Gerenciamento de riscos

 

Enquanto a tecnologia avança na mecanização, produtores devem adotar medidas para reduzir danos ao seu patrimônio

Por Marco Lorenzzo Cunali Ripoli*

No ambiente agrícola muitos produtores continuam correndo riscos desnecessários por não fazer seguro de suas máquinas, equipamentos agrícolas e instalações rurais – bens estes de alto valor agregado e fundamentais. Pode parecer incomum por aqui, mas essa prática é muito adotada em alguns países como instrumento de gestão da operação.

Agricultores tomam decisões todos os dias, as quais afetam as operações agrícolas e muitos dos fatores que as influenciam não podem ser previstos com a devida exatidão – é o chamado “risco”. Quanto maior a escala da operação e o nível de complexidade, a agricultura torna-se cada vez mais arriscada, levando os agricultores a precisar compreender os riscos e ter habilidade de gestão, para melhor antecipar os problemas e reduzir as suas consequências. Isso pode parecer um tanto óbvio, contudo, pouco vem sendo levado em consideração.

A tomada de decisão é a principal atividade de gestão, pois é a partir dela que ações serão deflagradas. Na maioria das situações o resultado de uma resolução não pode ser previsto, pois quanto mais complexo for o risco, mais difícil torna-se para os agricultores tomarem uma decisão informada. Podemos citar diversos exemplos no mercado e, no setor sucroalcooleiro, não é diferente…

Os riscos na atividade do campo aparecem de muitas formas: mudanças climáticas, incidência de pragas e doenças, avaria e roubo dos equipamentos, flutuações de preços de mercado, financiamento e empréstimos, taxas de juros, mudanças nas políticas governamentais. Esses riscos têm, muitas vezes, grande impacto na renda agrícola. Há ainda os riscos relacionados com a saúde e o bem-estar do agricultor e sua família e a disponibilidade de mão de obra para a fazenda.

Alguns agricultores estão dispostos a aceitar mais risco e exposição do que outros e, mediante isso, podemos citar três diferentes perfis: os não tomadores de riscos, são aqueles que tentam evitar correr riscos e preferem ser menos arrojados; os tomadores de riscos, são pessoas que estão abertas a negociações mais arriscadas e têm maior conhecimento sobre o que pode acontecer com a volatilidade do mercado (e não mercado, como clima, no caso das commodities plantadas); e os neutros, que são agricultores que se encontram no meio termo da tomada de riscos.

Olhando para pequenos e médios produtores, muitas vezes um conserto ou necessidade de reposição, em caso de um sinistro pode gerar despesas que afetem o fluxo de caixa de sua operação. Os incêndios, acreditem, são a segunda ocorrência mais frequente, seguindo da colisão com obstáculos no solo.

Como amenizar isso e garantir que a conta não pesará no futuro? Se entende por “gestão” a correta atribuição de mão de obra, materiais e demais recursos, com o objetivo de promover resultados satisfatórios. É buscar alcançar rendimentos eficazes, determinados previamente, lidar e prevenir possíveis desvios, motivar e treinar equipes para atuações necessárias e padronizar atividades.

A evolução tecnológica é um caminho sem volta, fazendo com que o produtor se adeque e não perca oportunidades. As melhores decisões de gestão de risco dependem da qualidade das informações, de como são utilizadas e não da quantidade. Informações ajudam o tomador de decisões na sua gestão.

As fontes de informação disponíveis incluem registros de fazenda, estatísticas, informações de revendedores de insumos, comerciantes, extensionistas, outros agricultores e dados de preços de mercado. Se informe! O agronegócio segue rumo à sincronização tecnológica aumentando a capacidade produtiva, sem a necessidade de expansão de terras.

