*Anderson Soares Pivotto
A pandemia tem impactado consideravelmente a economia global e acelerado transformações nas cadeias produtivas, comerciais e no setor agro. O uso de novas tecnologias e o ambiente mais digital – realidade para algumas grandes propriedades rurais – tem se tornado também alternativa para pequenos produtores, na busca por otimização de produção e melhor desenvolvimento de atividades. Mas como aproximar os pequenos produtores rurais e as soluções digitais voltadas para o agronegócio?
No Brasil, por exemplo, 77% dos estabelecimentos agropecuários foram classificados como de ‘Agricultura Familiar’, de acordo com o último Censo Agropecuário. Isso corresponde a cerca de 3,9 milhões de propriedades rurais em todo o país em que, de alguma forma, os produtores familiares necessitam de apoio para a travessia do mundo analógico para o digital.
Um exemplo positivo de inclusão desses indivíduos – com iniciativas de imersão em ecossistema de inovação e com presença em um dos principais hubs de inovação do agronegócio mundial – se encontra na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo, conhecida como o “Vale do Silício” do segmento. Nesse ambiente, o Sicredi, tem aproveitado a proximidade com seus mais de 600 mil produtores rurais associados para formação de uma rede com o acompanhamento constante sobre novas tecnologias que podem gerar transformação e facilidade no dia a dia da lavoura. Ao mesmo tempo, fomenta no ecossistema de startups o desenvolvimento de tecnologias adequadas à necessidade deste público tão específico.
Para esse desenvolvimento, mostra-se essencial o entendimento sobre a realidade dos pequenos e médios produtores de maneira profunda, ao envolvê-los no processo de exploração e criação de soluções. O cooperativismo de crédito tem utilizado a proximidade construída com os produtores rurais, ao longo de sua história de atuação, para identificar, por meio de sua rede de colaboradores, os desafios das pequenas e médias propriedades, além de pesquisas para ouvir diretamente dos produtores as principais dificuldades encontradas.
Essa proximidade tem possibilitado mais acerto no processo, ao mesmo tempo, demonstrando que alguns entraves ainda distanciam o pequeno produtor de novas tecnologias para o Agro. Isto posto, vivemos em um país continental e com diversas realidades e, se observarmos a realidade deste público, podemos perceber algumas dificuldades que perpassam pela distância entre pequeno produtor e os polos de tecnologia, a falta de conhecimento e habilidade para uso das soluções, a pouca conectividade no campo, a carência de apoio técnico para escolha de ferramentas mais adequadas, além da falta tempo para conhecer ou testar novas soluções. Também é preciso identificar questões culturais e tradições familiares, uma vez que alguns produtores ainda são desconfiados em relação às inovações que coloquem em dúvida o conhecimento empírico, principalmente aquele transmitido por gerações.
Nesse sentido, movimentos como os promovidos pelo Sicredi têm ajudado a diminuir as lacunas ainda existentes. As iniciativas de aproximação têm sido pensadas a partir de etapas fundamentais que contemplam a inclusão digital, com auxílio a produtores na construção de uma infraestrutura necessária para adoção de tecnologias; o conhecimento e a habilidade de uso com capacitação para utilização de celulares e computadores e até ferramentas mais desenvolvidas, como drones e análise de imagens georreferenciadas; o acesso a tecnologias por meio da conexão com ambientes em que as inovações estão sendo antecipadas e, por fim, o apoio e suporte para a escolha da solução que melhor corresponda às necessidades da propriedade e atividade.
Esse trabalho colaborativo tem demonstrado que, para avançarmos nesta jornada, precisamos superar tanto barreiras culturais como estruturais. Por isso, é fundamental a cooperação dos agentes da cadeia do agro para auxiliar os pequenos e médios produtores na transição para o digital. Sem essa proximidade, estaremos criando um grande número de soluções, mas com pouca utilidade e adoção prática.