Gabriel Nascimento – A colheita é, tradicionalmente, um dos momentos de maior preocupação dos agricultores. A operação é a responsável pelo retorno de todo o investimento ao longo da safra. Qualquer adversidade no período pode colocar em risco a viabilidade econômica do negócio. E a colheitadeira é parte expressiva do aporte do produtor.
O Portal Máquinas Agrícolas procurou especialistas para explicar o que o produtor precisa saber para escolher a máquina certa para otimizar a colheita e maximizar a produtividade da lavoura. São muitas as variáveis envolvidas, mas o objetivo é um só: aumentar a eficiência e a rentabilidade da produção.
Para acertar na escolha
O produtor rural conhece mais do que ninguém a sua própria operação. Com base nisso, ele deve colocar diversos fatores técnicos na ponta do lápis para calcular sua capacidade de compra de uma colheitadeira. A incerteza climática, especialmente nos últimos anos, vem sendo um dos principais desafios dos produtores no período da ceifa. As janelas para os trabalhos estão cada vez mais curtas, o que demanda uma precisão cada vez maior para levar as máquinas a campo.
É fundamental que o agricultor acerte no número e no tipo de colheitadeiras que ele irá empregar. Portanto, a capacidade e a disponibilidade da máquina precisam ser levadas em conta.
Segundo o especialista em mecanização agrícola, Ricardo Ralisch, “a colheitadeira custa bastante e a hora parada é a mais cara da máquina”. Ele explica que a colheitadeira, essencialmente, fica ociosa durante a maior parte do tempo. Por isso, é crucial que ela esteja em plenas condições de uso quando for demandada. Daí a importância da qualidade do serviço de pós-venda das marcas, especialmente no que diz respeito a custos e prazos de manutenção.
A força das concessionárias em certas regiões, aliás, muitas vezes determina a escolha dos produtores por uma marca específica. Por outro lado, a diversificação pode ter suas vantagens.
Não é incomum que as empresas apresentem tecnologias ao mercado em velocidades diferentes, portanto o produtor que varia suas escolhas pode aproveitar melhor cada uma das inovações. Além disso, as montadoras costumam se sair melhor em nichos diferentes em relação ao porte das máquinas. Ter uma colhedora grande e uma pequena de marcas diferentes pode fazer sentido, dependendo da particularidade da propriedade, o que Ralisch considera uma “associação interessante”.
Ralisch é professor aposentado da UEL, de Londrina, e sócio da Agritel, uma empresa de telemetria agrícola, e acompanha o desenvolvimento do segmento. Para ele, parece haver mais vantagens operacionais na adoção de apenas uma marca por cliente, especialmente pela unificação da assistência técnica e do estoque de peças e insumos dentro da fazenda.
Os custos de manutenção também precisam ser levados em conta. “É muito do momento, vai de caso a caso”, diz ele, observando que a tarefa de analisar a viabilidade não é “cartesiana”, e que “cada um faz a sua”.
Antes, ainda, de chegar à lavoura, um ponto a ser levado em consideração é a limitação do acesso: por vezes, uma máquina não pode ser facilmente transportada até a área de colheita, seja por problemas nas estradas, pelo limite de altura ou largura em pontes, e até mesmo na porteira das propriedades. Quando superadas estas questões, vêm as particularidades do terreno: tipos de solo, e de relevo, principalmente, devem ser avaliados, uma vez que a largura e o peso das colheitadeiras dependem fortemente destas características.
Tecnologias embarcadas
Pronta para colher, a máquina precisa atender a mais alguns requisitos para que a rentabilidade esteja assegurada: tecnologia e sustentabilidade. As duas andam de mãos dadas, uma vez que uma máquina com maior tecnologia embarcada realizará uma melhor coleta de dados e permitira a rastreabilidade da operação, tanto para o produtor, quanto para o cliente final. Otimizando os processos dentro da lavoura, o produtor economiza combustível e outros recursos, o que também é revertido na diminuição dos efeitos negativos ao meio ambiente.
Segundo o coordenador comercial da Yanmar na América do Sul, Caue Romero, é importante entender como é o processo do produtor e como cada máquina pode ajudá-lo. Assim, ele explora os atributos nos quais seu produto tem superioridade. A marca trabalha com uma única colhedora de grãos, a YH880, a menor do Brasil, com uma plataforma de 7 pés. Ela é empregada, principalmente, no arroz, no milho, na soja e nas culturas de inverno: trigo, cevada, aveia e sorgo. A empresa já vendeu o produto para clientes de 5 mil hectares e para clientes de 400 mil hectares.
