A manutenção preventiva dos sistemas elétricos das máquinas requer do técnico de manutenção capacidade para realizar tais serviços
E não basta entender apenas de elétrica, mas também de eletrônica e computação, que representam uma nova profissão, como a mecatrônica. Com isso, a manutenção dos sistemas elétricos das máquinas requer do técnico de manutenção capacidade para realizar tais serviços.
A seguir, abordaremos algumas dessas atividades, especificamente do sistema elétrico, sempre voltadas para manutenção preventiva.
Assistência contínua
Mesmo no maquinário mais antigo, a eletricidade já se fazia presente: nas luzes e na sinalização, e no sistema de partida do motor; utilização que ainda permanece no maquinário, juntamente com toda a tecnologia eletroeletrônica presente nos dias de hoje.
O sistema de partida, que está em todos os maquinários providos de motor de combustão, também é onde deve ser o início da manutenção preventiva dos componentes e conjuntos eletroeletrônicos.
A eletricidade fornecida para o sistema é da bateria. Aí temos os primeiros itens de manutenção: verificação das condições do componente quanto a vazamentos da solução eletrolítica, se não apresenta dilatação das placas e da carcaça, conexões dos bornes e terminais quanto à presença de correção ou de uma substância danosa identificada como zinabre.
Além disso, os serviços que devem ser executados na bateria necessitam de cuidados especiais, pois há riscos de faíscas, combustão violenta, e contato com substância ácida. Portanto, são necessárias pessoas preparadas e a utilização de EPI adequado.
Tais serviços nos sistemas elétricos das máquinas agrícolas envolvem limpeza e descontaminação ou, se for o caso, substituição dos bornes e terminais de conexões; verificação do nível do eletrólito – atualmente esse item não é mais necessário em alguns tipos de baterias (blindadas) –; e, por fim, os testes de verificação de carga e tensão elétrica da bateria. Após a bateria, segue-se na sequência os cabos elétricos de maior espessura, que ligam os terminais negativo e positivo, no chassi e motor de partida respectivamente.
Também devem ser verificadas as condições de aperto e fixação corretos e quanto à presença de zinabre. Com a utilização do multímetro devem ser realizados os testes de continuidade e tensão nos pontos de fixação. O próximo item a ser inspecionado e testado é o motor de partida.
Cuidados com o motor
Componente eletromecânico, o motor de partida requer manutenção preventiva bastante cuidadosa. Para realizar tais serviços são necessários conhecimentos elétricos e mecânicos do componente. Então, abordaremos primeiramente como funciona tal componente.
Ele é composto por um motor elétrico de baixa tensão (12 volts), mas de grande consumo de carga (mais de 120 amperes), energia fornecida diretamente da bateria, que é energia elétrica contínua, ou seja, polarizada (negativo e positivo), sendo que o negativo está presente na carcaça metálica e o positivo é através de um cabo espesso, que liga o borne da bateria ao conector do motor. Por ser de grande consumo, o contato para ligar o motor exige um relé auxiliar de partida, conhecido no ambiente de oficina como “automático de partida”.
Também se faz necessário um dispositivo de engrenamento, para possibilitar o acoplamento do eixo do motor elétrico na engrenagem junto ao volante do motor de combustão, bem como um dispositivo para realizar o desacoplamento quando o motor de combustão entra em funcionamento. O relé auxiliar de partida também é um componente eletromecânico, e o dispositivo de acoplamento e desacoplamento apenas mecânico. Agora, vejamos quais manutenções se fazem necessárias.
Sempre seguindo a sequência do circuito elétrico, observamos que o cabo elétrico da bateria é conectado no terminal do relé (automático de partida), que requer manutenção quanto ao estado de conservação e presença de zinabre. Sempre que for detectada a oxidação por zinabre, o serviço a ser feito é afrouxar a conexão e fazer a remoção do zinabre; atualmente há um produto em forma de spray que pode ser jateado junto ao local e remove rapidamente o zinabre, esse produto é conhecido como “limpa contato” e é de largo uso pelas equipes de manutenção elétrica.
Destacamos a importância de observar se de fato é o “limpa contato”, pois existem outros similares que têm outra finalidades, como: o micro-óleo para pequenas lubrificações, ou ainda um produto desingripante bastante usado na manutenção mecânica.
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Portanto, começamos pela limpeza dos terminais e conexões, e a seguir fazemos o teste do relé, que, por ser um componente eletromecânico, deve ser verificado quanto à presença de folga junto ao eixo que desliza por dentro de uma luva onde há a presença do campo magnético da bobina do relé.
Nos motores mais modernos esse relé é blindado e, por isso, sua manutenção é a substituição do componente. Mas ainda existem motores em funcionamento que utilizam o relé que possibilita desmontagem e verificação do desgaste com possibilidade de troca apenas do eixo interno, ou ainda apenas lubrificação.
Lubrificar componentes que estão sujeitos ao controle de campos magnéticos requer cuidados especiais sobre o lubrificante a ser usado, para que não haja interferências eletromagnéticas. Nesse caso, são recomendados lubrificantes à base de vaselina ou silicone, sendo possível encontrar esses produtos também na forma de spray.