A indústria vem trazendo soluções integradas, com equipamentos aperfeiçoados e serviços que juntos otimizam o trabalho e promovem suporte a tomada de decisões. Há três grandes motivos para a indústria, não apenas voltada à agropecuária, buscar incluir cada vez mais softwares em redes em suas máquinas e implementos, que permitam obter mais benefícios no processo produtivo:

Engajamento– interação do cliente por meio do uso das máquinas e equipamentos pelos operadores;

Manutenção Preditiva – leva em considerações relatórios de atividades e reparos remotos;

Comunicação Máquina a Máquina – redução do trabalho humano e aumento da eficiência e segurança das operações;

Com o engajamento e interação do cliente é possível compartilhar informações, através de todos os tipos de aparelhos, a fim de criar valor diferenciado e forma de oferta de serviços. O profissional do campo, como qualquer outro, busca estar conectado e atualizado em relação a suas operações e deseja se apoiar em dispositivos modernos, com interfaces interativas e portáteis para condução de suas atividades no dia a dia.

Estamos falando da 4ª Revolução Industrial que impulsionará outro crescimento da indústria, dos processos e da automação das fábricas.

De acordo com a empresa Cisco, a visão mais otimista do valor que a Internet das Coisas (loT) pode entregar até 2022 é de US$ 14 trilhões. A manufatura será responsável por 27% (3,88 trilhões), deste valor US$ 1,67 trilhões seriam provenientes do engajamento de equipes e usuário.

Uma soma de US$ 675 bilhões vem devido a melhor gestão dos ativos, em que a manutenção mais inteligente desempenha um papel importante. Outro ganho de US$ 1,54 trilhões será oriundo da redução de todas as formas de desperdícios, como tempo, graças ao uso da comunicação M2M. As manutenções, principalmente as preditivas, trazem mais confiabilidade e performance para as máquinas e implementos.

Muitas empresas já desenvolvem aplicações que utilizam análises avançadas para a auxiliar na melhor tomada de decisões de seus clientes. A condição das máquinas e seus diversos componentes são monitorados por sensores, pois independente se são novas, com o uso intenso podem desgastar de forma prematura.

Mapear as atividades executadas e saber quais máquinas foram utilizadas nos diversos tipos de operações permite que a manutenção seja programada de forma a atender à necessidade específica de cada máquina e/ou equipamento.

Sensores enviam dados das máquinas via internet, wi-fi, rádio etc. para sistemas centrais (ou centrais de operações) que auxiliam nas intervenções, cujo objetivo é assegurar que não se perca tempo com inatividade, promovendo condições de uma máxima produtividade do equipamento, mudando da manutenção corretiva para preditiva, reduzindo significativamente os gargalos ou defeitos que podem resultar em danos irreparáveis para os sistemas.

A utilização da comunicação máquina a máquina (M2M) traz cada vez mais eficiência e segurança nas áreas produtivas das fazendas, desde o planejamento das atividades até a sua realização.

Um caso muito comum, fora do setor sucroalcooleiro que gosto de mencionar é o da Pecuária de Precisão – já ouviu falar nas fazendas sem fazendeiros, as Farmerless? Utilizando-se de sensores, animais são acompanhados e reconhecidos automaticamente por máquinas de alimentação, as quais podem até elaborar uma ração específica para cada animal, fazer a separação por lotes e, ainda, onde as fêmeas receberam dispositivos digitais que informam o momento correto quando entram em seu período de fertilidade.

Quem imaginaria isso anos atrás? M2M é sinônimo de tecnologia de comunicação que ocorre sem intervenção humana. As diversas aplicações utilizam microeletrônica e tecnologia sem fios, por meio da qual os aparelhos incorporados reúnem e distribuem dados em tempo real. Um sistema M2M só é possível com uma estrutura de rede de comunicações, seja fixa, sem fio ou híbrida para que o software de aplicação converta os dados (ex.: de horímetro, temperatura, posicionamento geográfico etc.) em informações que sirvam como suporte a tomada de decisões. Empresas de telecom já reconhecem a grande oportunidade de expandir seus serviços juntos ao agronegócio.

A 4ª Revolução Industrial está mudando a nossa agropecuária, sociedade e economia. O Agro não para!

*Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, Ph.D. é Engenheiro Agrônomo e Mestre em Máquinas Agrícolas pela ESALQ-USP e Doutor em Energia na Agricultura pela UNESP, fundador do movimento O AGRO NÃO PARA, executivo, disruptor, multiempreendedor, inovador e mentor. Proprietário da BIOENERGY Consultoria

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