Mercado de máquinas aquece, mas é preciso planejamento

*Douglas Peccin

O mercado de máquinas, em especial o agrícola, está aquecido como poucas vezes na história. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), as vendas das empresas associadas cresceram 55% no primeiro bimestre, ante mesmo período de 2020. Nos bastidores esta informação se confirma, muitas empresas estão com seu forecast (previsão) de vendas anual praticamente todo comercializado no início do 2° trimestre desde ano.

A colheita recorde de grãos na safra 2020/21, as boas expectativas para a temporada 2021/22 e os preços das commodities alcançando cifras inéditas acabam por gerar melhores remunerações aos produtores brasileiros. Isso tudo contribui para manter as negociações em ritmo acelerado.

Porém, o grande desafio está sendo produzir e entregar no prazo acordado. Os fabricantes estão passando por uma espécie de “corrida do ouro” onde o ouro nesse caso, são matérias primas e componentes em geral. Muitas das fábricas estão com sua rotina de trabalho alterada por conta da pandemia. Além disso, muitos dos insumos para a fabricação de máquinas e implementos aumentaram excessivamente de custo como o aço, alumínio, plástico entre outros.

E com este cenário, como que a indústria e produtor devem proceder? Essa situação mais uma vez está sendo de provação para o setor, porém dessa vez é um pouco diferente do que enfrentamos em 2020. Agora o que está sendo colocado à prova não é a robustez do caixa ou a estrutura fabril das empresas, mas sim a capacidade de gerir um planejamento estratégico da marca mediante ao cenário de fornecimento de matérias primas tão instável.

No meio desse turbilhão pelo qual estamos passando, toda a cadeia vai precisar se reinventar de algum modo, desde as siderúrgicas até o produtor lá na ponta final.

No caso do produtor, o hábito e a cultura de ter um planejamento prévio para aquisição de máquinas e implementos precisará ser desenvolvido com urgência, passando a fazer ao máximo possível suas compras de maneira programada, uma vez que sempre contávamos com um farto estoque de máquinas a disposição para compra nos pátios das lojas e hoje a realidade é outra.

Por outro lado, os fabricantes, por mais tentador que seja, precisam desenvolver a capacidade de dizer: “até aqui eu consigo entregar sem comprometer meu cliente final”. E assim vender até onde sua capacidade de processamento alcança, já que um maquinário agrícola é bem diferente de um carro, por exemplo, caso extrapole o seu período de utilização e não chegar na fazenda a tempo não terá serventia para a safra em que o produtor fez a aquisição. Podendo inclusive representar sérias perdas de produtividade caso ele não conte com um outro sobressalente ou uma boa rede de contatos para auxílio na janela da operação.

E como nós do setor e desse lado do balcão podemos agir? Bom, eu diria que ampliar o portfólio de soluções alternativas para um mesmo produto é um bom caminho. Porém, mais do que aumentá-lo para uma mesma especificação técnica, poder contar com opções sem descaracterizar ou perder a eficiência do produto também é um diferencial valioso para os dias de hoje e  isso só é possível com uma engenharia rápida e ágil.

Além disso, a velha máxima que diz: “nada é tão bom que não possa ser melhorado” vem bem a calhar. Nos colocando a perguntar, qual processo ou sistema consigo trabalhar para uma resposta mais rápida às necessidades do mercado? Valendo também para os modelos de gestão!

Apesar de óbvio, o mundo segue em constante transformação e nós que somos dotados de algum tipo de responsabilidade e atividade, seja ela qual for, precisamos estar atentos a essas transformações. É essencial estarmos dispostos a sempre desapegar de pré-conceitos para nos apegarmos aos novos conceitos que constantemente batem em nossa porta todos os dias. Seja dentro de casa, nas atividades diárias, seja no ambiente de trabalho, na indústria ou na fazenda.

*Douglas Peccin é CEO da MP Agro Máquinas Agrícolas

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