Digitalização no campo: setor é carente de tecnologias?


*Por Marcus Linhares

Não é novidade que o segmento do agronegócio evoluiu bastante nos últimos anos em termos de inovação. Como o setor possui muitos negócios agregados, as tecnologias passam a ter um campo gigante de atuação, propondo inúmeras facilidades e ganhos de eficiência operacional. Nesse cenário, observa-se um aumento nas plataformas de Redução de Custos, Aumento de produtividade, IoT, Biotecnologia, ERPs de Gestão, Rastreabilidade, Componentes químicos e fármacos, automação, genética, saúde animal e culturas orgânicas.

Um estudo desenvolvido pela McKinsey e apresentado recentemente pelo instituto Insper e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), mostra que o Brasil está na vanguarda da digitalização da agricultura. Em termos globais, a pesquisa revelou que em 2020, o agricultor brasileiro foi, em média, o profissional que mais utilizou os meios digitais em suas atividades. Mesmo assim, ainda vemos muitos produtores rurais resistentes à digitalização e isso é muito normal. Afinal, toda inovação tende a trazer consigo disrupções ou quebras de paradigmas e com o agro não é diferente.

Porém, ao mesmo tempo tem-se percebido um desafio muito grande: a necessidade de utilizar menos recursos para uma produção maior, pois o fato do agronegócio brasileiro ser o produtor de alimentos para o mundo e ter territórios limitados, faz com que precisemos de tecnologias para aproveitar ao máximo todas as oportunidades, sejam elas naturais, humanos, territoriais, entre outros.

O outro indicador é que há uma renovação de idade no agro. Ele está ficando mais jovem – em relação à faixa etária dos players -, e isso abre um espaço para que novas formas de resolver velhos problemas possam ter mais aderência. Isso fortalece o ambiente para que as startups sejam ousadas em suas soluções e, obviamente, o cenário se ajusta – novas soluções, novas companhias, novos investidores e assim por diante.

Quando falamos sobre a comercialização de insumos e produtos, por exemplo, essa atividade é a mais comum a todas as cadeias produtivas. Todos querem vender o que produzem, independente da cultura. Porém, ainda há alguns pontos que se tornam gaps. O produtor rural tem muita expertise na sua produção, nas técnicas e manejo. Isso porque eles conseguem criar uma estrutura comercial e tem uma visão de negócios muito aguçada, mas em sua maioria, aqueles de pequeno porte vendem com a intermediação de atravessadores. E é nesse ponto que acabam perdendo dinheiro.
Um tema comum entre todos, é o uso dos bancos tradicionais para suas transações financeiras que, até podem ter áreas e serviços para o Agro, mas ainda tem estrutura pesada e cara – taxas altas e serviços burocráticos-, o que possibilita o surgimento e crescimento dos serviços de bancos digitais. E as fintechs têm ajudado a resolver esse gargalo que ainda existe nesse setor.

De acordo com o Mapeamento Agtech 2021, realizado pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups), existem aproximadamente 300 agtechs ativas. Mesmo com a turbulência política e econômica provocada pela pandemia do Covid-19, o agro brasileiro é um dos mais promissores da economia. O PIB do Agronegócio continua crescendo acima do esperado e na contramão da crise. Isso reforça que o mercado está aquecido e tem sido uma boa opção para novos investimentos e lançamento de soluções cada vez mais inovadoras.

Embora o agronegócio esteja crescendo a passos largos, acredito que esse segmento ainda precisa evoluir no quesito de manutenção das características naturais dos alimentos, sobretudo os orgânicos. Por fim, o Brasil é a principal fonte de alimento do mundo. Somando a riqueza do agronegócio, é possível ver oportunidades maiores que os setores da saúde ou do varejo. Porém, vale destacar que o precursor dessa riqueza ainda são as commodities, ou seja, qualquer outro país que tiver alto investimento, pode desbancar o Brasil nos próximos anos, então a saída é apostar em inovação. Por isso reforço – o futuro do agro brasileiro tem que ser a inovação!

*Marcus Linhares é professor do IFPI, Mestre, Doutor e Pós Doutor em Empreendedorismo e Inovação, e responsável pelo NAVE – Núcleo Avançado de Educação Empreendedora (NAVE Lab – IFPI). É fundador e CEO da Bipp, primeira agrofintech do país que facilita as negociações e integra transações de compra e venda entre produtores, fornecedores e agroindústrias

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