Ricardo Nicodemos: quais os novos hábitos dos produtores?

Ricardo Nicodemos

Por Clarisse Souza

 

O produtor rural está cada vez mais antenado às inovações e ao que acontece ao redor do mundo, especialmente em relação aos avanços digitais e tecnológicos aplicados ao aumento da produtividade no campo. Foi o que apontou a 7ª edição da pesquisa “Hábitos do Produtor Rural”, da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA). Uma nova edição já está a caminho. A mais recente pesquisa ouviu 2.807 agricultores, criadores e pecuaristas em 15 estados e incluiu 180 questões para entender, por exemplo, o que mudou no perfil do produtor e como a tecnologia tem impactado a vida no campo. São levantados, entre outros dados, hábitos de compra e uso de máquinas e insumos e o uso de novas tecnologias digitais, como smartphone e redes sociais. 

Segundo o estudo, 96% dos entrevistados possuem um celular, e 61% são smartphones – em 2013, eram 17%. A pesquisa mostra que ¾ dos produtores que têm acesso a internet utilizam redes sociais. Perguntados se realizam alguma atividade de Agricultura de Precisão, e em quais atividades, 33% responderam que sim, sendo 78% na preparação do solo, 72% na análise de solo e 69% na regulagem de equipamentos, entre outros.

Desde a primeira edição, em 1985, a pesquisa serve de “mapa de navegação e bússola confiável para entender e aproveitar oportunidades do agronegócio”, conforme Ricardo Nicodemos, vice-presidente executivo da ABMRA e diretor da pesquisa. Na entrevista a seguir, ele destaca o papel do produtor nos dias atuais, o progresso no campo graças ao uso cada vez maior dos recursos tecnológicos e, ainda, apresenta as novidades da 8ª edição da pesquisa, que está em fase de conclusão. Acompanhe:

Quais as principais mudanças identificadas no perfil do produtor brasileiro nos últimos anos?

O produtor brasileiro mudou muito nas últimas décadas. Hoje o produtor rural é um empreendedor, um empresário. É evidente que em um país como o Brasil, com toda a sua extensão e com a sua diversidade de culturas e rebanhos, há de se encontrar diversos perfis de produtores, dos mais simples – que ainda mantêm práticas rudimentares – até aqueles que têm um grande arsenal tecnológico em suas propriedades. Além disso, a presença do jovem no agro e no dia a dia da propriedade vem aumentando a cada ano, como demonstram as informações da 7ª Pesquisa ABMRA Hábitos do Produtor Rural.

Além dessa evolução do perfil dos produtores, há ainda uma evolução tecnológica contínua. Como avalia os impactos dessas novas tecnologias no campo?

Há cerca de 50 anos, o Brasil tinha grande dependência das importações de alimentos originadas de diversos países. Mas graças ao espírito de mulheres e homens empreendedores que arregaçaram as mangas e colocaram as mãos na enxada, e no laço e, com o auxílio da tecnologia, a realidade do agro nacional mudou, e mudou muito. Hoje somos exemplo de produtividade e de sustentabilidade. Grande parte desse progresso se deve à criação e ao uso da tecnologia no campo.

O produtor está mais atento aos recursos digitais como fonte de informação visando aumento de produtividade? 

O advento da internet e do mundo digital na vida das pessoas mudou muita coisa. Em todos os setores, o digital empregou uma nova dinâmica de negócios. No agro essa realidade não poderia ser diferente. O digital tem ajudado toda a cadeia produtiva a melhorar sua performance. A 7ª Pesquisa ABMRA mostrou que o produtor rural está conectado e acompanha os avanços tecnológicos. Portanto, as ferramentas digitais têm ajudado, sim, o produtor a descobrir e conhecer novas técnicas e, especialmente, como empregá-las na rotina diária no campo.

Existe ainda uma importante parcela de produtores, especialmente os menores, que não tem acesso à informação com tanta facilidade. Como fazer a comunicação chegar a esses produtores? Quais os desafios?

O Brasil é um país de proporção transcontinental e que possui milhões de produtores espalhados por toda a sua extensão. Há muitas áreas em que os sinais de transmissão da internet e de televisão não cobrem ou, quando cobrem, são de péssima qualidade. São para os produtores que estão nestas regiões – e que não são poucos – que há meios de mídia tradicionais que cumprem o papel de levar a informação, como, por exemplo, a revista impressa. Mesmo com a existência dos meios digitais, a revista tem um papel fundamental no disseminamento de conhecimento e das novas tecnologias. Por isso é importante entender que o digital e os novos meios que estão surgindo não excluem o que existe, ao contrário: se complementam e tornam a comunicação ainda mais forte.