“Atendemos, principalmente, produtores menores, ou prestadores de serviço que compram nossa máquina para colher outras áreas. Por ser uma máquina compacta, a YH880 é mais leve e fácil de transportar, além de ter um menor consumo de combustível. Além desses mercados, outro está surgindo: o de culturas consorciadas. A integração de lavouras, geralmente de café com leguminosas, como feijão e soja, reduz a necessidade de aplicação de herbicidas, pois a soja estaria ocupando a área de uma possível erva daninha, o que reflete na redução de custos. A única que entra nesses espaços é a nossa colheitadeira. Só ela consegue fazer este tipo de trabalho”, observa Romero.
Já a John Deere oferece modelos de colheitadeiras que atendem desde o pequeno até o grande produtor de grãos no Brasil. O especialista em marketing tático da empresa, Claudir Marcelo, destaca as máquinas da classe 3, que podem ser configuradas a partir de 16 pés, até a classe 10, com 50 pés de corte. Ele lista os modelos disponíveis no mercado: S430, S440, S760, S780, S790 e X9 1000.
A classe é o grupo de performance da máquina e ela precisa levar em conta o tamanho da lavoura, a topografia e o clima. Por isso, é necessário adequar a frota da propriedade às condições específicas.
“Se o clima é de muita chuva, a janela é reduzida para colher. As máquinas precisam ter maior capacidade para acelerar os trabalhos, mas se tem uma topografia mais acentuada, não há capacidade física de colocar uma máquina maior. Por vezes, é vantajoso ter duas máquinas pequenas em vez de uma grande”, explica.
Já a opção por mais de uma marca, segundo Marcelo, é muito particular dos produtores. “A grande maioria prefere se estabelecer em uma só.” Se o produtor já tem ou teve duas ou três marcas, ele tem uma noção de quem atende bem.
O gerente de relações institucionais da Indústrias Colombo, Luiz Vizeu, concorda que os altos custos das máquinas e a incerteza climática acentuam a importância de acertar na escolha da máquina. “A colheita é o momento em que o produtor fica mais nervoso. Se houver problemas, ele não dorme”, aponta. Além disso, os atributos técnicos, como o tipo de rodado, plataforma e cabine, também são fundamentais.
“A Colombo trabalha com colheita de café, feijão, amendoim e agora está entrando na colheita de grãos, especificamente na de sementes. O nosso produto, cujo sistema interno é diferenciado, traz excelente resultado para o produtor de sementes, proporcionando ganho comercial. No caso do feijão, a vagem sai sem quebra, sem injúria, quase pronta para ensacar. Uma máquina faz a trilha e outra recolhe, mas o custo de duas operações é ultrapassado por tudo que o produtor ganha em termos comerciais.”
A Avanti, máquina apresentada pela empresa na Agrishow 2024, pode colher semente de soja e, depois que termina, também colhe grãos. Vizeu afirma que é a primeira máquina no mundo que colhe amendoim e grãos.
Os três representantes das fabricantes de máquinas agrícolas ressaltaram a importância da disponibilidade das máquinas para colheita e defenderam, cada um à sua maneira, o atendimento de suas respectivas marcas. O preço de revenda também foi um ponto fortemente destacado pelos porta-vozes quando o assunto é a tomada de decisão de compra. Esses são, portanto, fatores aos quais o produtor deve estar atento e sobre os quais deve ponderar na busca por uma máquina nova.
Sustentabilidade
O tema da sustentabilidade é cada vez mais urgente. O principal motivo é a preservação do meio ambiente e a diminuição dos efeitos das mudanças climáticas. O produtor, no entanto, vem percebendo que métodos sustentáveis também contribuem para a sustentabilidade dos seus negócios. Para isso, as fabricantes têm investido cada vez mais em tecnologia embarcada, permitindo que as máquinas realizem tarefas com muito mais precisão, diminuindo a interferência da falha humana tanto no meio ambiente quanto na rentabilidade da produção.
Claudir Marcelo, da John Deere, vê o produtor muito preocupado com isso. “A tecnologia aumenta a produtividade e reduz as perdas, especialmente a perda de grãos durante a colheita. As condições mudam muito durante o dia, o que demanda ajustes na máquina, que nem sempre o operador quer ou consegue fazer. Uma máquina autônoma, por exemplo, evita o desperdício, o que aumenta a rentabilidade”, disse.
