômicos e estruturais. A redução na safra de grãos, a queda nos preços das commodities, o aumento das taxas de juros e as questões climáticas foram determinantes para o resultado, que registrou uma queda de 20%. Além disso, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), outro elemento influenciou diretamente o mercado: a presença de máquinas importadas em compras públicas.

Durante coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (23), a associação apresentou dados e análises sobre o setor. O presidente Márcio de Lima Leite criticou as aquisições de máquinas agrícolas importadas pelo Governo Federal e destacou as perspectivas para o segmento.

Produção de grãos 2024/25 é estimada em 322,3 milhões de toneladas

A produção agrícola teve um impacto importante no desempenho do setor em 2024. A safra de grãos 2023/24 registrou uma queda de 23 milhões de toneladas em comparação com a anterior, representando uma redução de 7,2%. Em 2024, o Valor Bruto da Produção (VBP) também sofreu uma retração, de 3,2%, totalizando R$ 847 bilhões.

Esse cenário, combinado com o aumento das taxas de juros, que reduziram a atratividade das linhas de financiamento, influenciou negativamente as vendas de máquinas agrícolas, conforme destacou o presidente da Anfavea.

“Em anos de juros baixos, vimos um grande aumento nas vendas, que chegaram a 70,3 mil unidades em 2022. Nesses períodos, observamos taxas de juros muito mais atrativas, inferiores a 3%. Atualmente, esse cenário é bem diferente”, comentou Leite.

Queda nas vendas: impacto em números

De acordo com os dados apresentados pela Anfavea, em 2024, foram comercializadas 45.609 unidades de tratores de rodas, o que representa uma retração de 15,2%, e 3.288 colheitadeiras de grãos, totalizando 48.897 máquinas vendidas – uma redução de 54,2%. No total, o segmento teve uma queda de 19,8% no ano em relação a 2023.

O vice-presidente da entidade, Alexandre Bernardes de Miranda, apontou que o segmento de tratores de maior potência foi o mais prejudicado, enquanto máquinas destinadas à agricultura familiar, com linhas de crédito mais acessíveis, “apresentaram um leve aumento”, disse.

A exportação de máquinas agrícolas também teve queda no ano. Foram exportadas 6.034 unidades de tratores de rodas e colheitadeiras, uma queda de 20% em relação ao ano anterior.

Importações chinesas geram preocupação

O presidente da Anfavea demonstrou preocupação com o aumento da participação da China nas importações de máquinas agrícolas e de construção na América Latina. Em 2024, essa participação dobrou, passando de 20,7% para 43% nas máquinas de construção e de 7,7% para 12,7% nas agrícolas.

“Hoje, uma em cada duas máquinas vendidas na América Latina vem da China. Esse mercado está sob um ataque que, se não for contido com políticas públicas adequadas, trará sérios problemas para o setor”, afirmou Leite.

Segundo ele, o Brasil, com tarifas de importação mais baixas que outros grandes produtores, “enfrenta dificuldades para competir”. Leite lembrou que, enquanto a China adota taxas de importação de 13% a 14%, o Brasil mantém uma tarifa entre 8% e 10%, o que favorece a entrada de produtos estrangeiros.

Críticas às compras públicas

A Anfavea criticou duramente o aumento das compras públicas de máquinas importadas, especialmente de empresas que não possuem fábricas no Brasil. Um estudo preliminar realizado pela associação (com previsão de conclusão em abril/2025) revelou que 32% das máquinas compradas pelo Governo Federal em 29 licitações analisadas foram de empresas sem etapas produtivas no País.

Essas compras representam um “grave problema”, na opinião do presidente da Anfavea. “Quando empresas sem compromisso com o mercado local ganham espaço, isso afeta diretamente o emprego, a pesquisa, o desenvolvimento e toda a cadeia produtiva do setor”, avaliou Márcio.

Ele também disse que muitas dessas empresas possuem processos produtivos extremamente simples, empregando menos de 20 funcionários ou, em alguns casos, apenas estabelecendo escritórios temporários no Brasil.

De acordo com Leite, a próxima etapa do estudo avaliará as empresas que “estão maquiando a produção local por meio da importação de máquinas. Não podemos permitir que isso aconteça em um setor fundamental para o Brasil, tanto na construção quanto no agronegócio, onde possuímos tecnologias de ponta. O Brasil produz máquinas que competem nos principais mercados do mundo e exporta uma quantidade significativa delas, porque temos qualidade.”

“Nunca tivemos um ataque tão grande como a invasão das máquinas importadas nas compras públicas, tanto da China como da Índia, com destaque para as empresas sem etapas fabris no Brasil”, complementou.

Segundo a Anfavea, as importações de máquinas agrícolas e de construção aumentaram três vezes desde 2020, passando de 9 mil unidades naquele ano para 26,4 mil unidades em 2024.

Perspectivas e desafios

Apesar de enxergar oportunidades, como o crescimento de 2,2% para o PIB nacional, uma safra recorde de grãos (previsão da Conab para a safra 2024/25 é de recorde, com estimativa de 322,3 milhões de toneladas de grãos) e aumento da demanda mundial por alimentos e etanol, na avaliação da Anfavea, os riscos permanecem significativos. Entre eles, o aumento da taxa Selic para 14,25%, a desvalorização cambial de 5,9%, os preços das commodities, os impactos climáticos e os custos elevados de financiamento.

Com isso, a expectativa da entidade para máquinas agrícolas é de estabilidade no mercado interno, sem crescimento, mantendo o volume de vendas registrado em 2024. Já no mercado externo, as exportações devem apresentar um leve aumento, passando de 6% em 2024 para 6,1% em 2025.

Apesar das dificuldades, o setor mantém o otimismo, especialmente em relação à adoção de tecnologias e políticas públicas que possam aumentar a competitividade da indústria nacional.

“Os sinais que temos – e quando fazemos uma previsão para o futuro, até 2028 – mostram que o país possui um enorme potencial. Evidentemente, com condições atrativas, é possível ampliar cada vez mais as vendas de tecnologias para o campo”, avaliou o vice-presidente Miranda.

Para Leite, “o Brasil tem tecnologia e qualidade em suas máquinas. O que precisamos é de políticas mais sólidas para proteger e fomentar o crescimento do setor. Se não agirmos agora, podemos comprometer nossa posição no mercado global”, concluiu.

 

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