O papel dos satélites no fornecimento de crédito ao produtor

Informações obtidas através de imagens de satélite têm papel relevante na concessão de crédito e na análise do histórico produtivo da propriedade, o que facilita o fornecimento de crédito customizado, com melhores taxas e maior volume ao produtor

Ao menos duas vezes por semana um satélite passa sobre a região em que você está e captura imagens de tudo que se encontra na superfície daquela localização. Essa informação pode não chamar a sua atenção, mas é assim que o mercado de concessão de crédito no agronegócio está tornando a tomada de decisão mais rápida e individual para cada produtor.

Um dos principais desafios para a bancarização do crédito no agro é que a maior parte dos produtores rurais, especialmente aqueles que produzem menos do que 2 mil hectares, não têm uma demonstração contábil ou balanço patrimonial para apresentar no momento do pedido de crédito.

Esse balanço tem um papel importante neste processo, pois é a forma com a qual o mercado financeiro consegue analisar a saúde do negócio, observando como ele performou no passado, e, por meio destes dados, busca projetar como ele irá performar no futuro.

Entretanto, a existência de um balanço no agronegócio é incomum, o que fez com que o mercado de crédito buscasse formas alternativas para conseguir recompor o histórico do produtor rural de uma maneira confiável. Foi então que as imagens de satélite apareceram como ótimas opções para realizar um levantamento histórico preciso das propriedades rurais.

Como dito, os satélites passam em cima de cada região do planeta, em média, duas vezes por semana, capturando imagens da superfície. Logo, ao sequenciar as imagens geradas em cada uma destas passadas, é possível ter uma visão profunda da produtividade de cada talhão plantado, possibilitando até mesmo separar as diferentes áreas produtivas da fazenda.

“Existem vários satélites que realizam este procedimento, mas os mais conhecidos são o Landsat, da agência americana, e o Sentinel, da agência europeia. Os dois são capazes de captar frequências de cores não visíveis, que estão abaixo do índice infravermelho, e que são importantíssimas para a análise do agronegócio”, explica Luiz Tangari, CEO e co-fundador da Tarken.

Segundo ele, “a análise destas imagens, com estas frequências de cores, passa pelo algoritmo NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada, em português) que permite calcular o quanto de biomassa, isto é, matéria orgânica, está presente naquele solo. Pela quantidade de matéria orgânica é possível entender qual é o estágio da plantação na região, inclusive qual é a cultura plantada”.

Essa análise comentada por Luiz é realizada de talhão em talhão, identificando características específicas de cada cultura e classificando-as, sendo capaz de informar com precisão o que estava plantado no momento do registro do satélite, além dos momentos do plantio e da colheita. Com estes dados em mãos é possível recompor o histórico produtivo daquele local.

Porém, nada disso é novidade para quem está inserido no agronegócio, mas para os bancos e as concessoras de crédito, como as revendas, ter acesso à essa tecnologia traz mais transparência sobre a produtividade média geral da fazenda. Com maior confiabilidade das informações obtidas, a concessão de créditos ocorre com mais rapidez e transparência.

Para Matthias Koenig, diretor de negócios agrícolas que adotou o Brasil como sua segunda casa, este uso da tecnologia traz segurança em grande escala e de uma maneira mais objetiva.

“A maioria dos produtores no Brasil são pequenos e médios. Na liberação de crédito em escala, a tecnologia tem um papel fundamental para que o crédito chegue a quem precisa, com eficiência e levando em consideração as suas características individuais. Ainda existem pendências no processo atual, porque é difícil refletir as características únicas de cada produtor, de cada situação, para fornecer um limite de crédito e uma taxa customizada. Tendo essas análises individuais de cada produtor para fornecer a ele um produto mais específico, você consegue melhorar a eficiência do mercado em todas as pontas”, explica.

É importante ressaltar que a expertise do banco e do mercado financeiro como um todo não está no agro, embora o setor tenha se aproximado bastante do produtor rural nos últimos anos.

Ainda existe uma jornada a ser percorrida para aproximar os atores financeiros do agronegócio e o papel das revendas e indústrias, como “guardiões do crédito”, tem sido fundamental nessa aproximação.

Recompor o histórico produtivo é essencial para a concessão de crédito

Com uma coletânea de imagens que ajudam a reconstruir o histórico produtivo da fazenda é possível inferir outros dados muito relevantes que influenciam na saúde financeira da propriedade.

Saber com exatidão quantos hectares foram plantados de cada cultura no passado, possibilita compreender a demanda por insumos e calcular o faturamento de cada uma das safras, o que facilita o cálculo da capacidade de geração de caixa de um produtor. Estes indicativos são essenciais para a elaboração do rating, análise de risco e limite de tomada de crédito daquele indivíduo.

