Livro sobre juventude no Semiárido é lançado pela Embrapa

 

A publicação reuniu um conjunto de instituições parceiras e é resultado do Projeto Pedagroeco, executado entre os anos de 2017 a 2019

“Os jovens do campo querem ser valorizados, acessar internet e mídias digitais, participarem de formações para a agricultura, precisamos de projetos que gerem renda e educação, queremos permanecer no campo”, destaca o jovem Luiz César da Silva, 19 anos, morador da Comunidade Sítio Pedra Miúda, em Mata Grande, Alagoas.

César é um dos milhares de jovens que driblam as dificuldades para permanecerem no campo pelo desejo de seguir o caminho dos pais: trabalhar na agricultura. Dados do Censo Agropecuário de 2017 apontam o envelhecimento dos trabalhadores rurais sem reposição nas camadas etárias mais baixas como um dos principais obstáculos ao crescimento da agricultura familiar no Brasil.

E César também é um dos 150 jovens que participaram do Projeto Pedagroeco – Metodologia de produção pedagógica de materiais multimídia com enfoque agroecológico para a agricultura familiar, que foi implementado com estes atores sociais nos estados de Alagoas, Sergipe, Bahia, Piauí e Paraíba. Durante mais de dois anos, a Embrapa atuou em parceria com universidades, institutos federais de educação, organizações não governamentais que compõem a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), além do Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô em um projeto que teve justamente o objetivo de estimular o protagonismo juvenil e a divulgação de experiências dos jovens sertanejos e suas famílias com a agricultura familiar e com a agroecologia, com o foco na comunicação para o desenvolvimento e na valorização da cultura local.

A trajetória e os resultados deste projeto foram registrados no livro que a Embrapa e as instituições parceiras lançam hoje, nas redes sociais. A publicação Juventudes, Identidades e Saberes Agroecológicos – relatos sobre experiências e diálogos entre o Pedagroeco e a Pedagogia Griô no Nordesteapresenta os resultados do Projeto e traz a visão dos jovens que vivenciaram a experiência. O lançamento acontece, às 19h, durante o Encontro Nacional da Pedagogia Griô, na página do Facebook “Pedagogia Griô”.

Composto por sete capítulos, o livro apresenta leituras de diversos atores e reúne, portanto, uma multiplicidade de formações tais como educadores populares, agricultores, técnicos agrícolas, pedagogos, engenheiros-agrônomos, biólogos, geógrafos, cientistas sociais, jornalistas, historiadores entre outras. Traz os relatos de experiências do Projeto em cada um dos estados e apresenta a proposta metodológica que foi sendo construída no percurso. A publicação pode ser baixada gratuitamente no repositório de publicações da Embrapa, disponível neste endereço (clique aqui) .

“Não se trata de um guia metodológico. Longe disso. Mas o livro inspira, do ponto de vista metodológico, outras intervenções, outras possibilidades de diálogo entre a ciência e as comunidades locais, sejam assentamentos, comunidades quilombolas e diversos grupos sociais”, salienta o pesquisador Fernando Curado, que atua na Embrapa Alimentos e Territórios, com sede em Maceió (AL).

Sertão e agroecologia

O projeto envolveu quatro centros de pesquisa da Embrapa: Embrapa Tabuleiros Costeiros, Embrapa Algodão, Embrapa Semiárido, Embrapa Meio-Norte e organizações não governamentais com atuação em agroecologia e no sertão nordestino.
A base metodológica do trabalho foi a Pedagogia Griô – proposta pedagógica facilitadora de rituais de vínculos e aprendizagem entre idades, escolas, comunidades, grupos étnicos-raciais e de gênero, territórios de identidade, saberes ancestrais de tradição oral e as ciências, artes e tecnologias universais. Por meio de uma parceria com o Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô, com sede em Lençóis (BA), foi possível trabalhar a Pedagogia Griô como fio condutor dos processos de aprendizagem.

“A Pedagogia Griô articula pautas importantes no mundo contemporâneo, promovendo o diálogo e a interação com a tradição, para reinventá-las. Então são contribuições que acontecem nessas relações intergeracionais que a Pedagogia Griô facilita em suas práticas pedagógicas, tanto afetivas quanto científicas”, afirma Lilian Pacheco, que é a criadora da Pedagogia Griô.

Para a analista da Juliana Andrea Oliveira Batista, coordenadora do Projeto, e uma das editoras técnicas do livro, ao abraçar a Pedagogia Griô, o Pedagroeco ampliou seu olhar para as questões de identidades, ancestralidades e territorialidades da juventude agroecológica que convive com o Semiárido. Juliana atua na Supervisão de Inclusão Tecnológica da Secretaria de Inovação e Negócios da Embrapa (SIN), em Brasília. Ela destaca, ainda, a importância da participação das organizações não governamentais, entre elas, a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), que trouxe o componente da comunicação popular e o olhar da convivência com o Semiárido para a metodologia.