De acordo com a pesquisa, há informações sobre quais regiões rurais brasileiras estão mais conectadas?

Todas as regiões estão conectadas e em busca de novas tecnologias e de informações. As que estão próximas dos grandes centros urbanos têm maior destaque neste processo.

Hoje, quais as principais demandas do produtor com relação à informação? O que eles estão buscando para suprir suas necessidades neste momento?

Não importam o perfil e o porte, o produtor brasileiro está consciente de que precisa melhorar sua performance e fazer mais com menos. Para isso, é imprescindível que ele aplique tecnologia e inovação. Muitas vezes, para se inovar não é necessário dispor de grandes recursos financeiros. Instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), e muitas outras, levam aos produtores novas visões e técnicas que os fazem mudar uma determinada realidade ou dificuldade de produção.

Quanto às marcas, de maneira geral, qual a melhor maneira de elas falarem diretamente com os produtores? 

Depende de muitos fatores, dentre eles, estabelecer os objetivos que a marca possui. Há alguns anos, com as facilidades e o poder da mídia digital e das redes sociais, muitas empresas imaginaram que havia alcançado a “receita” para resolver todos os problemas de comunicação.  Mas agora essas empresas estão se dando conta de que o digital não faz milagres e que é preciso investir muito recurso para construir bons conteúdos e boa comunicação capazes de atrair a atenção dos diversos públicos com os quais suas marcas se relacionam. Ao definir claramente quais são os objetivos da marca, é possível desenhar a estratégia e, a partir dessas duas condicionantes, entender quais meios de comunicação são os mais adequados.

A próxima pesquisa Hábitos do Produtor Rural deve inserir um capítulo sobre o papel dos influenciadores digitais na “tomada de decisão” dos produtores. Qual a sua percepção sobre esse tema?

A nossa visão é que os influenciadores digitais representam um novo meio de mídia. A 8ª Pesquisa ABMRA nos dará uma boa ideia sobre em que fase esse novo meio de comunicação está e o quanto de fato ele pode influenciar na tomada de decisão do produtor rural.

O engajamento com o conteúdo de jovens influenciadores digitais pode influenciar no aumento da inserção de produtores mais jovens no campo?

Não temos informações que possam embasar uma conclusão sobre isso. Mas, intuitivamente, entendemos que sim. Os jovens influenciadores digitais têm feito uma boa comunicação e mostrado o lado bom de se trabalhar no campo. E isso pode incentivar de forma positiva os jovens que estão em dúvida sobre se ficam ou não no campo.

De certa forma, há uma previsão de aumento também da participação de mulheres no agro em função do compartilhamento mais intenso de informações? 

A propagação de informações e as facilidades que a tecnologia e que o mundo digital trouxeram provavelmente ajudaram no interesse da mulher pelo agro. Mas a sua atuação no campo transcende a questão das informações e da tecnologia: está associada à evolução dos negócios. Em muitos setores como o financeiro, o industrial, o da comunicação, dentre muitos outros, a mulher construiu sua carreira e agregou ainda mais inteligência, intuição e sensibilidade aos negócios. Não poderia ser diferente no agro. A 7ª Pesquisa ABMRA mostrou que quase 1/3 das propriedades apresentam mulheres no gerenciamento e 81% dos entrevistados consideram esta participação vital ou muito importante. 

O que mais pode contar sobre a 8ª pesquisa sobre Hábitos do Produtor? Quais devem ser os principais levantamentos? 

A 8ª Pesquisa ABMRA Hábitos do Produtor será o mais completo levantamento do perfil e dos hábitos de compra e de mídia dos produtores. Ela abrangerá 15 estados, 15 culturas agrícolas e 4 atividades animais, com mais de 240 questões que avaliam os hábitos de mídia, informações de consumo profissional e pessoal, além de oferecer aos cotistas um software exclusivo de mineração de dados e relatórios estratégicos.O estudo avalia os hábitos de mídia dos produtores, considerando todos os meios: impressos (jornais, revistas e informativos), eletrônicos (TV aberta, TV a cabo, rádio) e digital, incluindo as suas plataformas e redes sociais. Pela primeira vez, a pesquisa analisará o papel dos influenciadores digitais. Além disso, foi criado um capítulo com a avaliação das mudanças de hábitos do produtor durante e pós-pandemia, o que ajudará as empresas cotistas a desenharem suas estratégias com informações sobre como será o “novo normal” no campo.ν

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