Brasil deve plantar mais soja e menos milho, arroz, feijão e algodão

Os produtores brasileiros devem semear uma área recorde de soja na safra 2019/2020, mas o ritmo de crescimento deve ser menor que em ano anteriores. Incertezas relacionadas à situação fiscal do país e ao quadro de oferta e demanda internacional devem limitar a intenção de plantio do produtor, de acordo com relatório divulgado, nesta sexta-feira (19/7), pela consultoria Safras & Mercado.

A consultoria estima que as lavouras de soja no Brasil devem totalizar 36,631 milhões de hectares. Se confirmada, será uma expansão de apenas 0,8% em relação ao ciclo 2018/2019, quando foram plantados, de acordo com a empresa, 36,339 milhões.

Em nota, o analista de mercado Luiz Fernando Roque diz que o produtor vive um momento de incerteza. Menciona, entre esses fatores, as discussões sobre a Lei Kandir – que pode interferir nas exportações do agronegócio – e do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), assuntos que estão em discussão no Congresso Nacional.

Soma-se a esses fatores, o aumento nos custos de produção para o ciclo, cujo calendário se iniciou, oficialmente, em primeiro de julho, e as indefinições relacionadas à disputa comercial entre Estados Unidos e China, que têm efeitos sobre a demanda pela oleaginosa no mercado global.

“Tal desconforto leva, inicialmente, a intenção de elevar pouco a área a ser semeada com soja na nova temporada. Além disso, a recente melhora na remuneração da pecuária brasileira diminuiu o ímpeto da transferência de pastagens para o cultivo da oleaginosa”, explica Roque, em nota.

Se a área de soja deve aumentar, mesmo que seja em proporção menor que em anos anteriores, o mesmo não se pode dizer de outras culturas. Na avaliação da Safras & Mercado, as lavouras de milho, algodão, arroz e feijão devem ser menores na safra 2019/2020. O movimento é justificado por migração para a soja e pelos preços praticados no mercado.

Na primeira safra de milho, a diminuição deve ser de 2,5% na região Centro-Sul do Brasil. Os agricultores devem semear o grão em 3,957 milhões de hectares. Paulo Molinari, analista de mercado, explica que, embora os preços do cereal estejam em patamares considerados normais, os fertilizantes estão mais caros, estimulando o plantio da soja agora e do milho na safrinha.

Ainda assim, a segunda safra do ano que vem deve ter plantio 1,3% inferior ao do mesmo período neste ano, que está em fase de colheita. As plantadeiras devem percorrer 12,103 milhões de hectares na safrinha de 2020. Na somatória dos dois ciclos anuais, a área plantada com milho no Brasil deve ser de 17,562 milhões de hectares, 1,8% a menos que na safra 2018/2019.

No algodão, os preços estão 20% menores que os do ano passado e as margens já não estão mais atrativas que em anos anteriores, argumenta o analista de mercado Elcio Bento. Além disso, há dúvidas sobre a capacidade da cadeia produtiva, de escoar o excedente via exportação. Diante da situação, a cotonicultura brasileira deve ter uma área de 1,509 milhão de hectares na safra 2019/2020, 7% a menos.

Os preços também não estão estimulantes para o plantio de arroz, avalia a Safras & Mercado. O analista Gabriel Castagnino Viana pondera que ainda é muito cedo para se falar no tamanho da safra, porque os produtores ainda estão comprando os insumos. Ainda assim, projeta uma área plantada de 1,817 milhão de hectares, redução de 1,2% em relação ao ciclo passado.

“Com os preços do cereal novamente não sendo remuneradores como era esperado após a diminuição da oferta, é estimado que a área seja reduzida para a próxima safra. Deve perder uma pequena parte da área para soja na próxima temporada”, explica Viana, na nota divulgada pela empresa.

Não deve ser muito diferente no primeiro dos três ciclos anuais de feijão na safra 2019/2020. Nas estimativas da Safras & Mercado, o plantio deve ser de 896,2 mil hectares, 2,8% a menos que o cultivado no mesmo período na temporada passada. Jonathan Pinheiro, analista de mercado, explica que as novas projeções seguem tendência dos últimos anos, com produtores trocando por culturas mais rentáveis.

“Assim, a primeira safra vem perdendo o posto de maior safra da temporada para a segunda colheita, com menor competição com outras culturas”, pontua o analista de mercado, no comunicado.

Fonte: Globo Rural

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