Outro ponto, segundo ele, é a otimização da velocidade. O operador da máquina normalmente inicia o dia com um ritmo, mas, com o passar do tempo, “cansado, não tem o melhor desempenho”. Quando o computador assume essa tarefa, não há essa preocupação. Conforme Ricardo Ralisch, “um dos principais causadores da compactação do solo é a velocidade excessiva das operações agrícolas, incluindo a colheita”.
Marcelo defende a tecnologia para a rastreabilidade da produção. “A máquina consegue identificar em cada metro quadrado todas as características e informações disponíveis em tempo real, compartilhando através da nuvem e facilitando as melhores decisões. Assim, o produtor consegue mostrar para o mercado onde e como ele está produzindo, com todas as práticas de preparo de solo, plantio e pulverização etc. A exigência por sustentabilidade está cada vez maior”, enfatiza.
Para o gerente das Indústrias Colombo, Luiz Vizeu, mais rápida que a evolução dos motores, que vêm se tornando menos poluentes, é a capacidade de levantamento de informações. “Tudo isso favorece a preservação ambiental. Com os dados de produtividade, é possível definir operações de plantio e pulverização com economia em adubos e distribuição de sementes. Tudo isso faz com que se usem menos insumos, o que é bom para o meio ambiente e para o bolso do produtor.” Ele ainda lamenta o gargalo que é o déficit de conectividade no campo.
Para Vizeu, a tendência é a autonomia das máquinas agrícolas, embora não em todo o mundo nem em todas as propriedades. O tamanho das máquinas, por outro lado, está no limite. “Tem o problema do peso da máquina e da compactação do solo. Por isso, o crescimento deve ser em tecnologia”, pondera.
O coordenador da Yanmar, Caue Romero, celebra o impacto econômico da adoção de medidas sustentáveis. “Percebemos isso na economia de combustível. O DNA da Yanmar sempre foi de economia e sustentabilidade. No Japão, a marca surgiu num cenário onde a agricultura demandava um tipo de mecanização que não existia. O país sempre se preocupou com a economia de recursos. Sempre é um desafio introduzir um produto em um novo mercado, mas temos alguns bons exemplos. Um cliente nosso fez as contas após a adoção do nosso produto, que se pagou em um ano e meio, só em economia de combustível. Quando o produtor começa a prestar atenção nesse tipo de coisa, percebe como há alternativas mais atraentes”, comemorou.
Conservação do solo
Para Ricardo Ralisch, as novas máquinas estão atendendo à demanda por economia de combustível e redução da utilização de combustíveis fósseis. As marcas estão desenvolvendo novos processos de combustão interna para otimizar o consumo. “Uma maior eficiência na combustão qualifica bastante as máquinas”, disse ele.
O impacto no solo parece ser a principal preocupação dele. “Toda operação agrícola impacta o solo de forma mais ou menos agressiva. As colheitas, de uma forma geral, são menos agressivas que outras operações. A quantidade de operações é menor, a largura da plataforma é maior, o tráfego é menor. Mas, ainda assim, há impacto. O que podemos pensar são estratégias para amenizá-lo”, diz Ralisch.
Por isso, ele destaca a importância do tipo de rodado que equipa essas máquinas. Quanto maior a área de contato com o solo, menor será a pressão e a compactação. O tipo de borracha empregado na fabricação dos pneus, a distribuição do peso nas máquinas e a própria pressão interna dos pneus influenciam na compactação, que reduz a eficiência das aplicações e representa uma ameaça ao meio ambiente.
“A máquina deve ser adaptada ao ambiente e não o contrário. Até recentemente, tentávamos ajustar o ambiente às máquinas, resultando em problemas como escorrimento superficial e erosões. Podemos refletir sobre tragédias como a ocorrida no Rio Grande do Sul e considerar quanto disso poderia ter sido minimizado se tivéssemos uma boa lógica de conservação de solo nas áreas agrícolas. Não que esse tenha sido o problema, mas isso poderia ter sido amenizado. Quando retiramos os terraços em função do tamanho das colhedoras, colocamos todo o ambiente em risco. Portanto, o dimensionamento da máquina é muito importante. Existe uma tendência natural de se trabalhar com máquinas cada vez maiores, mas não podemos colocar o ambiente em risco”, alerta.
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