Entre os assuntos em pauta ao longo da edição está o tripé segurança alimentar, segurança energética e segurança ambiental
Segundo o professor e sócio-diretor da Biomarketing José Luiz Tejon, curador de conteúdo do CNMA, presente na abertura do evento, o conceito do tema deste ano está suportado por uma mudança de expectativas mundiais após o período da pandemia de Covid-19 e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que teve início no ano passado.
“O Brasil é o único país do mundo que pode oferecer essa trilogia (segurança alimentar, energética e ambiental) de forma convergente, na qual cada uma das pernas do tripé tenha sinergia com as demais. No sistema agroalimentar, somos convocados a aumentar a produção de alimentos, já que podemos expandir sem cortar uma única árvore”, pontuou Tejon, cuja afirmação é confirmada pela Embrapa, que já identificou 30 milhões de hectares à disposição do agro brasileiro.
Dia Nacional do Plantio Direto: por um campo mais sustentável
Atualmente, segundo a instituição, a área que está inativa pode ser usada para dobrar a produção de grãos do País, levando em 10 anos a cerca de 600 milhões de toneladas de produção.
Segundo o curador, o agro brasileiro precisa se adequar a essa visão sistêmica do negócio para se manter como um fornecedor de alimento que atende as exigências e tendências mundiais. Para isso, precisa estar aberto aos processos de digitalização e aplicar em suas propriedades a gestão cientifica e tecnológica.
Dobrar o agro de tamanho com sustentabilidade
A abertura oficial contou também com a apresentação da CEO do Rabobank, Fabiana Alves; do professor emérito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues; da presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Silvia Massruhá; e da diretora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Thais Vieira.
Abrindo as apresentações, a CEO do Rabobank, Fabiana Alves, destacou os principais ativos e passivos que fazem parte da cadeia do agro brasileiro. “Temos ativos relevantes dentro do setor, a potência do Agro enquanto motor de toda cadeia de alimentos, da produção ao consumo. Mas também temos passivos importantes a serem discutidos como a coordenação da atualização da estratégia para que tenhamos a devida representatividade nos fóruns globais, e revisitemos a equação de risco e retorno e sustentabilidade a ser refletida numa nova marca para o Agro Brasileiro”.
Ainda, segundo Fabiana, o tema do evento aborda uma questão de extrema relevância para o futuro do agronegócio, tanto no contexto global como também para o seu próprio avanço no Brasil, que se posiciona como um dos maiores exportadores mundiais de produtos agropecuários. A recorrente busca pelo desenvolvimento econômico no setor de forma ampla, deve estar harmonizada com as melhores práticas de sustentabilidade por meio de ações de responsabilidade ambiental, social e econômica.
Ela ainda pontua que o Brasil possui posição de relevância no cenário de produção de alimentos em âmbito mundial, com ampla disponibilidade de recursos naturais combinado com condições climáticas favoráveis para a produção de grãos e proteínas animais.
Para isso, é necessária uma abordagem abrangente em toda a cadeia, com iniciativas e soluções financeiras como, por exemplo, mercado de carbono, que estimulam a compensação de emissões por meio do financiamento de projetos ambientais, a adoção de práticas de agricultura regenerativa, que priorizam a saúde do solo com recuperação ou preservação da biodiversidade, e o uso em escala da agricultura de precisão, que utiliza tecnologias avançadas para otimizar o uso de insumos e contribui para a redução do impacto no meio-ambiente.
“Contrariando a ideia de que a sustentabilidade diminui a produtividade, a implementação dessas iniciativas comprova o aumento de produtividade, além de confirmar a atenção dos produtores quanto a qualidade e a longevidade dos seus próprios ativos e de um setor que sempre busca inovação e oportunidades de negócios”, frisou a CEO do Rabobank.
Presente desde a primeira edição do evento como gestora da Embrapa e agora como presidente da Instituição, Silvia Massruhá destacou a representatividade das mulheres do agro brasileiro e como o CNMA deu visibilidade para as mulheres do campo e das pesquisas.
