por Leonardo Rodovalho* – Com mercados globais cada vez mais voláteis e particularidades únicas do agronegócio, as instituições financeiras enfrentam o desafio de revisar suas políticas de crédito para equilibrar risco e oportunidade. Neste cenário, a Inteligência Artificial (IA) surge como uma ferramenta estratégica para aumentar a eficiência do setor.
A análise de crédito tradicional, que pode ser burocrática e baseada em processos manuais, mostra-se inadequada para a velocidade que o agronegócio moderno demanda. Enquanto isso, a digitalização acelerada do setor, que vai de maquinário conectado a marketplaces digitais, cria um paradoxo com dados abundantes, mas subutilizados na tomada de decisão. É aqui que a IA redefine as regras do jogo.
Imagine ter que ler um livro inteiro de 50 páginas só para encontrar informações necessárias para a avaliação de crédito, como a titularidade de um imóvel. Com a tecnologia, isso pode ser feito em minutos de maneira mais eficiente e segura, identificando riscos e oportunidades que poderiam passar despercebidas.
Plataformas avançadas já automatizam a extração de indicadores financeiros e cruzam dados de balanços patrimoniais com registros ambientais, por exemplo, garantindo conformidade com práticas ESG. A tecnologia tem capacidade para reduzir em até 60% o tempo de análise de documentos complexos como matrículas rurais. Mais que velocidade, a tecnologia traz precisão: algoritmos especializados identificam padrões em balanços patrimoniais, calculam indicadores de liquidez e alavancagem em minutos, e sinalizam riscos que escapariam à análise humana convencional.
O maior diferencial, porém, está na personalização. Sistemas inteligentes permitem criar políticas de crédito dinâmicas, adaptadas a cada tipo de cultura, região e porte de produtor. Enquanto um pequeno agricultor familiar precisa de análise simplificada e rápida, uma trading global demanda avaliações cruzadas com dados de mercado internacionais.
Na prática, a IA torna o crédito mais democrático. O Banco Mundial estima que tecnologias digitais podem incluir 1,2 milhão de pequenos produtores no sistema financeiro até 2026. Com o avanço da tecnologia, pequenos e médios produtores, que antes poderiam ser excluídos por falta de histórico financeiro, podem comprovar capacidade de pagamento por meio de dados operacionais em tempo real.
As cooperativas, por sua vez, ganham agilidade para decidir na janela estreita do plantio. E todo o ecossistema se beneficia da redução da inadimplência. Dados do Banco Central revelam que a inadimplência média no crédito rural atingiu 5,1% em 2023, enquanto as operações que utilizam análise preditiva com IA registraram índices de apenas 2,3%, segundo a Febraban.
O Ministério da Agricultura projeta que 70% das operações de crédito rural utilizarão algum tipo de IA até 2027, o que nos coloca diante de uma mudança de paradigma. O crédito rural deixa de ser obstáculo para se tornar alavanca – capaz de impulsionar a safra brasileira sem descuidar da sustentabilidade financeira. O futuro já chegou ao campo, e ele deve ser ágil, preciso e, acima de tudo, acessível até para os menores produtores.
*Leonardo Rodovalho é COO e cofundador da Nagro