“Para nós da Embrapa um dos ganhos do projeto foi o exercício da construção coletiva e da escuta, pois ressignificamos o projeto a partir da visão e da experiência dos movimentos sociais. E isso fez com que o Pedagroeco fosse incorporado às agendas de trabalho das organizações parceiras, ultrapassando, assim, os muros da Embrapa”, afirmou Juliana, destacando, ainda que o trabalho em rede foi outra grande lição.

Comunicação

Durante todo o processo formativo, os jovens foram instigados a compreender suas realidades, ancestralidades, modos de vida e a relação com a agricultura praticada por suas famílias. Como desafio, contaram suas histórias e sistematizaram as experiências agroecológicas em formato multimídia: vídeos produzidos a partir de celulares, áudios, fotografias, cordel, poesia, teatro.

Por isso, a comunicação popular foi outro componente importante do projeto. Gleice Mary Gomes, assessora pedagógica da Associação dos Agricultores Alternativos (Aagra), com sede em Igaci (AL), diz que o Pedagroeco foi abraçado pela instituição justamente pelo fato de favorecer a divulgação das experiências agroecológicas das comunidades. “A Aagra sempre realizou cursos de formação em agroecologia para a juventude, então, o projeto só veio a fortalecer este trabalho, pois trouxe para o debate as diversas formas de comunicação que podem ser usadas para a divulgação das experiências nas comunidades e assim valorizá-las e transformá-las em exemplos a serem seguidos”, explica.

Gleice conta que os jovens atendidos pela Aagra passaram a perceber nas suas comunidades tradições que antes passavam despercebidas, como, por exemplo, os alimentos tradicionais que são produzidos pelos mais velhos, atualmente bastante valorizados em circuitos gastronômicos.

“Um dos desdobramentos importantes foi o fato de alguns jovens do projeto passarem a se inserir em atividades produtivas rurais já desenvolvidas por suas famílias. Hoje temos jovens produzindo de forma agroecológica ou se capacitando para fazerem a transição agroecológica. Essa ideia de que é possível viver no campo passou a se efetivar na prática”, finalizou a técnica da Aagra. Uma das coordenadoras da Aagra na época, Cristianlex Soares dos Santos confirma que o projeto passou a fazer parte de uma das linhas de ação da instituição. “A expectativa é dar continuidade ao projeto no âmbito da instituição”, ressalta.

Relatos de experiências

Um dos destaques da publicação são os relatos das experiências vivenciadas por jovens como o alagoano Luiz César da Silva, o sergipano, Egídio dos Santos Neto, o piauiense Miguel Andrade, a paraibana Sidineia Camilo entre tantos outros.

Para Egídio dos Santos Neto, assessor técnico do Centro Dom José Brandão de Castro, participar das oficinas influenciou positivamente inclusive em suas atividades profissionais. Morador da Aldeia Xokó, da Comunidade Indígena Ilha de São Pedro, em Porto da Folha (SE), ele destacou que as oficinas permitiram maior conexão com sua ancestralidade e identidade. “Hoje, nos encontros e capacitações reservamos um momento para a conexão dos participantes com sua ancestralidade para valorização de suas identidades individuais e comunitárias”, detalha.

Egídio já atuou em diversos projetos que tem como base o desenvolvimento de estratégias de convivência com o semiárido, por exemplo, a implantação de tecnologias sociais como o biodigestor, roçados consorciados, a produção agroecológica de quintais produtivos, a criação de pequenos animais e, recentemente, participou de um projeto do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) voltado para a recuperação de áreas degradadas, uma parceria com o Ministério do Meio Ambiente.

Mailson Melo, por sua vez, relata que as oficinas contribuíram para fortalecer o seu trabalho com o turismo comunitário em Mocambo (SE). “O turismo de base comunitária tem contribuído para o resgate de nossas origens, da nossa essência”, afirmou o estudante que atua no município como integrante da Pastoral da Juventude Rural da Comunidade Quilombola de Mocambo (SE).

“Compreendemos que esse processo de empoderamento da juventude vem de experiências anteriores. Mas a afirmação da identidade e da ancestralidade e a vivência nas comunidades potencializam essa condição da juventude”, ressalta Magda Cruciol, analista da Embrapa Informática Agropecuária, que também coordenou as atividades do projeto, trabalho iniciado quando ainda atuava na Embrapa Meio-Norte.

“As famílias que residem em comunidades rurais têm na agricultura a principal atividade econômica. Nós queremos seguir o caminho dos nossos pais, o caminho da agricultura que nos fez ser quem somos hoje. Porém, precisamos de investimentos, diz o estudante Luiz César da Silva. “O Pedagroeco nos deu visibilidade, permitiu um debate sobre as perspectivas para a agricultura e para o campo, mostrou nosso potencial e a importância de nossas origens e ancestralidades”, afirmou Luiz César da Silva, hoje estudante de Geografia da Universidade Federal de Alagoas, e morador da Comunidade Sítio Pedra Miúda, na cidade de Mata Grande.

Serviço

Lançamento do livro Juventudes, Identidades e Saberes Agroecológicos – relatos sobre experiências e diálogos entre o Pedagroeco e a Pedagogia Griô no Nordeste
Data: 21/02 – quinta-feira
Hora: 19h

Fonte: Embrapa

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