Em parceria com empresa israelense, Embrapa Cerrados inaugura área experimental com gotejamento subterrâneo para culturas de grãos
A Embrapa Cerrados e a empresa de equipamentos agrícolas Netafim inauguraram, em 6 de abril, a Unidade de Referência em Manejo de Água (URMA), instalada nos campos experimentais do centro de pesquisa, em Planaltina (DF). Com uma área de 2 ha irrigada por um sistema automatizado de gotejamento subterrâneo para atender cultivos de soja, milho, feijão e outras culturas de rotação, a URMA possibilitará o desenvolvimento de estudos e melhores práticas agrícolas para o desenvolvimento sustentável da agricultura irrigada, além da capacitação de irrigantes em técnicas de irrigação e novas tecnologias, como a irrigação digital. Após ajustes técnicos, os primeiros experimentos devem ser implantados em 2024.
“Precisamos de tecnologias cada vez mais sustentáveis e economicamente viáveis para darmos respostas ao setor produtivo e a irrigação vai cumprir um grande papel nisso. Inauguramos hoje uma nova página da nossa história: vamos estudar e desenvolver novas tecnologias de irrigação dentro da Embrapa Cerrados, talvez o centro que mais contribuiu para o desenvolvimento do Cerrado ao longo dos últimos 50 anos. Esperamos gerar indicadores, coeficientes técnicos, e análises econômicas para escalar essa e outras tecnologias”, afirmou Sebastião Pedro, chefe geral da Unidade.
O presidente da Netafim no Mercosul, Ricardo Almeida, aposta na expansão da área irrigada no Cerrado, que já conta com inúmeros pivôs de irrigação e áreas irrigadas por aspersores. Ele ressaltou que a novidade “é a possibilidade de fazer um complemento às duas tecnologias, permitindo a irrigação em área total, com uma única data de plantio, tratos culturais e colheita. A URMA é uma plataforma que permitirá pesquisas para dar respostas a dores dos produtores”, explicou, apontando oportunidades de manejos de pragas e da integração de sistemas de irrigação, de diferentes cadeias produtivas e das instituições de pesquisa e comerciais.
Parceria estratégica
Segundo o pesquisador Lineu Rodrigues, chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Cerrados, a parceria para a implantação da URMA nasceu da necessidade de oferecer ferramentas, métodos e instrumentos que possibilitem maior confiabilidade e facilidade no manejo da irrigação. “Se o setor já está utilizando [o gotejamento subterrâneo], nós temos que pesquisar. Há perguntas que precisamos responder. Vamos gerar informações sobre a tecnologia”, apontou.
Rodrigues lembrou que as dezenas de opções de instrumentos disponíveis no mercado para manejar um sistema de irrigação podem, muitas vezes, deixar o produtor confuso. “Várias questões devem ser respondidas antes da adoção de um novo equipamento ou tecnologia: qual a melhor opção para uma dada situação? Qual o melhor custo-benefício?”, argumentou.
Outro aspecto destacado pelo pesquisador é a carência de informações técnicas para as novas variedades de culturas que são lançadas anualmente. “A falta de coeficientes técnicos representativos das condições dessas novas cultivares tem prejudicado o correto manejo da irrigação e dificultado trabalhos de modelagem, simulação e zoneamento agrícola, entre outros”.
Ele explicou que a implantação da URMA terá como objetivos principais avaliar o desempenho do sistema de gotejamento subterrâneo; gerar coeficientes técnicos de irrigação para as principais culturas do Bioma Cerrado; avaliar, adaptar e desenvolver técnicas de manejo de irrigação; avaliar métodos, modelos e sensores de manejo de irrigação; e capacitar irrigantes quanto às técnicas de manejo de irrigação.
Os resultados dos estudos servirão de base para o desenvolvimento de protocolos, ferramentas e métodos de manejo da irrigação e fertirrigação por gotejamento subterrâneo. “Com isso, os irrigantes terão acesso aos avanços tecnológicos, uma vez que as inovações podem contribuir para melhorar a eficiência do sistema, facilitar o manejo e beneficiar o meio ambiente”, projetou.
“Água e alimento são estratégicos e não há como produzir alimento sem água. Toda tecnologia que contribuía para aumentar a eficiência do uso da água é importante”, finalizou.
Instalações da URMA
Localizada em solo de textura média-argilosa, a área experimental foi dividida de forma a permitir experimentos com até oito tratamentos com cinco repetições, além da testemunha. Os tubos gotejadores são georreferenciados por GPS e foram enterrados a 25 cm de profundidade e com espaçamento de 80 cm.
O gotejamento subterrâneo permite uniformizar a umidade do perfil do solo, viabilizando o plantio sem a necessidade de chuvas. Milheto e braquiária foram plantados para estruturar o perfil do solo e fornecer palhada de cobertura, condições que vão tornar a área apta a receber os primeiros experimentos.