Estudo alerta para o risco sanitário no cultivo de trigo

Alerta vem da plataforma SIMA, que realizou uma análise em 110 mil hectares da cultura na Argentina, onde foram detectadas ameaças que podem inclusive ser um problema para produtores brasileiros

Segundo dados da Conab, a colheita brasileira de trigo este ano é calculada em 9,1 milhões de toneladas. Caso se confirme essa previsão, será uma supersafra com produção 19% maior do que a temporada passada. Destes valores, são esperados que 86% do volume produzido seja proveniente do Rio Grande do Sul e do Paraná. Com o plantio tão expressivo concentrado em apenas dois estados, aliado ao uso de poucas variedades, acende-se um sinal de alerta para o risco sanitário no cultivo do trigo, perigo este que, inclusive, já foi identificado recentemente nos vizinhos argentinos.

O problema na Argentina foi apontado no levantamento realizado pela SIMA (Sistema Integrado de Monitoramento Agrícola). A plataforma da agtech, que já tem mais de cinco milhões de hectares em oito países da América Latina, analisou amostras de pouco mais de 110 mil hectares plantados com o cereal. Segundo o apurado, o risco no cultivo do trigo é de uma “ruptura sanitária”. Um dos fatores que preocupa é que metade da área foi plantada com a mesma variedade, o que abre as portas para a geração de resistência ou tolerâncias, principalmente a doenças.

O levantamento indica que, diferentemente de anos anteriores, em que 60% da área foi ocupada por cinco variedades, no ciclo atual há uma grande concentração com uma única cultivar. Assim, faz com que a pressão por algumas doenças se torne “extremamente perigosa”.

Para o levantamento, a SIMA tomou como parâmetro a caracterização sanitária realizada pelo INTA (Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária), que determinou que as cinco variedades mais utilizadas têm um comportamento “resistente” à ferrugem do caule. Já para a ferrugem amarela e a ferrugem da folha, o comportamento da variedade que possui a maior área plantada é moderadamente suscetível, o que coloca a produção em certo risco na presença da doença.

Alerta colaborativo

Vale lembrar que a SIMA funciona sob um mecanismo colaborativo, em que os próprios usuários são os que ajudam seus vizinhos de fazenda com upload de informações para o sistema. Ao detectar qualquer problema, seja ervas daninhas, pragas ou doenças, cada produtor emite um alerta, que atingirá seus pares que também utilizam a plataforma.

Com base nessas informações, a plataforma apurou que houve de fato muitos relatos de sintomas de ferrugem no país argentino. Ao longo de agosto passado, por exemplo, o sistema de alerta notificou mais de 380 usuários em que foi detectada a ferrugem amarela ou próximo a um de seus lotes. No entanto, esses avisos ainda estão bem abaixo dos anos anteriores. A falta de umidade é um fator fundamental para evitar que as doenças decolem.

Oportunidades no Brasil

Embora o cultivo de trigo esteja concentrado basicamente na região sul do País, há a possibilidade de avançar com a cultura em outras áreas, reduzindo assim riscos sanitários. A Embrapa Territorial identificou mais de 2,7 milhões de hectares com potencial para a triticultura nos cerrados brasileiros. Novas tecnologias de manejo e cultivares adaptadas possibilitam o cultivo de grande extensão no País. “Hoje já temos muitas tecnologias que possibilitam essa expansão. Ferramentas como as da SIMA podem também ajudar ainda mais os produtores brasileiros, assim como já consolidamos na Argentina”, diz o engenheiro agrônomo Mauricio Varela, Co Founder da agtech.

A SIMA disponibiliza aos produtores de trigo e de diversas culturas de maneira simples, completa e inteligente o controle e monitoramento da lavoura de forma georreferenciada. Ou seja, dentro de uma gestão total de lançamento e análise de dados em campo, desde o plantio até a colheita, assim facilitando a comunicação.

De acordo com Varela, atualmente existe no mercado um número considerável de soluções voltadas para monitoramento e gerenciamento agrícola. Porém, a maioria delas são tecnologias “rasas”, que não chegavam a cumprir totalmente com as necessidades de levantamento de dados em campo. E outras mais completas com um custo por hectare bastante elevado ou que, pelo modelo de negócio da empresa, seria inviável uma adoção massiva ou em grande escala por configuração ou limitações logísticas. “Nosso aplicativo é muito mais simples de ser utilizado, e ao mesmo tempo que é completo, possui funções inteligentes que facilitam o input de dados”, diz.

Entre os diferenciais do aplicativo, está a melhoria total do processo de registro em campo por meio de uma interface ágil e intuitiva. Além disso, possui sincronização instantânea de dados, eliminando o processo de transcrição. A SIMA oferece ainda imagens e descrições para cada adversidade, facilitando sua identificação e também aponta a metodologia de monitoramento a ser aplicada em cada caso.

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