“Em 50 anos nós aumentamos a nossa área plantada em 140%, dado que evidencia o quanto nossa pecuária é sustentável. Aumentamos 4,5 vezes mais a nossa produtividade em relação á expansão de área. Entretanto, não adianta comunicar estes dados para dentro da porteira, é preciso mostrar, com números, métricas e indicadores, que a nossa pecuária é sustentável e isso será possível apenas com transparência no sistema de produção e maior rastreabilidade”, pontuou Silvia.
Além da segurança alimentar é preciso pensar na segurança energética, um desafio que também está atrelado a sustentabilidade, acrescentou a presidente da Embrapa. Segundo ela, o Brasil tem potencial para contribuir com a segurança energética no mundo todo. “Assim como é necessário se atentar ao impacto das mudanças climáticas, por isso a importância de investir na produção e recuperação de áreas degradadas. Nesse sentido, a Embrapa já está realizando estudos para aumentar a produtividade sem derrubar nenhuma árvore”.
“Outro desafio é a missão socioprodutiva do pequeno e médio produtor. Nós da Embrapa podemos contribuir mostrando para eles como as novas tecnologias podem agregar valor, aumentando a produtividade e trazendo selos de sustentabilidade, realizando em paralelo a inclusão digital”, finalizou Silvia.
Na mesma linha, a diretora da Esalq, Thais Vieira, destacou o Brasil como o país com a matriz energética mais limpa do mundo. “E a Esalq tem papel importante nessa evolução, pois possui pesquisa que conversa com a sociedade e abastece o Brasil com dados reais orientando no melhor caminho para obter crescimento”.
Dados do CEPEA de outubro mostram que o agro representa 24% do PIB do Brasil em 2023 (com pequena redução), e irá alcançar até o fim do ano 2,6 trilhões de reais. O setor somou em outubro 28,3 milhões de pessoas em postos de trabalho, valor recorde acumulado desde 2012, com destaque para os setores de agro serviços e insumos.
“Estes dados comprovam que sim, vamos dobrar nosso agro e chegar a 500 milhões de toneladas em 2040. Mas realmente precisamos? Provavelmente não. Antes de começar a produzir é fundamental evitar o desperdício do que já está sendo produzido. Nós produzimos muito, somos os maiores exportadores de grãos, com safras recordes, porém atingimos o nosso limite. Esse é um sistema tão complexo e passou da hora de olharmos nossos gargalos para valorizar o alimento que é produzido com tanta responsabilidade e de forma sustentável, por meio de métricas auditáveis no mundo inteiro, mas também com a redução de desperdício”, detalhou Thais.
Ainda, segundo a diretora da Esalq, 30% do alimento produzido no mundo é desperdiçado, já, os alimentos prontos para consumo, esse valor atinge 40%. “No Brasil existe uma margem muito grande para agregar valor aos nossos produtos e o processamento de alimentos não é um vilão, mas sim a solução. O processamento pode garantir acesso a alimentação de forma segura nas mais remotas regiões do mundo. Então vamos dobrar o agro, mas é preciso fazer isso agregando valor, produzindo de forma consciente e evitando o desperdício”, frisou Thais.
O Professor Emérito da FGV, Roberto Rodrigues, destacou que o mundo caminha para uma nova dicotomia. “Neste cenário temos três problemas globais que afetam a todos: segurança alimentar, energética e mudanças climáticas”.
Segundo Rodrigues, a agricultura tropical irá resolver estes três gargalos, uma vez que estas regiões possuem terras suficientes para aumentar a produção. “Mas quem vai liderar essa revolução é o Brasil, pois desenvolvemos internamente uma tecnologia tropical sustentável que mostra a exaustão como somos eficientes, produtivos e sustentáveis”.
“Temos as condições perfeitas de tecnologia, empreendedorismo e políticas públicas que nos favorecem. Outro ponto é que a demanda continua crescendo no mundo todo, e por isso podemos perfeitamente trabalhar colocando o Brasil como protagonista da produção mundial de alimentos. Podemos dobrar a produção, concertar a matriz energética e promover a sustentabilidade, desde que exista uma estratégia bem formulada. Não somos mais o país do futebol, somos o país da segurança alimentar e da paz, pois não há paz enquanto existe fome”, finalizou Roberto Rodrigues.
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