Máquinas e Inovações Agrícolas

Aumento na demanda de implementos e máquinas agendam entregas para 2014

Com disponibilidade de crédito barato e a supersafra de grãos, as vendas de máquinas e implementos agrícolas vão de vento em popa no Brasil. Em algumas regiões, o volume deve dobrar em 2013. Somado a isso, os juros reais negativos, que partem de 2,5% ao ano nos programas de financiamento subsidiados pelo governo, aumentaram o apetite dos produtores por investimentos na lavoura. Os fabricantes correm para atender à demanda, mas há empresas com prazos de entrega de produtos só para o ano que vem.

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A indústria de implementos agrícolas não estava preparada para o forte aquecimento do mercado. A demanda nos primeiros meses de 2013 superou, e muito, o que foi projetado para o ano inteiro. “Todo o setor de máquinas agrícolas está com três ou quatro meses de carteira vendida. Plantadeiras, por exemplo, já não tem mais para entrega este ano”, comenta Gilberto Zancopé, presidente da Câmara Setor de Máquinas e Implementos Agrícolas, da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas –CSMIA/ABIMAQ.

Não vai ser possível ampliar a produção, dizem os fabricantes, e a situação neste segmento da indústria só deve ser regularizada entre janeiro e abril do ano que vem. “O mercado aqueceu muito, mas nós fabricantes não estávamos preparados”, reforça o coordenador de marketing da Baldan Implementos Agrícolas, Adilson Batista.

Equilíbrio entre oferta e procura. Com os altos e baixos da agricultura, que tem ciclos bons intercalados com períodos fracos de produção, as empresas de implementos têm receio de investir e encontrar pela frente uma próxima safra ruim. Batista conta que no passado essa situação já gerou impactos negativos sobre a cadeia produtiva da indústria. Ele diz que, quando começavam a vender muitas máquinas, as empresas contratavam funcionários. Demoravam quase um ano para ampliar a capacidade de produção e, quando tudo estava estruturado, o mercado desaquecia, gerando custos de demissões. Apesar da consciência sobre a estratégia de produção da companhia, Batista lamenta: “A gente abre espaço para a concorrência externa, porque o produtor que está com dinheiro e não quer esperar compra máquina da Argentina e até da China”.

A Implementos Agrícolas JAN só tem máquinas para entregar a partir de outubro, mas quem encomendar hoje uma carreta graneleira só deve recebê-la no ano que vem. “Não temos mais prazo de entrega para este ano”, diz o gerente comercial da empresa, Claudiomiro Santos. O equipamento é usado tanto no plantio – para abastecer a plantadeira com adubo, como na safra – como no transporte de grãos, o que confere velocidade à colheita.

A JAN está ampliando o seu parque industrial para 35.000 m² e diz que planeja comprar máquinas para fabricação, mas prefere não divulgar o volume de investimentos. “A empresa precisa arriscar, mas tem que ter o cuidado de este risco não comprometer as finanças e o capital de giro”, diz o gerente.

Santos menciona ainda como agravante para a demora nos prazos de entrega dos pedidos a escassez de mão de obra, especialmente para as atividades ligadas ao agronegócio, e o tempo de fornecimento de peças importadas e alguns tipos nacionais. “Ocorre que os fornecedores são comuns a praticamente todos os fabricantes, e como todas as indústrias estão trabalhando no limite, isso acaba ocasionando um atraso em cascata”, conclui.

A entrega de peças importadas pode demorar até 180 dias, mas não é fator impeditivo para o aumento da produção de máquinas por aqui, diz o presidente da CSMIA/ABIMAQ. Na avaliação dele, com a indústria nacional de peças há maior flexibilidade de negociação, pois elas podem fazer jornada extra de trabalho.

A grande pedra no sapato – se é que se pode dizer isso – foi a explosão da demanda, com o crescimento médio de 20% das vendas em geral. Na região que desponta como produtora de grãos e é conhecida pela sigla de quatro Estados brasileiros, MAPITOBA (engloba Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), as vendas cresceram 100%.

Planejamento. Planejamento é a palavra de ordem. Para o vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Francisco Maturro, “não adianta achar que vai encontrar máquinas na prateleira”. Ele diz que o agricultor tem se planejado melhor. “Como sabe que vai plantar em outubro e colher entre janeiro e meados de fevereiro, ele (o agricultor) se programa para comprar as máquinas.

Robson Zófoli, diretor comercial da Jacto

A fabricante de pulverizadores, colhedoras de café e adubadoras Jacto também aposta no planejamento para conciliar oferta e demanda. “O mercado deve buscar uma melhor eficiência de planejamento, seja desde a aquisição por parte do agricultor, do agente financeiro responsável pelo crédito, até toda a produção na indústria, a fim de evitar perdas de capacidade que impliquem em não atendimento das demandas”, afirma o diretor comercial da empresa, Robson Zófoli.

Por outro lado, a indústria de automotrizes declara não encontrar problemas para atender a crescente demanda. De acordo com dados da Anfavea, as vendas subiram forte. Entre janeiro e abril, o volume faturado de colheitadeiras cresceu mais de 50%, e o de tratores subiu 28%. “Se olhar os números, vai ver que a produção não é recorde. Nós não estamos produzindo com toda a capacidade, ainda temos 30% da capacidade ociosa”, afirma Milton Rego, vice-presidente da Anfavea.

Por meio da assessoria de imprensa, a Case New Holland diz que a maior parte do portfólio de seus produtos tem disponibilidade de entrega dentro do mês de faturamento. “As exceções são produtos de baixa procura ou de utilização muito específica, como colheitadeiras com plataformas diferenciadas e alguns produtos importados”, diz a nota. A companhia também informa que está fazendo investimentos para assegurar a disponibilidade de produtos e exige o mesmo de seus fornecedores. “Nos últimos dois anos, por exemplo, foram investidos R$ 804 milhões nas quatro fábricas da CNH aqui no Brasil.

A demanda por máquinas agrícolas que começou a ganhar força em 2010 apresentou dois momentos. Na primeira fase, o produtor rural aproveitou para comprar máquinas mais pesadas, como tratores e colheitadeiras e, agora, investe em implementos. O vice-presidente da ABAG diz que as empresas de implementos, por serem menores, têm dificuldade de planejamento quando a demanda aperta.

Vem aí uma terceira fase de demanda: “Os produtores estão migrando para produtos de maior potência, isso porque o objetivo é antecipar a safra. É para plantar e colher mais rápido”, diz Milton Rego, da Anfavea. Maturro conclui que os investimentos na lavoura devem continuar. “A tendência é sempre de investir em máquinas de maior tecnologia, porque a agricultura em um país tropical tem uma janela muito curta entre uma safra e outra.”

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