“O papel do histórico produtivo é mostrar para quem está fornecendo o crédito o que esperar daquele produtor. Nós sabemos que as primeiras safras tendem a ser mais arriscadas, porque o agricultor vai precisar aprender aquela cultura, aquele bioma onde ele está plantando, o que funciona e o que não funciona… as primeiras safras tendem a ser as piores nos índices produtivos”, Luiz elucida.

“Por outro lado, um produtor que tenha feito milho e soja, safra e safrinha, nos últimos cinco anos, dificilmente vai decidir plantar outra coisa de forma repentina. Se desejar mudar, ele vai primeiro experimentar em um talhão, enquanto segue com as culturas principais nos outros. Ter essa visão global ajuda a mitigar os riscos da concessão de crédito, e quanto menor é o risco, menor é a taxa”.

Se engana quem pensa que as imagens de satélite auxiliam apenas ao crédito na agricultura, a pecuária extensiva também se favorece desta ferramenta. A análise de capacidade de geração de biomassa no pasto é o melhor indicador de quantas cabeças de gado podem ser criadas naquela propriedade de forma sustentável, respeitando as variações dos estágios em que o criador atua (cria, recria ou engorda) e os tipos de capim cultivados. Por meio das imagens de satélite é possível calcular tudo isso sem precisar se deslocar até a fazenda.

Outros fatores fundamentais podem ser analisados

Nos últimos anos, a visão ESG tem sido colocada como parte fundamental na avaliação dos produtores rurais, especialmente para a concessão de crédito, e um olhar atento tem se voltado às áreas de proteção ambiental existentes nas propriedades rurais.

Através dos satélites é possível monitorar a biomassa na área de proteção ambiental e acompanhar a sua evolução de acordo com os padrões esperados para aquela vegetação nativa. A quebra nestes padrões é um alerta importante de que aquilo precisa ser observado mais de perto.

“É uma das formas de acompanhar o compliance daquele produtor. Os mercados de capitais no exterior são mais exigentes nas métricas financeiras e socioambientais, lá é comum que investidores de maior impacto optem por tomar mais risco fornecendo taxas menores aos produtores que apresentam métricas ESG muito boas. Não demora muito para que essa realidade também chegue ao Brasil, e o produtor precisa estar preparado para conseguir ter acesso a melhores condições”, Matthias reforça.

Este monitoramento de compliance e questões ambientais deve ser constante, mesmo após a concessão do crédito, assim como o monitoramento do risco operacional.

Dados fornecidos por satélites e outras ferramentas auxiliam no acompanhamento do cultivo e do desenvolvimento da lavoura, além do monitoramento de riscos climáticos e/ou de pragas. Em situações como quebra de safra, por exemplo, ações de cobrança ou renegociações podem ser tomadas mais rapidamente, garantindo uma abordagem mais amigável com o produtor e mais efetiva para a cobrança daquele crédito.

Crescimento sustentável das revendas

As revendas entregam ao produtor rural soluções e insumos, que quase sempre estão atreladas ao capital para financiar, da melhor forma possível, o ciclo de safra. A aproximação do mercado com o campo ainda tem uma jornada grande pela frente, que demanda educação e aproximação, e as revendas, assim como cooperativas e indústria, têm papel fundamental neste novo cenário.

“Quem fornece o crédito nas revendas, cooperativas ou indústria, precisa ter em sua mão as melhores ferramentas e usar a tecnologia a seu favor, assumindo um papel de coordenador ou gerente de crédito. São eles que têm um conhecimento profundo do produtor e da região, são eles que têm acesso aos dados relevantes na concessão do crédito. Mais informação gera mais transparência, confiança e conhecimento sobre os riscos assumidos”, comenta Rodrigo Esteves, COO da Tarken.

“Com o uso da tecnologia, de softwares elaborados especificamente para estes fins, é possível transformar o processo de tomada de crédito do produtor rural em algo mais rápido e mais barato, já que os analistas de crédito vão concentrar sua força de trabalho na análise das informações e não na coleta de dados. Assim é possível fornecer limites e taxas mais coerentes e criar um portfólio bem equilibrado, que possa ser financiado ou securitizado pelo mercado financeiro ou pelas fintechs e outros mercados de capitais”, finaliza.

O ambiente competitivo do agro busca cada vez mais velocidade na aprovação do crédito, onde o desenvolvimento rápido e eficiente de uma proposta tornou-se um critério muito relevante para o setor, e a utilização de mais tecnologias que atuem da porteira para fora vem galgando seu papel no futuro do crédito no agronegócio. Ciente disso, e com seu DNA tecnológico e inovador, a Tarken disponibilizou gratuitamente em sua plataforma um curso prático sobre 5 inovações tecnológicas para análise de risco de crédito no agronegócio, trazendo essa e outras inovações do setor e contando com grandes nomes do mercado Agro e Financeiro.

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