Destacamos que quando não é feita a devida manutenção nesse relé auxiliar de partida e a folga aumenta, o eixo móvel interno poderá desalinhar e, no momento de acionamento travar enxambrado, não acionando o motor de partida.
Quando o operador possui alguma informação, logo percebe, pois ao acionar a chave de partida ele ouve apenas um estalo forte – No Sul costumamos dizer que “deu apenas um laçaço” –; é o aviso que o automático de partida está enxambrado. Então o operador desce da máquina, e com um martelo ou outra ferramenta, dá uma leve pancada na carcaça do relé, que libera o eixo desalinhado. Sobe na máquina novamente e vira a chave e o dispositivo funciona e faz funcionar o motor, então brada para os que estão a sua volta: “nada que uma boa martelada não resolva.” Ao que outro emenda: “burro só trabalha apanhando”.
A referência é ao apelido: “burrinho”, bastante conhecido nas oficinas, que é dado ao motor de partida. Esse apelido é devido ao solavanco que executa ao acoplar, e também ao desacoplar, no momento de acionamento.
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É evidente que tal procedimento está completamente inadequado, e embora ainda seja usado, não possui nenhuma recomendação técnica. A tal “pancada no burrinho” já ocasionou muitas vezes a quebra do componente. O recomendado é a manutenção e reparo da peça com desgaste, conforme anteriormente descrita.
É composta por uma haste, uma alavanca interfixa apoiada no centro através de uma bucha na carcaça do motor de partida, sendo na outra extremidade encaixa em uma luva deslizante que se desloca sobre um estriado tipo rosca sem fim, para deslocar o pinhão no sentido de acoplamento.
Todas essas peças estão sujeitas a desgastes e necessitam de lubrificação, principalmente nos modelos mais antigos, pois os mais atuais já possuem lubrificação permanente, e a manutenção consiste na substituição do conjunto completo.
Lubrificação segura
A lubrificação deve ser com uma graxa específica e sem exageros. Tal serviço deve ser executado sempre quando da revisão do conjunto completo do motor de partida, pois requer a abertura total do conjunto. Nos climas úmidos e frios recomenda-se que seja feita no período de entressafra, ou no final de inverno, pois quando não executado acaba ocorrendo pane logo nos primeiros dias de uso após os dias frios.
O motor de partida, que é elétrico, também necessita de revisão e testes, os quais estão relacionados a desgastes dos mancais do eixo principal e substituição dos rolamentos.
Também devem ser verificadas as condições eletromecânicas de componentes, como escovas e dispositivo de fixação das mesmas, bem como o terminal rotativo tipo coletor. A periodicidade de tais serviços deve seguir as recomendações do fabricante, pois são bastante variáveis.
Componentes eletroeletrônicos
Ainda complementam os serviços de manutenção dos sistemas elétricos das máquinas agrícolas a verificação das condições de funcionamento das luzes e sinalizações, bem como a fiação e conexões.
É importante destacar que no maquinário atual a presença de componentes eletroeletrônicos é bastante acentuada, com a presença de diversos tipos de fiação elétrica, também identificadas como chicote elétrico, e que necessitam de vários tipos de conectores, para os quais o técnico de manutenção deve verificar com bastante acuidade quanto a presença de umidade ou zinabre, bem como a vedação correta das blindagens.
Mais uma vez reforçamos a importância desse procedimento, pois não raras oportunidades presenciamos conectores defeituosos ou trincados pela ação das condições climáticas de mudanças brusca de temperatura e umidade, que fazem surgir trinca no material dos conectores. Isso acarreta sérios problemas, principalmente se o conector faz parte de componentes eletrônicos que necessitam de informações de alta precisão de medidas eletroeletrônicas.
Por fim, o último componente que requer cuidados de manutenção preventiva nos sistemas elétricos das máquinas agrícolas é o alternador. Responsável pela geração de energia elétrica para toda a máquina, é um componente eletromecânico. Seu acionamento é feito através de polia e correia acionadas externamente pelo motor de combustão.
Portanto, assim que o motor inicia seu funcionamento, o alternador começa a alimentar todo o sistema elétrico e, em paralelo, a carregar a bateria.
A manutenção preventiva desse componente deve ser a inspeção e verificação das condições da correia de acionamento, bem como do alinhamento e tensionamento. Quanto ao componente devem-se verificar os testes de carga e tensão e situação do regulador de tensão, pois também está sujeito a sofrer oxidação e ao surgimento de zinabre, sendo necessárias as providências citadas para tais casos.
Serviços de manutenção preventiva dos sistemas elétricos das máquinas requerem bastante cuidado e bons conhecimento de eletricidade, pois oferecem riscos de centelhas e faísca, quando não executados com os devidos procedimento de segurança. É bom lembrar que o combustível dos motores é inflamável e, portanto o risco de incêndio está sempre presente. Porém uma coisa é certa: são serviços indispensáveis para manter o maquinário em pleno funcionamento.
*Joel Sebastião Alves é instrutor de operação e manutenção de máquinas e implementos agrícolas e rodoviários
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